segunda-feira, 26 de março de 2012

CIDADE NUA V

O Espelho  Mágico (11)


        O percalço da livraria se agarrou na memória, a ponto de tirar-lhe a segurança. Por mais de uma vez arrefeceu caminho em procurar nova experiência. Algum imponderável o atrapalhara. Bastaria um olhar que não lhe fora dado... Ou será que a atenção malevolente dos assistentes tivesse trazido maus fluidos para a moça, como se a predispusesse negativamente à tentativa ?
       Mais pensasse sobre a questão, e mais absurda lhe parecia a conclusão. De que jeito poderia ela ter-lhe pressentido o interesse ? Ignorava, mas quem descartaria a intuição feminina a captar-lhe a observação que de forma imprecisa mas sensível suspeitasse estar rondando de perto ?

                                                 *      *

        Meu Amor,

        não sei onde andava com a cabeça, mas nem me lembrei de  pedir o teu e-mail. Escrever pelo correio hoje é uma coisa quase ridícula. Fiquei rindo sozinha, como uma louca, na fila do correio. Só para postar a cartinha com essa estranha súplica... E juntos vão um beijo e o papel com o meu e-mail. Responde rápido,

                                                                                              Graça.
                                               
                                                                 *      *                                   
    
        Mandou logo a resposta. Não que alimentasse ilusões sobre reencontro em breve. Uma coisa tinha sido a experiência do casal no Rio, que galopara como se fosse  sonho. A intensidade do caso, sentida tanto na própria rapidez, quanto na exclusividade dos contatos. Um affaire a dois, sem intrusos.
         A única exceção havia sido um garçom que o fitara de modo esquisito, com jeito de quem não está acreditando no que vê. Por cima disso, o malévolo sorrisinho de quando entreouviu que ela partiria naquela noite...
        Como lidar com terceiros, eis pergunta que lhe importunava deveras.
        Meditou um pouco, mas logo se convenceu de que a única resposta possível era a de Scarlet O’Hara: pensarei nisso amanhã.

                                                 *      *


 

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