sexta-feira, 11 de julho de 2014

Que reação diante do fracasso da Seleção?

                   

         Após o balde de água fria da derrota da seleção por um humilhante sete a um, a Presidenta, em entrevista à CNN, defendeu uma ‘renovação’ do futebol no Brasil.  Declarou ainda não crer que o fim da Copa resulte em piora do humor nacional.

         Não ficou claro, no entanto, como entende se deva viabilizar a referida renovação. Essa necessidade se afigura óbvia e, por isso, carece de ser desenvolvida.  Nesse sentido, em meu blog de nove de julho “De que nos serve Alemanha 7 x 1 Brasil ?” escrevi: “O Governo Dilma Rousseff faria alguma coisa em campo a que os brasileiros prezam tanto – e não somos pentacampeões mundiais por acaso – se utilizasse um processo sério e abrangente, sem oportunismo politicóide, que limpasse as Cavalariças de Áugeas”

         A renovação se impõe, mas de nada servirá que a Presidente se restrinja a levantar essa bola – uma imagem futebolista que semelha apropriada – e fique nisso mesmo. As instâncias e os paredros de nosso futebol mostram sobejamente que não partirá deles qualquer real iniciativa neste sentido.

         Eles têm que ser induzidos a tratarem da questão, pois o nosso futebol sofre de muitos problemas. O Governo federal não desconhece, decerto, as disposições impostas pela FIFA, para garantir a autonomia de CBF e congêneres. Por isso, o processo tem de ser implementado de forma abrangente, com a participação das instâncias competentes, mas igualmente com o imperativo de maior adequação dos torneios à participação dos atletas (como de resto vem sendo reivindicado pelos jogadores e desatendido pela CBF).

          Nesse contexto, a intervenção do Ministro Aldo Rebelo considera que a derrota na Copa mostra ser preciso ‘mudar a estrutura do futebol brasileiro’. Para tanto, defende a intervenção estatal.  Nesse sentido, propõe que o Estado ‘sugira projetos de lei e faça pressão sobre os dirigentes’.

           No meu entender, ao invés de verticalismos, caberia criar um grupo de trabalho com pessoal sério e competente, que inclua não só representantes da CBF e das federações, mas também dos jogadores, assim como participação de profissionais de imprensa especializados.

           Não se ignora que a FIFA proíbe a interferência dos governos nas federações nacionais. No entanto, os gerarcas da Fifa não trepidaram em pressionar o governo brasileiro – e de forma por vezes até vulgar e chula – quando se tratou de agilizar a feitura dos estádios e infraestrutura correlata para garantir a realização no Brasil da Copa.

           Por isso, há limite para tais interferências. O Brasil é o celeiro do futebol mundial, e qualquer torneio tende a ser prova indireta disso pelo comparecimento de craques brasileiros miraculosamente transformados em uma pluralidade de nacionalidades.

           Dada a qualidade relativa desses reforços – em geral tais ‘naturalizações’ trazem para outros scratches jogadores que não teriam qualidade comparativa aos integrantes da seleção nacional brasileira – há poucos exemplos de que o Brasil venha a ser prejudicado com essa ‘exportação’ por debaixo do pano.

           Espero, por conseguinte, que a intervenção da Presidente Dilma Rousseff seja a ponta de uma intenção de realmente contribuir para que as instâncias, a estrutura, o material humano disponível – que é de alta qualidade – venham a dispor de dirigentes e de meios materiais que efetivamente valorizem o nosso jogador, cuja qualidade fala por si só.

           Talvez se haja esquecido, mas é importante lembrar que a conquista de nosso primeiro título mundial na Suécia muito se deveu à contribuição de Paulo Machado de Carvalho, que, com apoio do governo Juscelino Kubitschek, estruturou a nossa seleção e participação.

            Será dessa maneira, com atuação efetiva e responsável, que se criarão as condições de grandes êxitos e conquistas futuras.

             Ou será que continuaremos a confiar naqueles que quando o céu se enfarrusca e as coisas no campo vão mal, tratam de se pôr ao largo e escapar de fininho?

 

(Fontes:  Folha de S. Paulo,  O Globo)

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