segunda-feira, 19 de março de 2012

A Confusa Corrida Republicana

  

         Mitt Romney, o líder na disputa de delegados para a Convenção de Tampa, na Flórida, do Partido Republicano, é por vezes apresentado como o vencedor designado para a nomination. No entanto, um exame da campanha até agora tem evidenciado que essa suposta inevitabilidade não tem sido corroborada pelas primárias, dado o  comportamento da militância no GOP.
        Depois da fase inicial em que diversos rivais havidos como adversários temíveis para a designação emTampa foram sendo varridos seja pela falta de apoio (Michele Bachmann), seja por escândalos anteriores (Herman Cain), seja por deficiência de preparo (Rick Perry), o pelotão de candidato se reduziu a quatro: Mitt Romney, Rick Santorum, Newt Gingrich e Ron Paul.  Desses restantes, a participação do libertário Paul se destina apenas a ter na Convenção posição para influenciar na elaboração da plataforma do partido. Já o conservador Newt Gingrich, que venceu na Carolina do Sul vem colecionando derrotas. Malgrado a sua fama de Rasputin – o monge russo que muito resistiu às tentativas dos seus assassinos -, crescem os indícios de que a sua permanência no corrida tende a tornar-se insustentável.
      Se não surgirem outros candidados na Convenção – como é o propósito de Sarah Palin, a companheira de chapa de John McCain em 2008 -, o que se afigura improvável, a competição se arrastará entre o endinheirado Mitt Romney e o conservador Santorum.
     Mitt Romney tem certa folga no número de delegados já conquistados, mantendo certa distância dos totais de Rick Santorum. Romney acaba de ganhar em Porto Rico (20 delegados), com folgada maioria sobre os demais concorrentes.
    No entanto, com exceção da Flórida, o ex-governador de Massachusetts tem malogrado no Sul. Em sucessivas primárias, a campanha milionária de Romney não consegue trazer o eleitor sulista, de estampo conservador, para o seu campo. Mesmo contando com a divisão dos sufrágios conservadores entre Santorum e Gingrich, Mitt não pôde registrar nenhuma vitória naquela região, que é considerada fundamental para o GOP, se deseja alcançar o número indispensável de votos para ganhar o pleito indireto  dentro do esquema do colégio eleitoral.  A esse respeito, semelha oportuno lembrar que George Bush Jr., por exemplo, apesar de ter menos quinhentos mil votos do que Al Gore na eleição popular, ganhou no colégio eleitoral, por força da inédita decisão da Corte Suprema de interromper a recontagem de votos na Flórida, o que assegurou esse estado - e a discutível vitória na eleição indireta - para o candidato republicano.  
     É inteligível, por conseguinte, a inquietude na direção do GOP quanto à possibilidade de que os dois principais rivais – Romney e Santorum – cheguem à Convenção, sem o número indispensável de delegados para decidir de antemão a indicação partidária. Tal cenário seria deveras inusitado.Com efeito, desde 1976 que tal não se verifica.
     Conquanto se assevera que dada a sua atual vantagem – Romney tem 515 delegados contra 252 de Santorum , Gingrich (131) e Ron Paul (48) -  seria imputável ao ex-governador de Massachusetts a causa do fracasso, na realidade as coisas não são assim tão simples.
      A má-vontade da militância partidária (ao contrário das simpatias da direção do  GOP) contra Mitt Romney se manifesta desde o início da disputa. Aglutinam-se em torno de Romney cerca de 25% das preferências, mas há uma massa insatisfeita que tende a procurar possíveis candidatos como substitutos para a postulação republicana.
     Assim sendo, a campanha de Romney  que congrega diversos apoios relevantes na hierarquia do partido é a mais bem-organizada e com incontável maior disponibilidade de fundos, mas lhe falta a confiança do militante das bases. Desconfiam da moderação de Romney, de suas cambalhotas políticas, de seu passado empresarial (Bain Capital) e não lhe atribuem o selo de confiável conservadorismo.
      Desses defeitos (consoante a visão do atual militante típico republicano) Mitt não logra livrar-se, o que vem em benefício do contendor Rick Santorum.
      A campanha desse último com a sucessão de vitórias nos estados do Sul – a par de desempenhos surpreendentes como no estado de Ohio – vai amealhando mais recursos e se tornando menos precária do que no passado. A própria imprensa assinala que o ultra-conservador e católico da Opus Dei vai ganhando aparência mais presidenciável com o favor das primárias.
     Mitt Romney continua a ser o favorito, mas se o andor da carruagem não mudar radicalmeente, essa denominação tenderia a ter significado mais hipotético. Ainda é possível que o ex-governador de Massachusetts consiga chegar à Convenção com os mágicos 1144 delegados, que lhe assegurariam a nomination. Sem embargo, se a sua trajetória pelas vindouras primárias não se alterar de modo drástico, a própria candidatura poderá parecer mais debilitada, o que ensejaria planos da brokered Convention (convenção negociada), em que o  Grand Old Party tentaria a mágica de apontar um nominee com mais perspectivas de ganhar em novembro os comícios presidenciais.



( Fontes:  International Herald Tribune, CNN )

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