sábado, 1 de novembro de 2014

Estelionato Eleitoral ?


                   

       A coluna de Miriam Leitão constitui o tipo de verdade ominosa, aquela que sabemos sobrepairar-nos , mas que por conveniência (ou erro), ou até por superstição (a cidadania) preferimos represar, como se o desconhecimento a tornasse um pouco menos grave e, por conseguinte, menos insuportável.

       Esperávamos no mágico remédio da eleição. Infelizmente, no caso, elas já são história. Registraram, é verdade, um grande esforço dos candidatos de oposição – Marina e Aécio Neves. A primeira pedra no caminho foi quase fácil para o PT e sua candidata Dilma Rousseff afastar. Depois do medão inicial, nada como a propaganda oficialista para desconstruí-la e despedaça-la -  e impiedosamente. Diante do aparelhamento das estruturas estatais – doze anos não passam em vão – os seus efeitos já eram previsíveis. Mas o mal não estava só aí, mas também na patética fraqueza da estrutura (?) partidária que sustentava Marina. Desprotegida, as suas verdades para auditórios menos enfronhados da realidade não passaram de frágeis tendas que não podiam arrostar a pujança da propaganda e, sobretudo, contrapropaganda oficial e oficialóide.

       Mentiras é palavra a um tempo veraz e igualmente insuficiente, porque não lograria pôr por terra  - e como poderia no silêncio imposto pelo desequilíbrio legalmente criado  – as armações do Poniatowski atual para encobrir a realidade ?  A diferença é que hoje a soberana sabia de tudo, e o intuito era desmanchar a mensagem da oposição, por demasiado verdadeira, na cabeça do Povão, que, por compreensíveis razões, as aceitariam alegremente.

       E assim foi. O outro candidato da oposição não imitou o seu predecessor em 2010, mas tal não lhe foi bastante, por se ter esquecido de sua terra natal.  Antes lá tinha conseguido cristianizar[1] o rival interno. Nesta eleição, a soberba – apesar de oportunos avisos – o fez esquecer Minas, como se fora seu feudo. Daí, o mecanismo do aparelhamento do Estado – e as sequelas da bolsa-família – cuidaram do resto, assegurando para governante que não enchia as medidas da avaliação das classes mais enfronhadas da realidade nacional – pudesse arrancar em resultado decerto apertado, mas determinante,  a vitória e mais quatro anos de  governo que, guardadas algumas diferenças, vai sempre mais se assemelhando ao neossindicalismo chavista, que ora pesa sobre nós.

       Daí, os dados arrolados e comentados pela pena de Miriam Leitão, a despeito de magistralmente expostos, já eram tristemente previsíveis.

        Se a prática indica que o mau governo se reeleito costuma vingar-se  das descobertas – e crescentes – reticências de eleitorado mais empapado da realidade, com a trágica fórmula de mais do mesmo, a democracia nos ensina que, como nas turbulências aeronáuticas, o único remédio será apertar o cinto e rezar por forças alheias à nossa vontade para que a má hora logo passe.

        No futebol, como na política, as regras são claras e inflexíveis. Não adianta  chorar sobre o leite derramado. A faina é dura e a trajetória longa. Mas deve ser encetada como se tivéssemos a certeza de que a saída é possível e está depositada nas mesmas urnas que produziram o resultado do último turno eleitoral.

 

 

(Fontes:  Míriam Leitão – ‘A verdade é teimosa’, e com saudosa recordação de  AFAS).



[1] Verbo surgido por prática da eleição em 1950, quando o PSD (então o maior partido brasileiro) mandou despejar seus votos no candidato Getúlio Vargas, ao invés de seu candidato de legenda, Cristiano Machado.  

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