segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Folhetim de Fim de Semana

                                 

Estranha orientação empresarial

 
        O caso de Eliane Cantanhêde me relembra o de Danuza Leão. A fortiori, concordo com as observações da Ombudsman Verá Guimarães Martins.

        Não faz sentido cortar os bons valores – justamente aqueles que dão qualidade ao jornal – sob essa regra estulta de que são mais onerosos para a Folha.  Se tal orientação prosseguir, não sei quem virá a substituir os bons profissionais, mas posso assegurar que todos perderão: o leitor a quem se priva de uma pena de qualidade no respectivo setor de atividade e comentário; o nível do jornal, que não mais contará com a colaboração de profissional de primeira plana. O empobrecimento qualitativo do jornal é a consequência imediata.

        O que a Folha deve preservar é  colaborador com qualidades que alavancam as páginas do jornal para comentários e percepções acima do usual. O paradoxal nesta anti-orientação empresarial está em desvencilhar-se de jornalista porque custa caro. Com isso, o jornal dá um tiro no pé, a começar pela circunstância de que o diretor encarregado do corte o faz sem levar em consideração o número de leitores que a alta qualidade do(a) profissional atraía e mantinha.

        No caso, a burrice do corte é dupla: prejudica o jornal e indispõe o leitor. É difícil mensurar, entre outros atributos, inteligência e conhecimento, e pensar que os colaboradores são intercambiáveis.

        Além disso, se tal orientação fosse tão boa, porque ela não é praticada em grandes jornais, a começar pelo maior deles, cujo endereço fica em Manhattan ?

 

A Coluna de Ricardo Noblat

 

       A segunda-feira costuma ser  dia em que as edições dos jornais não se caracterizam por um brilho especial. Depois da farra dos números dominicais, de seus artigos e suplementos especiais, há um certo vezo de tratar os números de segunda-feira com a mesma atenção, boa vontade e disposição que os funcionários e empregados costumam reservar para o primeiro dia útil da semana.

       Essa segunda-feira não é exatamente decantada em verso, nem elevada aos prazeres e encantos que o álbum popular sói dedicar aos deleites e sortilégios do fim de semana.

       Nesse contexto, a qualidade da coluna de Noblat se diferencia da característica de um dia que parece um pouco jejuno em termos de assuntos novos, originais, como se a carraspana do fim de semana ainda não estivesse de todo curtida.

       Sei que ao fazer tal comentário me exponho a enormes riscos, ficando a descoberto para os que Nelson Rodrigues chamava de idiotas da objetividade. Mas que seja, eis que a excelência e a originalidade são características que não dão exatamente com o pé – feitas todas as exceções requeridas pelos fiscais de plantão.

       Nesse contexto, é bom distinguir entre os que acompanham a toada e dançam conforme a música, e aqueles poucos que saem a descoberto, levantando assuntos ainda não versados, ou – o que é melhor ainda – enveredando por ângulos a que não se reservara seja a atenção, seja a análise mais detida e por isso mais bem estruturada.

       Não é, assim, por acaso, que a segunda página de O Globo, na morna edição da segunda-feira, será logo aberta e esquadrinhada no seu canto direito.

       Com serena firmeza profissional,  Ricardo Noblat convida Dilma a descer do palanque. Embora estivesse na Austrália, a Presidenta achou oportuno deitar falação sobre a Lava-Jato.

       Basta, a propósito, transcrever: “ Na Austrália, do outro  lado do mundo, sob o efeito do fuso horário, talvez, como se ainda estivesse em cima de um palanque,(...) a presidente Dilma Rousseff concedeu sua primeira entrevista coletiva sobre o arrastão de donos e executivos de empreiteiras que marcou na semana passada mais uma etapa das investigações sobre a roubalheira na Petrobrás. Perdeu uma rara oportunidade de ficar calada.” 

       A exação verbal é qualidade que desde muito vejo acompanhar o jornalista Ricardo Noblat. Recordo-me, a propósito, de programa em que o então poderoso político baiano Antonio Carlos Magalhães passava indene pelo ‘Roda Viva’, da tevê pública. Com uma única exceção.  Presente, Ricardo Noblat, entre diversas anódinas qualificações de ACM, pespegou-lhe, como se nada fora, o adjetivo ‘truculento’.  Foi o que bastou. Antonio Carlos Magalhães passou o resto do programa a tentar desvencilhar-se do epíteto. 

       Como lhe caía qual uma luva, o esforço foi debalde.

 

( Fonte:  O  Globo, e o programa ‘Roda Viva’ )

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