Decerto, já vai longe o tempo do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o heróico partido de oposição, daqueles que, a exemplo de José Sarney e tantos outros, não gostosamente aderiram ao partido do governo militar, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que mais adiante teria outros nomes, sempre ao talante dos amos castrenses, e na vã busca de novas denominações que a livrassem de passadas derrotas.
Fiel às origens, o MDB contornaria a compulsória troca de uniforme, com o simples adendo de uma letra. Buscava, assim, manter-se fiel à própria origem, o que foi possível, enquanto permaneceu o maniqueismo do regime militar.Com a partida dos generais e a anticlimática presidência do antigo chefe do PDS, se iniciou a longa decadência do PMDB. Com a cisão do PSDB, de Mário Covas, o PMDB se tornou menos o partido de Ulysses Guimarães e mais o dos caciques regionais, com o avanço de Orestes Quércia.
A morte física do campeão das diretas seria precedida pela ignóbil cristianização de sua candidatura à presidência, no acerto dos coronéis e chefetes regionais do partido, que abriam passagem ao caçador de marajás.
Para que o antigo movimento contra a ditadura, abraçado pelos políticos que preferiram a planície da democracia, ao canto da sereia do poder militar, perdesse a alma um longo e penoso processo de desfazimento se tornaria necessário.
Talvez a já hoje célebre entrevista do Senador Jarbas Vasconcellos, um antigo autêntico, acerca do partido a que nominalmente pertence, embora não mais o reconheça, tenha marcado um decisivo patamar na lenta descida do PMDB, eis que a direção acordou responder pelo silêncio às tonitruantes declarações do político pernambucano à revista Veja.
O PMDB, sob Lula da Silva e agora Dilma Rousseff, lembra monstro esfomeado, que há muito abandonou qualquer resquício ideológico. É o cerne dessa notória base de apoio do governo, que mais está interessada em favores e benesses, do que em colaborar em sério programa governamental.
Cobra caro à administração petista, e ainda mais ao país, por seus votos e apoios em aliança que tem de ser cevada a cada passo, sob pena de pontuais traições e de represálias, em que, sob pretexto de vingança, a bancada não trepida contrariar projetos acalentados pela grande maioria da sociedade civil.
Teremos acaso exemplo mais clamoroso dessa disjunção autista do interesse nacional, em troca do favorecimento de míopes ruralistas, que a ameaça de líderes desse PMDB em desfigurar ainda mais um Código Florestal, que busca na versão do Senado, guardar alguma semelhança com o sentir ambientalista da opinião pública?
Para que não se tenha dúvida da realidade do desígnio, a bancada no Senado cuidou de mandar o pontual aviso. Pode ser até que a recusa tenha fundamento, dada a pletora de acusações contra o candidato à recondução na diretoria-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Sem embargo, a votação secreta se moveu por outros designios, que pouco têm a ver com as motivações ostensivas.
Não se deve discutir sobre o direito do Congresso de valer-se de suas prerrogativas. Nada mais democrático e oportuno do que isto. Mas tais iniciativas não carecem de ser empregadas como avisos de outras represálias, no caso de falta de atendimento de exigências fisiológicas.
Compreende-se a dificuldade do governo Dilma em lidar com essa herança do sistema político adaptado pelo seu antecessor e criador, o presidente Luiz Inacio Lula da Silva. Para quem não tem um programa efetivo para o crescimento de nossa economia, isso se torna ainda mais dificultoso.
Enquanto as necessárias escolhas não forem enfrentadas, será mister conviver com essa famélica base de apoio, tentando o impossível, vale dizer nela acomodar a mula-sem-cabeça do atual PMDB.
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