Nunca saberia se ela o encarou por acaso, ou movida por natural faceirice. O fato é que ao fitá-lo logo muda de atitude. Intenta, é verdade, disfarçar o interesse, mas estranha lassitude dela toma conta. Como se, de súbito, se vá transformando em livro aberto. Uma atração indefinida a empurra para ele. Sente ser algo que lhe é superior. Para sua surpresa, ela se deixa levar. E os olhos de novo se encontram. Num átimo, sensação de total abrangência. É uma impressão forte, demasiado forte para que se possa contrariar. Diria que um frenesi a investe. Súbita, inelutável experiência de plenitude a dois.
O entorno não tem importância. Ambos se descobrem querer partilhar segredos, porém a dois. Será guiado por tal certeza que Alberto a aborda, e a toma pelo braço. Quiçá o incomode o resquício de um escrúpulo. Que como tímida e matinal bruma logo se desfará sob o calor do instinto que se alevanta.Sem qualquer reação, ela se torna um prolongamento dele próprio. Ainda não trocaram palavra, mas já formam um casal.
* *
Alberto, querido,
Com o amor da
Lúcia Maria
* *
Que chato, murmurou. Talvez tenha ido com muita sede ao pote. Quem sabe se maneirasse um pouco mais, ela não sentisse esse desconforto, essa impressão de haver sido arrastada a fazer coisas que normalmente não faria com tal presteza ?
Por isso, achou mais prudente não forçar a barra. Chamaria mais tarde, e pelo celular. Seria melhor para sondar o terreno. * *
( A continuar )
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