Infelizmente, a situação dessas duas personalidades não está melhor na atualidade, e tudo leva a crer que no caso da corajosa líder política ucraniana a sua condição ainda possa piorar.
Em vendeta instrumentalizada por Viktor Yanukovitch, adversário político da Timoshenko, e atual presidente da república, ela foi condenada por um juiz singular, Rodion Kireev, a sete anos de prisão, por assinar contratos de gás com a Rússia, supostamente lesivos ao interesse nacional.
Servindo-se de uma dócil justiça, Yanukovitch, próximo do Kremlin, intentou vingar-se das derrotas políticas que sofrera de Yulia, então primeira-ministra, e chefe do partido nacionalista ucraniano. Tal procedimento recende à prática do ditador bielo-russo, Alexander Lukashenko, que se serve com bastante desenvoltura de uma magistratura que desde muito, no seu afã de agradar ao tirano, se desvencilhou de qualquer máscara de exação e imparcialidade.
Pela manifesta motivação política da sua condenação por juiz subserviente, a União Europeia verberou o ato. Por outro lado, os Estados Unidos iriam mais tarde pedir a liberação da ex-Primeira Ministra.
No entanto, o Presidente Yanukovitch não semelha satisfeito com a punição infligida à chefe da oposição. A maioria governamental, decerto industriada pelo Palácio, resolveu radicalizar ainda mais no seu ataque à Timoshenko.
Agora a ex-Primeira Ministra – cujo estado de saúde, pela dureza do cárcere, desperta preocupação – se vê objeto de um processo que relembra, pelo seu cinismo, as antigas ações movidas nos anos trinta contra velhos bolcheviques pelo ditador Stalin. Ironicamente, a bancada de Yanukovitch no parlamento ora a increpa de alta traição nas negociações com a Rússia acerca da importação de gás em 2009.
Algum recém-chegado a essa estranha república poderia estranhar a acusação, eis que vem de parte conhecida como pró-Rússia, e se dirige à líder do partido nacionalista ucraniano.
Todos sabemos da verdadeira intenção dos deputados oficialistas, quando da alegada corrupção em acordo internacional se eleva brutal e sinistramente o diapasão e as implicações da sanha persecutória dos aliados de Yanukovitch.
Compõe esse cenário um outro particular que para o observador diplomático carrega ameaça quiçá ainda maior.
Com efeito, ao invés de a notícia estar estampada com destaque em primeira página, a sorte da pobre lutadora com a sua afirmativa trança camponesa parece ainda mais ensombrecida pelo mínimo espaço que lhe dedica a imprensa. Sob o chocho título “A Ucrânia aumenta a pressão sobre antiga Primeira Ministra” a matéria é apresentada, em escassos três parágrafos, em que mais pelo que não dizem espelham uma inaceitável baixa prioridade do assunto e, por conseguinte, não acenam nem de longe com o repúdio que tais desígnios fazem por merecer.
É mais do que hora de denunciar este ulterior acirramento da perseguição política, e de fazer sentir ao senhor Viktor Yanukovitch os riscos incalculáveis que corre ao açular os seus mastins no legislativo contra a briosa e popular líder da oposição na Ucrânia.
A húbris do poder não pode valer-se de circunstanciais maiorias para espezinhar a adversária. A democracia já reserva aos perdedores a inconveniência do afastamento temporário – mas não definitivo – das instâncias de mando. Só os tolos e os fracos de mente pensam que o seu poder é permanente. Assim, a falta de respeito ao antagonista é campo mais do que propício para a própria ruína, que cedo ou tarde virá cobrar o terrível preço das injustiças cometidas.
Seria recomendável que o senhor Yanukovitch tivesse presente tais realidades que ,se lhe parecem comezinhas estão, no traço incerto da História, monotonamente transcritas nas suas páginas.
( Fonte: International Herald Tribune )
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