domingo, 30 de novembro de 2014

Colcha de Retalhos B 44

                             

A Época da Ambição

 

         O livro de Evan Osnos é o resultado de oito anos de vida e reportagem na China. O seu título “Idade da Ambição – atrás da Fortuna, Verdade, e Fé na Nova China” pode dar ao leitor a idéia de que se trata de mais um manual sobre as últimas décadas do experimento China.

        A princípio se tem a impressão de visão um tanto pedestre da China pós-Tiananmen. Mas a narrativa cresce, levada pela amplitude da observação de Osnos, e o leitor vai aos poucos penetrando no dia-a-dia chinês, conduzido pelo conhecimento do  do idioma pelo autor, e da consequente possibilidade de acesso a espaços que em geral estão cerrados ou inacessíveis ao observador estrangeiro que desconheça a língua, tanto falada quanto escrita, do Império do Meio (essa expressão não é mencionada pelo autor).

        Mas por abrir mais portas que se poderia esperar de correspondente ocidental, a visão se vai esgueirando por espaços diversos, e o quebra-cabeças irá crescendo, com imagens que nos aproximam muito mais do estranho regime chinês, em que a contestação explode na internet, dentro de espaços demarcados, mas com a pimenta de oposicionismo que vai até o limite do abismo, o qual como todo báratro só pode ser atravessado uma vez, até que o contestador diga o que não pode ser dito.

        Há vários tipos de dissidente na China, a começar pelos nacionalistas de direita Han Han e Tang Jie, passando pela jornalista Hu Shuli que trafega nas aléias do mercado e das grandes empresas, e o mais vilipendiado deles será Liu Xiaobo, o único Prêmio Nobel do mundo de hoje (pois os nazistas já tinham criado esse espécimen com Carl von Ossietzky) presidiário na afastada Penitenciária de Jinzhou, na província de Liaoning. Sua esposa, Liu Xia, pôde visita-lo, a dois dias da cadeira vazia em Oslo, e por isso está em prisão domiciliar desde então. Ela teve cortado o telefone e a internet, e a única pessoa autorizada a contactá-la seria sua mãe.

         O julgamento de Liu Xiaobo também foi nazista na sua brevidade. Liu teve direito a catorze minutos de intervenção, eis que o juiz lhe cortou a fala pelo meio, sob o estranho argumento de que o promotor só utilizara catorze minutos (tal despautério nunca fora antes empregado). O discurso de Liu termina com uma frase que pode ser pressaga: ‘Espero que eu seja a última vítima nos longos anais da China de tratar palavras como crimes’.

         O que assustou o regime foi a simplicidade da proposta constitucional de Liu Xiaobo e sua conexão com a Carta 88, de Havel, e a revolução de veludo.

         Condenado a onze anos, em condições duras – pelo que se sabe, as prisões chinesas não diferem muito das dos cárceres brasileiros, consoante referidas pela famosa observação do Ministro da Justiça do Brasil, José Eduardo Cardozo – a periculosidade de Liu para o regime se reflete na singeleza do sistema constitucional proposto.

         Como toda ditadura, tem pés de barro. O temor que evidenciou com a Primavera Árabe aflora o ridículo, que está transcrito nas paranoicas instruções dos censores para os correspondentes em Beijing (chegaram ao ponto de proibir a venda de jasmim, por sua conexão com o herói Buazizi e a revolução tunisiana).

         Osnos  nos proporciona ótimas narrativas, por vezes até hilariantes, para reportar a criatividade do internauta, forçado a navegar entre tantos Silas e Caribdes da Censura Oficial. É  existência atribulada a do censor chinês, pela sua luta inglória contra os buscapés da sátira dos dissidentes chineses. O cinismo do oficialismo não persegue apenas ao pintor Ai Weiwei, mas também às miríades de dissidentes como o advogado cego Chen Guangcheng. O seu principal ‘crime’ era o de defender os lavradores contra os abusos dos potentados locais.

        Sua incrível fuga – sendo cego e cercado por  esquema hostil – diz muito sobre a força do próprio ego, na batalha contra um esquema de repressão que no seu caso – por  cálculo aproximativo de Chen implicava no gasto do equivalente a milhões de dólares – acabou por conduzi-lo ao asilo em Consulado americano, e a posterior travessia para os Estados Unidos, em New York.

        Como há de intuir o leitor, é muito interessante e variada a sua descrição da China atual. Outro ponto relevante, está na amplitude da corrupção no Império do Meio, que do Partido para baixo atinge todas as camadas da população. A esse respeito, é importante recordar que Zhao Ziyang[1] punha muita fé – quiçá demasiada – na importância da democracia para combater os ‘mal feitos’. O Secretário-Geral do Partido contava com a liberalização para inviabilizar ou dificultar a corrupção, como aquela que determinaria o desastre do trem-bala D301, em viagem inaugural de Beijing para Fuzhou. Por causa da corrupção do Ministro  Liu Zhijun, e de inúmeros erros na construção do sistema, o sinistro em Wenzhou causou a morte de 40 pessoas e o ferimento de 192.

         As esperanças quanto à liberalização no que toca a Xi Jinping, o atual Presidente, já se dissiparam, dado o seu viés repressivo na mesma linha do antecessor Hu Jintao, como nas mádidas folhas sob o sol matinal. 

         Há, no entanto, na narrativa em apreço omissões, como o tratamento superficial e, mesmo, incidental dos conflitos de origem colonial na China – a sublevação da etnia uighur, na província do extremo ocidental de Xinjiang, e a revolta no Tibet, assim como a influência do Dalai Lama.

          A maior omissão estaria talvez na falta de qualquer menção ao problema da poluição na China. A única referência encontrada está no umidificador que Evan Osnos resolve deixar para trás, após a movimentada estada de oito anos, até 2013, quando enfim regressa aos Estados Unidos, com a esposa Sarabeth...

 

Abandono da   Lei da Responsabilidade Fiscal ?

 

          A Pedra angular da abóbada na luta contra a inflação e a práticas governamentais que a tornam triste realidade está na Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF). Não foi à toa que o PT empregou todos os meios possíveis para a descarrilar, ao ensejo de sua aprovação pelo Congresso de então e a sanção presidencial. Até ao Supremo foram, na sua descabelada tentativa de inviabilizá-la.

          Hoje no Governo há uma luta surda contra a LRF, que, como se fora objetivo de guerrilha, se manifesta, seja aberta, seja com o benefício da sombra.  Um dos objetivos principais dessa lei, é o de evitar o empreguismo desenfreado, muita vez utilizado no passado como meio de propulsar administrações claudicantes. Dessarte, se aumenta a carga com os empregos correntes – prática, de resto, bastante utilizada pelo petismo federal, já com Lula da Silva – com escopos eleitoreiros, que não correspondem às necessidades (e às possibilidades) da entidade federativa.

         Como mostra reportagem de Silvia Amorim, em O Globo, o número de estados em que a despesa com pessoal entrou na chamada Zona de risco da LRF cresceu 70%  de há quatro anos para cá.  Em 2010, eram dez os governadores na ‘zona de risco’ em fim de mandato. Hoje, são dezessete. 

          E é para o Nordeste, uma das regiões mais pobres do país, que vai essa dúbia palma: AL, CE, PE, PB, PI, RN e SE; quatro são do Norte (AP, RO, TO e PA), três do Sul maravilha (PR, RS e SC) e três do Centro-Oeste (DF, GO e MT).

          O Piauí está na dianteira do atraso, com a situação mais grave no âmbito nacional (a despesa com pessoal chegou a 50,04% da renda corrente líquida). Os outros estados em situação particularmente difícil, são Alagoas  (49,8%), Paraíba  (49,6%) e Sergipe (49,6%).

          A Lei da Responsabilidade Fiscal  - que se tem tentado descaracterizar – sofre, por outro lado, de algumas imperfeições – que num governo federal sério poderiam ser corrigidas. Nesse campo de espertezas, anote-se o Rio de Janeiro, que tem gasto com pessoal que, à primeira vista, impressiona favoravelmente. A situação fica muito menos brilhante ao verificar-se que a posição privilegiada se deve ao fato de o governo fluminense  não incluir no cálculo gastos com aposentados. Assim, por um truque infográfico, o RJ de Pezão sai com percentual admirável de pouco mais de 30%.

 

Absolvição de Hosni Mubarak

 

             Na verdade, a absolvição do ex-Presidente Mubarak foi um lento processo, que se confunde com a doença terminal da Primavera Árabe, no Egito. Na verdade, é o desfecho decepcionante de enganosa abertura. Nesse quadro, o início se assinala por  grandes e entusiastas multidões na Praça Tahrir, que conduziram ao seu rápido afastamento do poder, com a respectiva renúncia, a que se seguiu a condenação à prisão perpétua.

            A Fraternidade Muçulmana, que a princípio olhara com desfavor a revolução egípcia – a que perpassou de início um matiz relativamente liberal  - pensou poder apropriar-se do mando, o que conseguiria com a eleição de Mohamed Morsi. Este, no entanto, por um conjunto de erros, tanto próprios, quanto da Fraternidade, perdeu rapidamente o largo apoio popular, e seria afastado do governo – e preso – ao cabo de cerca de um ano. É uma vítima mais da respectiva incompetência, em processo composto pelo doutrinarismo faccionário da velha Fraternidade.

               Foi um fecho decepcionante para o primeiro governo civil desde a queda da monarquia do Rei Faruk, a 23 de julho de 1952,  abatida pela sólita conspiração militar, que levaria em breve tempo Gamal Abdel Nasser ao poder pleno, uma vez afastado o oficial mais antigo que fora chamado a encabeça-la.

               Com o rápido declínio de Morsi, surgiu o general Abdel Fatah el-Sisi, guindado pelo aplauso de correntes populares. A popularidade com que foi brindada a nova administração castrense fez esquecer as anteriores reservas ao domínio do exército. De novo – e muito pela respectiva inabilidade – a Fraternidade Muçulmana está regressando aos porões e aos guetos em que se manteve por longas décadas viva e atuante, malgrado a perseguição dos generais-presidentes.     

 

O  Drama da Nigéria e o avanço do Islamismo radical

 

              A al-Qaida e o radicalismo religioso árabe  avançam não tão lentamente  na África. Na Nigéria, o movimento Boko Haram continua a tomar espaços,r diante do regime corrupto e ineficaz que preside o maior país africano (em termos demográficos) de que a independência fora saudada como um avatar da democracia (começou com assembleias no padrão parlamentar inglês).

              Em um fenômeno com tinturas mundiais, o islamismo radical – na Nigéria, o Boko Haram também reclama um califado – no correr dos meses,  essa surda insurreição nigeriana se manifesta no sequestro impune de jovens mulheres, que semelham destinadas a uniões conjugais em que inexiste a vontade feminina.

             Se não esquecermos o Isis – que vem sendo combatido do alto, mas que permanece no terreno – também a guerra civil na Síria – em que Barak Obama desperdiçou a oportunidade de apoiar no momento certo a  Liga Rebelde (então com boas perspectivas de apressar a expulsão e queda de Bashar al-Assad), para hoje ver-se a braços com as decapitações em série de outro califado embrionário, este na velha terra da Passagem, próxima da Turquia e do Iraque.

             Ainda na África – agora no versante oriental – encontramos o al-Shabab, mais uma criatura do islamismo radical, que se espraia na Somália – em que persiste a anarquia, o que a transforma em base para piratas e em campo de treinamento para os discípulos de Osama bin Laden.  

              A falta de estado – o apolis que se pensava criatura morta e enterrada por séculos de governo – volta e persiste de modo algo estranho, eis que inclui atividade bastante lucrativa, que é a velha pirataria, hoje não tão endêmica no Chifre da África, empós sua longa ( e por muito esquecida ) estada nas costas do Magreb [2]...

              Será que a presente – e persistente – confusão teria algo a ver com as lutas entre estados que precedem à instalação da dominação por um único governo ? A. J. Toynbee,  no seu Estudo da História, tratara dos diversos Estados Universais que culminaram a luta nas civilizações respectivas.  Se no passado as civilizações não eram universais, na medida em que existiam outros países fora de seu alcance, a situação presente – em que se colocam Estados Unidos e China como virtuais postulantes  - configura situação diversa.  Washington fora a única superpotência, após o desaparecimento da União Soviética em 1992, mas a sua absoluta preponderância, abalada pela guerra no Iraque, e que se manifesta no presente no chamado fenômeno do declínio (com efeitos sobretudo internos),  se vê ora às voltas  com o crescimento, o avanço comportado e na aparência inelutável dentro da  pretensão – bem comportada mas escancarada de Beijing em assumir-lhe o posto e o cetro.  

              Essa é uma história que pode não ser – para felicidade dos pósteros – introduzida pelos chamados períodos interessantes[3] da anterior experiência chinesa. De qualquer forma, é um desenvolvimento que tenderá a manifestar-se e a estabelecer-se de maneira pacífica, ainda que a elevação no diapasão das pretensões de limites marinhos do Novo Império do Meio possam lançar na esfera circunvizinha ondas não tão tranquilas...

 

            

 

     

 (Fontes: ‘Age of Ambition: Chasing Fortune, Truth, and Faith in the new China’, Evan Osnos, Farrar, Straus and Giroux, New York, 2014, pp. 403; ‘Prisoner of the State –The Secret Journal of Premier Zhao Ziyang, Simon & Schuster, 2009;  A Study of History, Arnolf Toynbee, O Globo)             



[1] Zhao Ziyang era o Premier chinês quando ocorreram as demonstrações de Tiananmen. Tentou resolver pelo diálogo a questão, no que foi impedido pela ala conservadora do PCC. Esta, através de Li Peng, logrou convencer o ancião Deng Xiaoping. Determinada a intervenção do exército, ocorreu o massacre de Tiananmen. Zhao passou o restante de sua vida em prisão domiciliar (morreu em 2005)
[2] Magreb é a costa mediterrânea da África, no seu versante ocidental ( hoje, Argélia e Marrocos)
[3] Eles se caracterizavam, na lição de Toynbee, pela luta entre os Estados pretendentes à posição de mando, o que, segundo insinua o período atual, ocorrerá consensualmente, e sem consequências bélicas (por uma série de circunstâncias que não cabe aqui desenvolver).

sábado, 29 de novembro de 2014

Folhetim

                                  

Palmas para Vaccari

 
     Se os sinais externos  de comportamento, e mesmo os internos, como no caso em tela, são bons indicadores,  o PT mudou muito dos tempos de oposição, em que se apresentava com o partido super-ético,  afastando um punhado de membros que ousara votar em Tancredo para Presidente, assim como negando-se a assinar a Constituição de 5 de outubro de 1988, além de opor-se ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), chegando a contestá-la no Supremo.  

    Na terra do jeitinho, se o punhado de deputados que votaram, com o Brasil, em Tancredo Neves, não tiveram perdão da direção partidária, já as recusas de assinatura da Constituição foram revistas, e a posteriori permitida a inserção dos nomes que se tinham dissociado da Carta Cidadã. E, nesse aspecto, Lula e os demais companheiros aparecem como se a tivessem subscrito a seu devido tempo.

     Agora, temos um novo indício de corporativismo – e este bem salgado – como aparece na primeira página de O Globo. João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT, foi aplaudido por vários minutos durante a reunião do Diretório Nacional, em Fortaleza. Acusado de ser o operador do Partido dos Trabalhadores no esquema de corrupção da Petrobrás S.A., Vaccari aí se defendeu, dizendo “nada ter a temer” e alegou  estar sendo vítima de injustiça.

      A propósito, Vaccari Neto assegurou aos correligionários que “tudo o que foi arrecadado foi contabilizado. Eu sei o que fiz”.  Em seguida, os petistas prestaram total apoio ao tesoureiro, aplaudindo-o por vários minutos, com a liderança do Presidente Rui Falcão.

        Tais circunstâncias foram colhidas de dirigentes por jornalistas, eis que não estiveram na reunião, fechada para a imprensa.

 

Pelé internado de urgência

 

      Edson Arantes do Nascimento, o Pelé (e maior jogador de futebol de todos os tempos) continua internado na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.  Segundo as notícias médicas, o seu estado clínico ainda merece especiais cuidados. A situação se tornou mais delicada por Pelé só ter um rim.

      Teve que submeter-se à hemodiálise, mas a equipe médica está otimista. Em breve, se verificará se Pelé poderá dispensar do auxílio de máquinas para o funcionamento renal.

      O Hospital assinalou que ‘não foi identificada nenhuma infecção sistêmica” e que a única bactéria identificada “é sensível aos antibióticos”.

       Contudo, por ora não há previsão de alta. O complicador maior é que Pelé só tem um rim (teria sido retirado na década de setenta, por força das pancadas sofridas em jogos pelos adversários).

 

O  Pibinho sobe 0,1%

 

       O crescimento é mínimo – superior apenas ao da Ucrânia (que enfrenta a guerra civil fomentada pelo presidente russo  V. Putin) , Japão e Itália.

       Com a seca, a agropecuária sofre queda de 1,9%. Por sua vez, se aumento houve, deve-se à recuperação da indústria (1,7%) e aos investimentos (1,3%).

      A suposta comemoração da alta de 0,1% no Pibinho chega a ser patética. Por outro lado, dado o comportamento decepcionante, no acumulado de doze meses até outubro, o superávit foi só de 0,56% do PIB.

 

(  Fonte:  O  Globo )

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Perspectivas na Economia


                                       

         A inflação é o mais cruel dos impostos, porque atinge a todos indiscriminadamente, não tem bons efeitos econômicos – as teses em contrário, as levou o vento e o longo reino do Dragão em Pindorama -, além de minar a confiança no empresariado, e, por conseguinte, o investimento e a criação da riqueza em geral.

         Acusam-nos amiúde a nós brasileiros, de falta de constância e, por conseguinte, de carência de plano sustentado de desenvolvimento.

         Por irresponsabilidade de Lula que, por motivos dele próprios, nos brindou com o seu primeiro ‘poste’, nos descobrimos com alguém na presidência sem a necessária visão e vivência para esse cargo.

         Esse colossal erro não é privativo do líder do Partido dos Trabalhadores. Posto que o candidato então do PSDB tenha feito campanha medíocre, Dilma Rousseff foi eleita em 2010 por uma não tão sagrada aliança do atraso – no Nordeste sufragaram a ‘mulher do Lula’ – com a fragmentária política do oportunismo politiqueiro e da inegável popularidade das administrações de Lula I e Lula II. Não é de desprezar, nesse contexto, o senhor empurrão  que o líder petista receberia  da incompetência política dos tucanos, com o que minimizou os prejuízos advindos do magno escolho do Mensalão, e  pôde reeleger-se em segundo turno em 2006.

        Mas deixemos esse leite derramado. Para vencer a disputa em 2014 Dilma pode valer-se menos de suas realizações, do que da aliança do assistencialismo com o aparelhamento do Estado.

        A tão temida ameaça de Marina foi afinal afastada por uma propaganda política blindada, e a falta de que se ressentiu o carisma da candidata acreana de  estrutura partidária e um mínimo apoio para contra-arrestar a saraivada de mentiras que, por força da ignorância e da incapacidade de defesa digna desse nome, transformou-se em verdadeira floresta amazônica onde perdeu-se  sua mensagem de esperança e renovação.

         Nessas condições, com a ajuda do marqueteiro e a tarda explosão do mega-escândalo da Petrobrás, o Dilma II virou realidade, apesar da boa campanha de Aécio Neves. Esse mar oposicionista foi sustado pelos rochedos da Bolsa-Família e as alianças do esquema lulista, embora tenha sido por pouco, e com a cortesia da campanha medíocre nas Minas Gerais natal do porto-estandarte tucano.

         Dilma – que, de forma irresponsável, abandonou o Plano Real, como se fora programa do PSDB e não do Brasil – nos trouxe a inflação de volta. E ela está aí, batendo sempre acima das metas e sobretudo batendo o dinheiro das classes menos favorecidas, dos aposentados e de toda a gente brasileira que saudara com entusiasmo a vinda do Real, que nos livrou das diversas encarnações da carestia.

          Agora, com um requinte especial, adentramos, escabreados, o Dilma II. Aécio fala de estelionato eleitoral. Apesar de ter ares de verdade, esse é um truque velho como a Sé de Braga – vencer com a esquerda e governar com a direita. Sobre os ombros de Joaquim Levy – pois os outros dois são mais frágeis – repousa o desejo comum de que a inflação seja vencida. Se é tão humana a confiança nessa determinação política, e se assemelha à tenra plantinha da democracia nos tempos do político baiano Otávio Mangabeira, o passado está aí e o seu imaginário dedo parece condenar ao inferno do fracasso a tentativa da Presidenta, saudada com tanto alvoroto pela enorme concentração das pessoas que muito têm a perder com a inflação.

            Todos nós, otimistas de plantão e pessimistas de atalaia, queremos acreditar que desta vez vamos... vencer. Todo o passado semelha condenar tão trêfega aspiração. Mal ou bem Dilma encontrara uma economia saneada e livre do dragão. Bastaram-lhe uns poucos anos para que trouxesse de volta tudo aquilo que se pensara despachado para as funduras da geena e do inferno.

            Protegei-nos, Senhor, das boas intenções dos que acreditam poder remexer impunemente com obras bem-sucedidas e, em especial, aquelas como o Plano Real que conseguira vencer uma entranhada cultura da inflação (e da hiper-inflação) onde estagnara o Projeto Brasil.

            Aos otimistas de plantão terá animado a entrada no Governo de Joaquim Levy. No entanto, esse tão denegrido mercado hesita entre confiança e desconfiança, e se fundamenta no resultado das primeiras escaramuças de uma campanha que só pode ser longa. Há demasiados mouros na costa para que nos embalemos no fácil otimismo dos néscios e dos crentes em que desta vez será diferente.

            Por trás do Ministro da Fazenda, está a Senhora Dilma Rousseff que é a Presidente do Brasil, mas também não deixa de ser quem causou toda essa destruição não-criativa que foi o seu primeiro mandato.

            Quando em uma equação abundam as incógnitas e os imponderáveis, o jeito é pensar em Nelson Rodrigues. Talvez seja a hora do Sobrenatural de Almeida e quem sabe ?...

 

( Fonte:  O  Globo)     

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Ainda Malabarismos Fiscais ?


                    

       Boa parte da chamada base aliada não apareceu na sessão de ontem, nessa legislatura em que o grosso dos parlamentares só dá as caras no Congresso na quarta-feira. Diante do percalço – e sem maioria – os governistas não lograram aprovar a nova versão da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que flexibiliza a meta do superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública).

       Na verdade,  flexibilização não passa de eufemismo para o não-cumprimento da meta fiscal, diante de uma realidade madrasta, que é o presente estado das contas públicas sob Dilma Rousseff.

       A oposição fez, portanto, o seu papel, inviabilizando a aprovação a toque de caixa da nova LDO, que como todo remendo não sairá bem no retrato. Trocando em miúdos, será operação para Wall Street ver (como antes se referia o para inglês ver). Dessarte, como toda tapeação tem de ser encarada, não como a deseja o Governo Dilma, mas como realmente é – um remendo, feio como tais expedientes, mas cujos efeitos negativos poderiam ser relativizados, caso os cortes sejam para valer, e a nova Administração fazendária de Levy & Cia. dispuser da necessária autonomia para empreender  a aturada faina de corrigir as tropelias do Dilma I.  

        Os ires e vires do pós-eleição, com a confirmação do resultado, em quadro, contudo, não de todo clareado, eis que pela raia de fora corre o mega-escândalo da Petrobrás, e cujos reflexos sobre o Governo em grande parte dependem dos autos do processo, com as muitas evidências da roubalheira (e nada menos do que o usualmente ponderado Superior Tribunal de Justiça (STJ) assim qualificou a corrupção na Petrobrás).

        Daí o significado  - que pode ser pressago – da charge de Chico Caruso sobre os dominós e sua sucessiva queda no escândalo da Petróleo Brasileiro S.A.

        Sob outro ângulo, até que o choro das carpideiras de plantão foi muito menor de o que se poderia esperar. Esse aspecto da questão denota a contrario sensu a gravidade da situação. De qualquer forma, a nova equipe – que inclui o veterano Alexandre Tombini no Banco Central – liderada por Joaquim Levy, na  Fazenda e Nelson Barbosa, no Planejamento – deverá começar a operar com base no Palácio do Planalto.

       Neste período de transição, os que saem permanecem nos seus gabinetes, e seria com eles que serão amadurecidas as novas medidas, mormente aquelas no campo fiscal, com os integrantes da equipe entrante. Não se podem excluir, portanto, as discrepâncias refletidas em vazamentos e em otras cositas más, resultantes da atmosfera que humanamente tende a circundar tal processo.

 

( Fonte:  O  Globo )

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O Problema de Ferguson


                               

        Os jornais e as tevês falam de recrudescimento da violência em Ferguson.

        Antes de correr para verberar o recurso à violência, que será sempre condenável em tese, é mister examinar-lhe as causas mediatas e imediatas.

         A justiça, por outro lado, não deve só parecer honesta. Ela deve ir além, ser efetivamente coerente, dando aos respectivos desafios respostas que podem afigurar-se até severas, mas que não se furtam diante do exame imparcial das ocorrências.

         A violência da comunidade afro-americana volta a reacender-se, com uma série de depredações, conflitos e incêndios na noite de diversas cidades. E com característica que turbará os observadores: os protestos dessa comunidade foram ainda mais fortes do que no dia da morte do jovem negro Michael Brown.

        Essa reação, que repontou em mais de trinta estados, estendendo-se até ao Canadá, é decorrência de um misto de raiva e perplexidade diante de uma afronta.

       Mais uma vez um policial branco, movido por tênues suspeitas, mata um jovem negro. No caso do estado de Missouri, um policial branco, Darren Wilson, foi levado a atirar pelo gesto de mãos ao alto do jovem adolescente negro, Michael Brown.

       Na Flórida, no ano passado, um miliciano branco matou um jovem negro que pensava estivesse armado.

       Em ambos os estados, o policial e o assemelhado (uma espécie de segurança armado),  que permite a lei da Flórida foram declarados não culpados.

        Há distinções técnicas entre as decisões das justiças estaduais. No caso da Flórida, foi uma sentença de julgamento, e no mais recente, do Tribunal de Clayton, em Missouri, um grã-juri decidiu por maioria de votos que o policial branco não seria indiciado.

        Quando uma comunidade é colocada diante de decisões judiciais que parecem parciais, e que favorecem objetivamente ao segurança e ao policial branco, em detrimento dos jovens negros, como verão os negros a justiça na Terra de Tio Sam?

        Ao invés de uma decantada imparcialidade do doa a quem doer,o que se confronta é o resultado de decisões suscetíveis de serem inquinadas de parcialidade racial. A ameaça imaginária dos jovens afro-americanos, tomada como se fora verdade, pelos policiais armados, terá dado ao jovem negro alguma oportunidade de esclarecer o próprio comportamento de forma civilizada e consoante as práticas dos oficiais da lei?

         Cresce, com efeito, com a rapidez do Velho Oeste, que existiria de parte desses supostos agentes da lei entranhada postura de racial suspeita em relação aos negros.

        Eles, na verdade, seriam suspeitos, em princípio e em fim de contas, pela sua intrínseca condição racial. Armados, esses agentes não defendem a lei como os políciais de antanho, mas vêem confrontação e, o que é pior, ameaça em atitudes próprias de gente jovem. Esses,  na verdade nutrem confiança – que os fatos irão tristemente menosprezar – na circunstância de que não desejam mal algum.

        Sem embargo, será um erro fatal, a despeito de realizado com boa fé, porque não leva em conta -  e como deveria ? – a existência do mal que, em um e outro caso, se aninha nas suas suspicácias paranoides.  Na Flórida e no Missouri, o único perigo existente nesses falsos confrontos semelha residir na condição racial, que o policial branco assume como  se fora a verdadeira ameaça.

        É necessário pôr um basta a esses vereditos que, ao invés da verdade judicial, expressam a carantonha do preconceito e da provocação.

 

( Fonte subsidiária:  O Globo )

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Descalabro nas contas externas

                         
 

        O Governo Dilma Rousseff continua colecionando dados negativos.  Em outubro, o déficit externo foi o maior da história, com US$ 8,1 bilhões. Até o referido mês o balanço de transações correntes – trocas de bens e serviços do Brasil com o resto do mundo – acumula déficit de US$ 70,7 bilhões, o mais alto para o período, correspondente a 3,74% do PIB.

       Os recordes ruins não param aí. No passado, o Brasil compensava os resultados negativos da remessa de juros, além do envio de lucros e dividendos para o exterior, com o saldo positivo no balanço comercial (troca de mercadorias).

       Continuamos a ser um país com pauta de exportações de commodities (matérias primas).  Através dos séculos tem sido a nossa sina. Houve queda generalizada na cotação desses produtos de base no mercado internacional.

       Por outro lado, como não mais dispomos de indústria automobilística nacional – como tínhamos no passado, com o Aero Wyllis, o Gurgel, etc.- os lucros dessa fonte produtora – no caso, das sucursais - migram para as matrizes, que ficam nos Estados Unidos, Europa e Ásia (Japão e até Coréia do Sul). Essa carga tende ainda a aumentar quando as matrizes enfrentam crises, com a retração nas vendas nas Europas e Estados Unidos.

      Como disse, no passado, e repito são verdadeiras feitorias, aqui instaladas como as lusas na Costa Africana, para exportar a mais-valia, então para o mundo europeu. No nosso caso, será para o norte desenvolvido. E como se não bastasse, o Brasil é o único país em tal alto nível de Produto Nacional Bruto que é submetido à tal contingência. Se não faltou a Juscelino Kubitschek a visão de largo prazo para a implantação de montadoras nacionais no Brasil, sobrou aos governos posteriores, notadamente o regime militar e até FHC, a miopia histórica de permitir essa veia para sempre aberta, com a completa desnacionalização das montadoras.

       Daí, o peso histórico do balanço de invisíveis que tende a ser marcadamente negativo. Com Copa do Mundo e tudo, houve recuo nos recursos deixados por estrangeiros no Brasil. Os valores caíram de US$ 533 milhões, em outubro de 2013, para US$ 488 milhões no mês passado.

      Ao contrário da tendência histórica, em que a balança comercial do Brasil é superavitária – e nesse sentido pode servir de colchão para os déficits em transações correntes, notadamente invisíveis - nas três primeiras semanas de novembro houve um déficit de US$ 2,252 bilhões (exportações  US$ 11,735 bilhões e importações de US$ 13,987 bilhões), o que compõe um déficit acumulado no ano de US$ 4,123 bilhões.

     Por outro lado, os gastos dos brasileiros no exterior – turismo e as compras consequentes – se explicam em boa parte pelo abismo nos preços entre os produtos comprados aqui e no exterior (notadamente nos Estados Unidos).

      É outra consequência direta da brutal carga tributária que incide generalizadamente sobre os produtos nacionais (até remédios).  Dadas as consequentes colossais diferenças de preço, é uma decorrência inelutável que o turista brasileiro compre muito no exterior, não porque os artigos sejam necessariamente melhores, mas pela acintosa disparidade com as cotações das mercadorias de Pindorama, sob o gravoso peso dos tributos da insaciável receita.

       Sem embargo, continuamos a ser um destino preferencial para os investimentos estrangeiros. Se eles caíram 8,4% em relação a outubro do ano anterior, 2014 vem mostrando um resultado melhor do que o ano precedente: são US$ 51,2 bilhões, com alta de 4%.  Há no mercado a expectativa de que o dólar estadunidense mais caro ajude a arrumar as contas externas do Brasil, eis que estimula as exportações (por torná-las mais competitivas externamente, ao ficarem mais baratas, além de inibir relativamente as aquisições (gastos) no exterior – que ficam mais caros com a depreciação do real em passagens aéreas e diárias na Europa e Estados Unidos.

      Daí, a necessidade de uma melhora no trato da economia, com mais rigor fiscal. Se continuarmos na linha anterior, a queda na nota de avaliação da economia pelas agências de Wall Street nos espera em uma esquina próxima. Ao perder o grau de investimento, caímos no pântano dos especulativos.  Não obstante o pan-americanismo e a solidariedade latino-americana, não creio seja o caso de reingressarmos nas incertezas dos tempos pré-Plano Real, assim como no charco do chavismo e do peronismo-kirchnerista...

 

( Fonte:  O Globo )

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Rescaldo do Fim de Semana

              

 
Críticas  a  Levy no PT e adjacências

 

      Pelo visto, há demasiados  petistas criticando as escolhas de D. Dilma. Talvez se não a burrice, a ideologia lhes tolde o entendimento. Dado o descalabro da gestão anterior, que foi dela mesmo, a Presidenta tem por agora que engolir em seco, e aceitar a medicação e algum sapo...

      Levy & Cia. não chegam por acaso. Ou se põem ordem na bagunça fiscal e se melhoram os dados básicos da economia, ou ...  aí estão Cristina viúva de Kirchner e Nicolás Maduro, que mostrariam aos descontentes – com uns neardentais de permeio, ainda com espaço nos jornalões – aonde iremos parar com mais estripulias e  mais estagflação ...

      Nessa hora, com os deuses do mercado, sobretudo o internacional, com coceiras para rebaixar-nos na avaliação das finanças, mal não faz que Dilma contrarie tudo o que disse nos debates presidenciais.

      Ou será que as vestais esqueceram a velha fórmula: ganhar com a esquerda e governar com a direita?

 

Ainda a Abreu e Lima

 

      Assim como Pasadena – e as incríveis perdas, impostas por executivos de cara lavada e despachos presidenciais tão estentóricos quanto sem sentido – a Refinaria Abreu e Lima, e suas copiosas irregularidades, o que mais surpreende é que tais assaltos à Viúva tenham subsistido indenes por tanto tempo.

      Rainha nos superfaturamentos, o que no consterna no caso dessa Refinaria é que operações para lá de dúbias tenham levado tanto tempo para afinal serem sustadas.

      Dizem agora que o Congresso não terá outro caminho senão aprovar a recomendação do TCU para que seja sustado o repasse de R$ 19,8 milhões para as obras de terraplanagem da Refinaria Abreu Lima em Pernambuco. O que surpreende é que tantos rumores de irregularidades nessa Refinaria por muito não foram suficientes para que pagamentos pra lá de dúbios fossem feitos.

      Será que agora Suas Excelências resolvem fechar a torneira ?

 
Mais um nas redes da Lava-Jato


       Afinal Adarico Negromonte Filho,  irmão do ex-Ministro das Cidades Mário Negromonte se entregou à Polícia Federal. Foragido da Lava-Jato há quinze dias – teve a prisão decretada pelo Juiz Sérgio Moro, da13ª Vara Federal, do Paraná. É acusado de levar malas de dinheiro do escritório do doleiro Alberto Youssef para políticos  e empresários integrantes do esquema.

           Sua advogada, Joyce Roysen,  pleiteia – porque o cliente tem quase setenta anos – que tenha a prisão temporária revogada. Por sua vez, o MPF deseja que Adarico tenha a prisão preventiva decretada, e com isso ficaria detido por tempo indeterminado.

 

Na  Mira  de  Tio  Sam

        

          Como se sabe, o famoso jeitinho brasileiro não funciona em terras de Tio Sam (e os que, por ignorância ou estultícia a ele recorrem em geral se arrependem). Não falo dos “perp walks” (passeios de perpetradores - de crimes) que é a utilização de grilhões em caminhada do acusado diante dos fotógrafos. Essa perspectiva, inventada pelo promotor público (District Attorney)  Rudolph Giuliani, deve dar calafrios nos suspeitos de crimes e contravenções.

         Nesse contexto, as declarações da procuradora-geral assistente do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Leslie Caldwell, não é muito tranquilizadora para os corruptos (e suspeitos) de Lava-Jato e adjacências.

        Dentre os claros enigmas das propinas et al. na Petrobrás,  a situação da maior companhia nacional pode enquadrá-la em casos de extremo rigor da legislação americana, como, v.g., as empresas com ações ou ativos nos EUA, ou se porventura competem com empresas globais, como é o caso da Petrobrás. E as estranhas, atípicas transações para a aquisição do ferro-velho de Pasadena estão aí para aumentar tais possibilidades.

 
Campeonato Brasileiro

 

        Boa gestão, manutenção de plantel e bom técnico contribuem e muito para o bicampeonato do Cruzeiro (aliás, no meu entender, valoriza muito mais o clube determinar o título pela série imediata dos anos precedentes, do que ajuntar todos os campeonatos do passado, e apresentá-los como se fosse o resultado a ser festejado). Nesse caso, como em outros, diz muito mais da sua superioridade se nos ativermos à série imediata. É mais honesto, do que catar em décadas já esquecidas os galardões conquistados...

        Por sua vez, no extremo oposto, a situação do Botafogo não é fenômeno inesperado. Pelas inconstâncias em gestão, elenco e posição dos jogadores, infelizmente não surpreende a situação do time da estrela solitária.

        Quanto ao Vasco da Gama, a mediocridade marcou a atuação do técnico. Por sua vez, o time da cruz de malta teve grande regularidade no seu comportamento, como se não desejasse sair da Série B. Muito diversa desta feita a sua atuação, de sua última saída da Segundona, quando levantou a taça, e de forma indiscutível (no que imitara o Corinthians). 

           Desta vez, mereceu as vaias da torcida que lotou o Maracanã, a ponto de que o fraquíssimo Icasa, marcado para a série C, só não ganhou no último minuto por azar e por eventual intervenção de Sobrenatural de Almeida.

            Joel Santana gostaria de ficar, mas creio que se deveria procurar alguém com mais inventiva. Já o plantel – com as exceções de regra – reflete a gestão calamitosa de Roberto dito Dinamite, mas na verdade está mais para Buscapé.

            A torcida por sua vez aguarda ansiosa o novo Presidente. Será importante determinar com quem teremos de lidar: se aquele que nos deu o Brasileiro e perdeu o Mundial de Clubes por azar, ou se o das confusões que levaram o CRVG à sua primeira Segundona...

            

 ( Fontes:  O Globo,  Folha de S. Paulo )

domingo, 23 de novembro de 2014

Especulações sobre a equipe fazendária

                    

         Nesses jornais de domingo, há  discursos para todos os gostos. Não há negar que Joaquim Levy é quem concentra as atenções. Especula-se muito, no contexto, sobre a atitude que tomará a presidenta. Tenho para mim que ela, por ora, há de preferir não assumir a direção da economia. Não há de esquecer – nem as prováveis mediatas consequências de seus passos em falso estarão aí para reforçar-lhe as  linhas de defesa – que o seu desenvolvimentismo trouxe de volta a inflação, o desequilíbrio fiscal y otras cositas más.

        Fantasma sabe para quem aparece, e não se podia esperar de um Guido Mantega, depois da marolinha e das capitalizações, que o Lula II desse  condições de sustentabilidade para a sua candidata de algibeira.

        E, infelizmente, o desastre econômico-financeiro do Dilma I não poderia ocorrer de outra forma. A Presidenta, com o passar do tempo, agiu como se a recuperação econômico-financeira trazida pelo Plano Real – e todo o seu conjunto normativo, incluída, como chave de abóbada, a Lei da Responsabilidade Fiscal – continuasse a merecer a atitude confrontativa do PT na oposição.

        Assim, Meirelles foi despachado sumariamente por  ter ousado agitar a bandeirinha da autonomia que, até aquele momento, mal ou bem se mantinha. FHC terá cometido o erro de não incluí-la formalmente no pacote, cioso quiçá dos respectivos poderes.

       Além do estilo dílmico, Guido Mântega não tinha a têmpera de tentar contrariar a briosa presidente.  No primeiro quadriênio, depois que veríamos repontar a cabeça hedionda do dragão, a carestia se transformaria na falsa cereja do bolo fiscal.

        Quem poderia ter ilusões sobre os projetos de exação fiscal e controle inflacionário de alguém que convide para almoço no Planalto a Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo? Que seriedade teriam esses projetos, se ninguém do Plano Real foi convidado? E nesse ponto está talvez o erro central da economista Dilma Rousseff. Tratou como se fosse do PSDB o plano Real, quando na verdade foi conquista nacional.

        Agora, jogadas ao vento as suas práticas, ela nos condenou a repeti-las, como se fácil fora delas desmerecer, e as substituir com slogans e projetos sem lastro fiscal.

        É difícil acreditar, mas por vezes nós espectadores do show-Brasil ficamos com o ressaibo, mais do que a impressão, de que a candidata selecionada por Lula da Silva, e aprovada com sumo louvor pela aliança petista e assistencialista, com a medíocre participação de uma oposição sem personalidade (ou sem coragem) de brigar pelo mando, que essa senhora, repito, se julgou acima do tempo e da economia, como se, por algum capricho da História, ela estivesse aninhada em  cápsula do tempo.

        O poeta Virgílio nos legou o verso: Tenho medo dos gregos, sobretudo quando dão presentes[1].  Recordei-me dessa responsabilidade de Lula, que agora – como todos os problemas mal resolvidos não quer partir e deixar-nos em paz. A Santa Aliança da bolsa-família e o aparelhamento do Estado persiste na reeleição do Primeiro Poste.  

       No entanto, a História – essa narração sem sentido – tem a sua perversa dinâmica, da qual o cartunista Chico Caruso  nos dá hoje mais uma demonstração de gênio criativo. O desenho é o das peças de um dominó, e talvez aí estejam os dados de um claro enigma.

 

( Fontes: O  Globo, Folha de S. Paulo )



[1] ‘Timeo Danaos et dona ferentes’ (Eneida, de Virgílio)

sábado, 22 de novembro de 2014

Notícias do Planalto

                

Levy para a Fazenda
 

     A confirmar-se a designação de Joaquim Levy, para a Fazenda, que agradou ao mercado (bolsa subiu e dólar caíu), e Nelson Barbosa, para o Planejamento, houve muxoxos no PT. O círculo de Aloizio Mercadante (Casa Civil) considera Levy próximo do PSDB e de Armínio Fraga (lembram-se? o ministro anunciado por Aécio Neves, que, por cometer a imprudência política de desvendar as próprias cartas, teve de padecer incontáveis questionamentos de Dilma quanto às maléficas intenções de Fraga, presidente do BC sob FHC...)

     Agora, reeleita a Presidenta, e mudado o quadro, as posições se alteram...

     O importante a determinar, além da coexistência da nova equipe, com as eventuais diretivas de Dilma Rousseff, e que tipo de Ministro será Levy.

     Corolário desse problema são os próximos da Presidenta, como Arno Augustin (Tesouro). Dadas as identificações com as práticas do Dilma (I), e a incidência do recurso à contabilidade criativa, resta verificar se o ungido terá carta branca na Fazenda.

 

A  influência  de   Lula

 

      Segundo noticia a imprensa, Dilma convidou os senadores Armando Monteiro (PTB-PE) para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e Kátia Abreu (PMDB-TO), para o Ministério da Agricultura.

     Consoante se especula, o convite a Monteiro e Kátia atenderia a conselho do ex-Presidente Lula. Nesse sentido, Lula teria recomendado à Dilma que através dessa designação, retomasse o diálogo com o setor empresarial para  tentar impulsionar o crescimento da economia.

     Monteiro disputou o governo de Pernambuco, perdendo para o candidato do PSB, Paulo Câmara. Por sua vez, na eleição passada, Kátia e o ruralismo apoiaram Aécio Neves.

     Sem embargo, a seleção de Kátia teria provocado desconforto no PMDB, e na sua direção, por não ter sido ouvida nem cheirada. Será, por certo, mais uma tarefa para o Vice Michel Temer.

 


As Cerejas no Bolo

 

        Enfraquecido pelas denúncias de irregularidades – por ele negadas – Alberto Bendine tende a ser substituído no Banco do Brasil por Paulo Cafarelli, atual secretário executivo na Fazenda, e, portanto, integrante da equipe de Guido Mantega.

       Por sua vez, pelas credenciais petistas, o discreto Jorge Hereda – passada a confusão com as trapalhadas na Bolsa Família – deverá ser mantido na presidência da Caixa Econômica Federal. Ele se encaixaria no dílmico perfil de usar a Caixa para estimular a  economia do Brasil.

       Por fim,  a sorte de Luciano Coutinho, presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) pende na balança presidencial. Desde o comprovado gosto do Presidente Lula pelas chamadas capitalizações – e a sua dúbia capacidade de trazer mais fundos, além daqueles oriundos de ortodoxas fontes fiscais , que a participação do BNDES nessas operações vistas com desfavor pelo mercado – mas incentivadas por Dilma e seu círculo – ora coloca Coutinho em  delicada posição. Nesse quadro – e não será o primeiro – pagará Coutinho por erros alheios. A dúvida residiria na circunstância da implementação imediata da exoneração, ou se seria entregue aos cruéis caprichos de Tântalo, vale dizer, a uma  imprecisa segunda etapa.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo )

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Diário da Mídia (XXXII)

                           

 

A morte de Thomaz Bastos

 

         Considerado o decano dos advogados, a ênfase da atribuição informal se devia menos à antiguidade na função, do que à influência na classe, influência essa decorrente do próprio valor intrínseco, e do consequente respeito que lhe votavam juízes e causídicos.

         Morreu na manhã da quinta-feira, dia 20 de novembro de 2014. Internado há dias no Sírio Libanês para tratamento de problemas pulmonares, trabalhou, à revelia do médico Roberto Kalil, até a véspera do falecimento (comandava a defesa das empreiteiras Camargo Corrêa e Odebrecht na Operação Lava-Jato).

         Bastos – e isto não é floreio de necrológio – foi o mais influente advogado de uma geração de criminalistas que participou ativamente do processo de redemocratização do país, com o seu norte na defesa dos direitos humanos.

        Conhecera Lula em 1979, numa palestra no ABC. Escolhido pelo ex-dirigente sindical para ser  Ministro da Justiça, a sua presença nessas funções seria marcante, e não só em termos cronológicos. Regularmente consultado pelo Presidente na indicação de ministros para o Supremo, a instituição e a República agradeceriam. Indicou ou avalizou as escolhas de Eros Grau, Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa.

        Foi determinante, outrossim, na revisão da decisão de Lula de cancelar o visto do jornalista Larry Rohter, do New York Times, que em  2004 escrevera sobre o presidente e a bebida. Com a carta branca de Lula, Thomaz Bastos definiria a relação com a Polícia Federal, a política de segurança  para os Estados, e teve papel marcante na relação entre Governo e Justiça.

        Em desenvolvimento característico da condição humana, Thomaz Bastos não manteve o mesmo prestígio e influência sob Dilma Rousseff, de quem nunca fora próximo, como indica Vera Magalhães, do Painel da Folha. A Presidenta não seguiu Lula no hábito de consultá-lo  sobre indicações para o Supremo, nem em outros setores.

        O ex-presidente Lula compareceu ao velório na Assembleia Legislativa de São  Paulo. Também foi – e segurou a mão da viúva – a Presidente Dilma Rousseff. Igualmente compareceram ministros do STF e do governo federal.

        Dentre os comentários alusivos, registrados pela Folha, recorto os seguintes: “Foi um corajoso defensor da lei, apaixonado pela ideia de um Brasil melhor. Um homem raro e que muito contribuiu para mudar a história do país” (Luiz Inácio Lula da Silva); “Marcio Thomaz Bastos será sempre inspiração para a defesa do estado de direito, dos valores constitucionais e dos fundamentos de uma sociedade civilizada”, (Marcus Vinicius F. Coêlho, presidente da OAB); e “Exemplar ministro da Justiça e defensor criminal de primeira linha”, (Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF).

 

A Recusa de Trabuco

          

           Segundo se noticia, o Presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, declinou do convite de Dilma Rousseff.  Consoante a versão para consumo público, ele não foi liberado pela instituição, pois se prepararia para assumir a presidência do Conselho de Administração do banco.

           Ainda sem nome para suceder a Guido Mantega, consoante a imprensa a Presidenta analisaria agora as seguintes opções: estariam sendo considerados Joaquim Levy (secretário do Tesouro no governo Lula e hoje no Bradesco), Nelson Barbosa (ex-número dois da Fazenda), e Alexandre Tombini, atual presidente do Banco Central.

           Se excetuarmos Tombini, que vem sendo regularmente referido na dança de posições para a Fazenda, a ausência de qualquer menção dos próximos de Dilma (como Arno Augustin, hoje no Tesouro) fala com maior eloquência sobre o relativo desprestígio da atual administração fazendária. O que se explica pela mera circunstância de que não subsistem muitas dúvidas sobre quem será ministro da Fazenda no Dilma II.

           Nesse contexto, quanto pagaria em linguagem turfística a pule de Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central sob Lula, e que foi afastado de considerações por Dilma desde que reivindicou a famigerada autonomia para o Banco Central ? 

           A eventual indicação de Meirelles para a Fazenda seria decerto enorme surpresa, na medida em que sinalizaria a decisão de Dilma de não ser também a ministra daquela Pasta.

 

A   Reforma  Imigratória  de  Obama

 

           Parece que os correspondentes dos jornalões brasileiros em Tio Sam todos rezam pela cartilha do GOP. O que em termos de vanguarda do atraso, é um desenvolvimento que em Administração de Presidente democrata não contribui de forma excessiva para a adequada informação do leitor.

          Não faz muito adiantara no blog do intuito de Barack Obama de fazer a reforma imigratória por via de decreto (executive order) (V. A Reforma da Imigração do Presidente Obama – Colcha de Retalhos B 43).

          Entristece o viés do noticiário dos coleguinhas que estão nos Estados Unidos, porque eles dão a impressão de que a alegada verdade estaria com os dinossauros do GOP. Falam assim de raios e trovões contra a alegada invasão de poderes em termos migratórios, quando a realidade está mais próxima do modesto latino, que mostra um cartaz com os dizeres :‘Gracias, presidente Obama’. 

          Os republicanos, máxime pela paralisia em Washington (dominam a Camara Baixa e em breve também a Alta) barraram o caminho de uma reforma moderada da imigração.

            Com a caução do respeitado Attorney General Eric Holder, o Presidente americano dá um viés mais positivo  (e menos repressivo) para o tratamento da imigração nos EUA.  Através disso, atende a compromissos de campanha, a par da necessidade de dar tratamento mais humano (e, por conseguinte, mais inteligente e socialmente produtivo) para a questão da imigração nos Estados Unidos.  

                         

(Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo,  The New York Times)