segunda-feira, 26 de março de 2012

Primárias Lá e Cá

                              
A Magra vitória de Serra


         Todo o exercício da primária no Brasil – planta aqui exótica e de escasso uso – será questionável, por não corresponder às usanças da terra. Foi assim no PT, em que a insistência de Suplicy no recurso à primária para determinar-se o candidato do partido em 2002 provocou compreensível estranheza em Lula, que nunca iria digerir o episódio.
       A primária em São Paulo para decidir acerca do candidato do PSDB à prefeitura poderia até fazer sentido, se fosse disputa entre os cinco pretendentes anteriores, nenhum deles com feitos assinalados para cargos executivos.
      Mantê-la a ferro e fogo quando se concretiza a participação de José Serra representou desatino político e um desperdício de tempo e dinheiro.
      O resultado da consulta foi desatino político porque submeteu o postulante à presidência da república, com 44 milhões de votos em segundo turno, a  inútil refrega com dois concorrentes sem nenhum título equivalente – ou mesmo vitória em cargo político executivo – a mostrar em sua fé de ofício.
      Nesse sentido, os 52% dos sufrágios não surpreendem em  pleito no qual Serra entrou de má-vontade e na undécima hora. Sem cultivar esse eleitorado, semelha despropositado que se esperassem percentuais mais inflados na sua aprovação.
     Esta é uma vitória de Pirro, menos para os dois rivais, que gozaram dos seus quinze minutos de notoriedade, do que para o próprio PSDB, que, gratuitamente, por decisão do Governador Geraldo Alckmin decidira ir em frente com a inútil prévia. O desacerto fê-la beirar a possibilidade de afastar o único candidato com reais possibilidades de vencer (hipótese nada abstrata, pela exiguidade da maioria absoluta de Serra), a par de fornecer munição para os ora pequenos rivais dos demais partidos, que anseiam por oportunidade de subir nas pesquisas, servindo-se do inepto espetáculo tucano como conveniente degrau.
 

A trabalhosa travessia de Mitt Romney


      As declarações do ex-governador Jeb Bush (irmão de George W. Bush) eram esperadas, e por isso não surpreendem. Desde muito, o quartel-general de Mitt Romney por elas aguardava com ansiedade. O respeitado ex-governador da Flórida tardou em mostrar a própria preferência. Ao ensejo de um previsto triunfo de Romney,  Jeb veio conclamar os concorrentes – o que, na prática, singulariza Rick Santorum, por ser o único com alguma chance de estragar a festa do ex-governador de Massachusetts – a que abandonem as contendas intestinas e que se unam na Convenção, sufragando o nome de Mitt Romney.
      Não é segredo que o estamento do GOP favorece o moderado Romney. Malgrado a última vitória de Rick Santorum na Lousiania, o seu número de delegados (261) não ameaça a liderança de Mitt, que tem 568 e pode tecnicamente atingir os 1148 delegados necessários para arrebatar a nomination, sem mesmo a consulta à Convenção de Tampa. Assinale-se que os dois outros concorrentes não têm perspectivas de arrebatar a indicação partidária. Se o libertário Ron Paul prossegue na sua corrida apenas para marcar posição e ter uma que outra dádiva da plataforma republicana, parece difícil atinar com válidas razões para que Newt  Gingrich continue na campanha, com os seus 137 delegados e um desempenho cada vez mais medíocre.
        A direção do Partido Republicano desde muito se conscientizou de que deverá conformar-se com o moderado candidato Mitt Romney, que tem os fundos de campanha mais bem fornidos, posto que seja rebarbativo para a militância conservadora do GOP. Por isso, a voz de Jeb Bush, que se agrega a Chris Christie e muitos outros dirigentes, era esperada e produz o matizado efeito dos antecipadados movimentos.
       Rick Santorum, o ex-Senador pela Pennsilvania, traz na sua bagagem aquilo que falta na do mórmon Romney: ele tem o apoio do Sul conservador – aquele que antes sufragava os democratas por lembranças da Guerra Civil – o que a hierarquia do GOP reputa, por provadas razões, indispensável para um candidato republicano que deseje derrotar o presidente Barack Obama.
      Agora, Santorum resolver tirar do baú outra suposta fraqueza de Romney. Como é sabido, enquanto governador de Massachusetts, Mitt fez o estado adotar uma legislação de plano de saúde que tem grande parecença com o abominado (para os republicanos) Obamacare, i.e., o Plano Geral de Assistência Sanitária votado pelo Congresso Democrata na última legislatura, antes de que a Casa de Representantes passasse a ter maioria republicana.
      De acordo com a sua natureza – e aí está outra razão para as desconfianças da militância do GOP – Mitt Romney não trepidou em renegar a sua criatura, que agora – a despeito de bem-sucedida no seu estado – considera um erro. A moderação de Romney, a sua atividade em Wall Street e na notória Bain Capital, o enfraquecem não só no Sul profundo, mas também  sua suposta fidelidade ao conservadorismo o tornam um candidato bastante dúbio para o eleitor republicano, nele incluídos os reacionários e os ultra-conservadores do Tea Party.
      Mas a famosa brokered Convention – convenção negociada – é havida como coisa impensável, o que afasta a possibilidade de alguma ave de voo curto mas pouso certo se apodere da designação partidária, e tente compensar os inúmeros defeitos do atual plantel de postulantes do Grand Old Party por uma seleção de alguém até hoje fora do tiroteio da campanha.



( Fontes:  Folha de S. Paulo,  CNN )    

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