domingo, 20 de julho de 2014

Colcha de Retalhos B 28

                               

Putin e a tragédia do Voo MH17


               É difícil que a esta altura ainda se mantenha o simulacro de que a Rússia de Putin e a sua intervenção na Ucrânia oriental seja uma simples hipótese de investigação nas causas do abatimento por míssil do voo da Malaysian Airlines MH17. Esse brutal atentado matou 298 inocentes, dos quais 193 holandeses (a KLM, linha aérea daquele pais, tem nessa linha acordo com a Malaysian).
                Dirigindo-se a quem se supõe tenha muita responsabilidade nessa desgraça, o Primeiro Ministro da Holanda, Mark Rutte declarou por telefone a Vladimir Putin que ele tem a última chance de demonstrar que leva a sério os trabalhos de resgate e recuperação dos corpos das vítimas.

                “Você tem uma última chance para mostrar o que significa a palavra ajuda” disse Rutte a Putin, na que ele definiu como uma “conversa telefônica intensa” com o Presidente russo.

                Antes, em telefonema da Chanceler Angela Merkel,  Putin concordou em que se abra investigação internacional, sob os auspícios da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI).

                 Até o momento, os milicianos que controlam a área em que caíram os restos mortais dos passageiros, bem como os destroços da aeronave e tudo o mais que possa interessar no que concerne à definição das responsabilidades neste mega-crime têm dado mostras grosseiras de sua colateral aparente responsabilidade.

                 Não facilitam – muito pelo contrário – os exames – que constituem rotina em tal ‘acidente’. Os monitores da OSCE já conhecem a laia desses milicianos – e é indicação de sua coragem e determinação que voltem a áreas infelizmente dominadas por essa escória.

                Além de saquearem como predadores as posses dos infelizes que o míssil Buk abateu – computadores portáteis e demais pertences dos passageiros – os milicianos acossam quem cumpre o seu dever, vedando acesso a determinados setores do sítio de Grabova.

                Muita vez se lê ou se ouve a assertiva de que a fonte jornalística não pode asseverar a eventual conformidade aos fatos das declarações de testemunhas – e me reporto, como é óbvio, não a quem procura dificultar e afastar os técnicos empenhados na vistoria do desastre.  Pois, se para algo servem os indícios, vedar acesso, dificultá-lo ou restringi-lo a áreas determinadas, é comportamento inaceitável e que implica em intento de ocultar ou impossibilitar à fiscalização de determinar as causas desse ‘acidente’ aéreo.  O ditado ‘quem não deve, não teme’ realça aspecto importante das tentativas de negar acesso à verdade dos fatos.

               Por isso, que é relevante enfatizar pela sua pertinência e determinação o telefonema do Primeiro Ministro Mark Rutte que confrontou o todo poderoso Vladimir Putin, Presidente de todas as Rússias, vincando com a energia dos que abraçam as causas justas a responsabilidade do Senhor do Kremlin em fazer com que os milicianos pró-Rússia, movimento criado para desestabilizar a Ucrânia, ajudem os esforços internacionais nos trabalhos de resgate e recuperação dos corpos das vítimas do voo MH17 da Malaysian Airlines.

                Há muitos elementos que comprovam a entrada na Ucrânia oriental de três sistemas de mísseis guiados por radar Buk-1 ou AS-11. Eles provieram da Rússia, e foram acompanhados por cidadãos (técnicos) russos. Ainda nesse sentido, o Primeiro Ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk declarou à imprensa alemã que a queda do avião é obra de especialistas, e não de um bando de ‘gorilas bêbados’, e nesse contexto, Yatsenyuk voltou a acusar a Rússia.

                Estimulado pela fácil conquista da Criméia, a que facilitou em demasia o fato de o governo federal da Ucrânia estar então na prática acéfalo, Vladimir V. Putin terá julgado que a porteira continuava aberta para a sua política de duas caras. Por um lado, com o biombo do Ministro do Exterior, Sergei Lavrov, se comprometendo em Genebra com acordos que rasgaria logo adiante, sem esquecer a cortina do oficialismo a apregoar repensamentos e supostas boas intenções. E por outro lado – e aí está de volta a velha KGB – deixa, na prática, sair dos porões da clandestinidade os não-tão embuçados agentes do velho imperialismo russo.

 

Causas da 1ª Guerra Mundial (contd.)

 

                O cortejo real passou por casas e lojas adornadas com  bandeiras preta e amarela  dos Habsbourg, e vermelha e amarela da Bosnia. No caminho do Arquiduque estava Muhamed Mehmedbasich, natural de Sarajevo, que tomara posição na ponte Cumurija. O primeiro elo da cadeia conspiratória sentia crescer-lhe a volta a tensão com os aplausos para o Príncipe. A bomba que deveria lançar na direção do carro, para que explodisse carecia que a capa de percussão fosse quebrada. A ação produzia um estalo forte, e a partir de tal instante, o engenho precisava ser jogado sobre o alvo, porque iria explodir de qualquer modo. Muhamed conseguiu retirar o que recobria o artefato, mas por razão não determinada – o medo de um polícia, o peso da responsabilidade e o próprio risco – não arremessou a bomba.

                 Mais adiante estava o bósnio-sérvio Nedeljko Cabrinovich, que se postara na calçada da margem do rio. Foi o primeiro assassino a entrar em ação, jogando a bomba com o detonador já acionado na direção da viatura. O guarda-costa do arquiduque, Conde Harrach, interpretou o barulho como se um pneu houvesse estourado, mas o motorista divisou a bomba que vinha na direção do carro e teve o reflexo de pisar no acelerador. Não se sabe se o Arquiduque logrou afastar o engenho ou se este bateu no tecido dobrado do teto do compartimento de passageiros, e se apartou do alvo, caindo por baixo do seguinte carro do cortejo. A explosão abriu cratera na rua e feriu a vários agentes que o veículo transportava.

                 O arquiduque respondeu ao atentado com surpreendente sangue-frio. Olhando em volta, viu que o terceiro veículo estava desabilitado. Havia muita poeira e fumaça no ar, e o barulho da explosão perdurava.  Uma lasca de vidro cortara a face de Sophie, mas era o único ferimento do casal. Havia feridos no terceiro carro, e o que mais sofrera era o assistente do general Potiorek, o Coronel Erik von Merizzi.  Ele estava consciente, mas sangrava muito na cabeça. Alguns populares também haviam sido feridos.

                  Alguém com experiência de segurança, teria organizado a saída imediato do teatro da ação, porque, naquele momento, seria impossível determinar  se o atentado contra o príncipe tinha outros elementos. Ao invés de abandonar prontamente a área, o Arquiduque cuidou de providenciar tratamento para os feridos, e em seguida mandou que o comboio fosse até a Prefeitura no centro da cidade e de lá voltasse pelo mesmo bulevar do Cais Appel, de modo que o casal pudesse visitar os feridos no hospital. Sem dar tento ao que o bom senso e a prudência recomendavam, Francisco Ferdinando julgou que se tratava de um louco, que estava sozinho.

                      Aos solavancos, e não sabendo o que lhes esperava, o cortejo retomou o mesmo caminho. Os demais membros da conjura continuaram nos seus postos. O arquiduque lhes dava assim a oportunidade de concluir a sua macabra missão. Vaso Cubrilovich, o mais jovem dos terroristas, não sacou o revólver porque no último momento viu que a duquesa estava ao lado de Francisco Ferdinando. “Tive pena dela”, declarou depois.  O seguinte, Cvijetko Popovich, também falhou, imobilizado pelo medo: ‘perdi a coragem quando no último instante enxerguei o Arquiduque’. Quando soube da bomba de Cabrinovich, correu para a sede Prosvjeta (sociedade cultural sérvia) e escondeu a sua bomba por trás de uma caixa no porão.      

                      O único que não perdeu a calma foi Gavrilo Princip. De início pensou que o complô tivera êxito. Correu  para o posto de Cabrinovich, e viu que estava sendo levado pelos seus captores, demonstrando o extremo desconforto provocado pelo veneno que ingerira. ‘Logo vi que tinha falhado, e que não tinha conseguido envenenar-se. Resolvi então liquidá-lo, mas nesse momento os carros passaram.’ Pensou então voltar à sua missão, mas os carros passaram depressa demais. Pode, no entanto, ver o Arquiduque com a nitidez que o seu capacete adornado de penas verdes de avestruz lhe conferia. O restante conspirador, Trifko Grabez, havia deixado o seu posto à procura de Princip. Quando o cortejo passou tampouco lançou a bomba, pretextando depois que a multidão lhe impedira de retirar o artefato debaixo de seu abrigo.

                       Como o cortejo chegou até a sede da prefeitura sem qualquer outro incidente, podia até pensar-se que o Arquiduque estava certo em manter o programa. Ali haveria pequena cerimônia, em que o casal seria saudado pelo prefeito Fehim Effendi Curcic. Tudo saíra errado, e Curcic sabia que a sua inócua saudação se tornara inadequada. Nervoso, resolveu ir em frente. Quando Curcic disse que os cidadãos de Sarajevo saudavam Sua Alteza da forma mais entusiasta e com a mais cordial das boas-vindas, Francisco Ferdinando o interrompeu colérico: “Venho aqui como seu hóspede e seu povo me recebe com bombas!”  Seguiu-se horrorizado silêncio, enquanto Sophie sussurrava no ouvido do marido. Este, recuperando a calma, disse : “Muito bem. O senhor pode continuar.”

                        Quando Sua Senhoria Curcic concluiu a saudação, o príncipe falou de improviso, eis que as folhas com o seu discurso estavam manchadas do sangue do oficial que viajara no terceiro carro. Terminadas as falas, o casal se separou por alguns minutos. O arquiduque aproveitou para ditar  telegrama para o Imperador, dizendo que o casal estava bem, e que lhes estavam sendo mostradas as salas de recepção da Prefeitura. Então pareceu que o choque da manhã se fazia afinal sentir. Segundo testemunha local, ele passara a falar numa voz esquisita e fina.

                         Perguntado pelo Arquiduque se um outro ataque seria provável, o Governador Potiorek respondeu que lamentavelmente, a despeito de todas as medidas, não era possível excluir a possibilidade. No entanto, o Arquiduque modificou a proposta de sair logo da cidade, ou então ir para o palácio do governador, de onde rumariam para a gare Bistrik, de onde o casal viajaria para Viena. Antes disso,  o Arquiduque queria visitar no hospital o ajudante de ordem de Potiorek, ferido no atentado da manhã.

                           Por sua vez, a esposa Sophie preferiu acompanhar o marido até o hospital, ao invés de seguir seu programa. Na confusão, tinham esquecido de avisar aos motoristas a mudança no itinerário. Por isso, ao passarem pelo bazar, o veículo guia dobrou à direita, justamente na rua Francisco José que, pelo ajuntamento e a possível presença de outro assassino,  o governador optara por não utilizar.  Ao ver que entravam no caminho errado, Potiorek repreendeu o chofer: “Este não é o caminho! Nós devemos tomar o Cais Appel !" Por isso o motor foi desligado, e o carro – que não dispunha de marcha à ré – foi lentamente empurrado para trás, na direção da via principal.

                            Chegara a hora de Gavrilo Princip. Ele se tinha posicionado em frente de loja no lado direito da rua Francisco José. Como o carro do casal real estava quase parado, ele logo ficou bastante próximo do coupé Graef und Stift. Não conseguindo retirar a bomba que tinha amarrada na cintura,puxou o revolver. No estribo esquerdo, o Conde Harrach olhava horrorizado o quadro. No carro, Potiorek vive a mesma experiência de irrealidade da cena: ao ouvir os dois tiros ele encara o assassino, mas não vê fumaça nem centelhas dos tiros. Os tiros têm ruído abafado, como se viessem de longe.  A princípio, ambos pensam que o terrorista haja errado, porque o casal permanece sentado nos respectivos assentos.

                             Na verdade, Gavrilo Princip – que quase foi linchado pela multidão – acertara o alvo. Embora aparentassem estarem incólumes, o casal sofrera ferimentos letais: o primeiro tiro atravessou a porta do carro e penetra no abdômen da Duquesa, cortando-lhe a artéria do estômago; e o segundo disparo atinge o Arquiduque no pescoço, rasgando-lhe a jugular.

                             Enquanto o carro vai em disparada para o Konak (o palácio do governador), Sophie foi resvalando até que o seu rosto fique entre os joelhos do marido. O governador pensa de início que ela tenha desmaiado.

                             Por sua vez, o Conde Harrach, que se segura no estribo, logra evitar que o Arquiduque caía para a frente, ao segurá-lo pelo colarinho do uniforme. Nesse instante, ouviu na débil voz de Francisco Ferdinando palavras que depois ressoariam por todo o império: ‘Sophie, Sophie, não morre, fique viva por nossos filhos !’

                              Então, o capacete de plumas verdes de avestruz cae de sua cabeça. Neste momento, Harrach lhe pergunta se sente dor, e o arquiduque repete, por mais de uma vez, em sussurro  ‘Não é nada!’, até que venha a perder a consciência.

                              Transportados para o Palácio Konak, Sophie  chega morta. Por sua vez, o Arquiduque está comatoso. Seu valete, o Conde Morsey, veio correndo, desde a cena do crime até o palácio do governador. Colocado o príncipe em quarto do primeiro andar, Morsey tenta facilitar-lhe a  respiração, cortando a frente de seu uniforme. O sangue retido mancha os punhos amarelos do uniforme do valete. Ajoelhado ao lado da cama, ele pergunta se teria mensagem para os filhos. Não há resposta. Seus lábios já se enrijecem. Em poucos instantes a morte do herdeiro aparente da Coroa austro-hungárica é constatada. Passavam alguns minutos das onze da manhã.    

         (a continuar no próximo domingo)

 

Justiça e Imprensa na prisão de Sininho e mais 22 ativistas

                             

                         Excetuada a censura inconstitucional e a plena validade do direito internacional humanitário entre nós,  não é meu feitio ocupar-me de questões afeitas à magistratura e ao direito em geral. Bacharel pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, em dezembro de 1960, segui o Instituto Rio Branco e a carreira diplomática. Mas não esqueci as lições e o exemplo de Hermes Lima, Hahnemann Guimarães, Oscar Stevenson e Haroldo Valadão.

                         Tenho acompanhado a odisseia do grupo de que Elisa Quadros, a Sininho, é a figura mais conhecida. No momento, cinco ativistas permanecem presos em Gericinó e outros dezoito serão procurados pela polícia.

                          A imprensa tem sido bastante discreta no que tange a essas prisões. As notícias são enfurnadas nas páginas internas dos jornais, e salvo erro ou omissão não topei com editoriais sobre o assunto.

                          Não obstante, como a democracia que pretendemos ser, me parece questão que merece atenção e debate. Valendo-se de sua prerrogativa constitucional, os deputados Jean Wyllys, Chico Alencar e Ivan Valente, todos do PSOL, e Jandira Feghali (PCdoB) entraram nesta quarta-feira com uma reclamação disciplinar contra o magistrado Flavio Itabaiana. Consoante nota de O Globo, eles alegam que o citado magistrado agiu com arbitrariedade e abusou do poder, ao determinar os mandados de prisão temporária, na semana passada.

                          Ontem, dia dezoito de julho, consoante a citada notícia de O Globo, o juiz se pronunciou, por meio de nota, rebatendo as críticas e afirmando que os parlamentares deveriam se dedicar a agir em “prol do povo brasileiro”.

                          Data vênia, a mim semelha que esses deputados, ao defenderem os ativistas presos, estão agindo em prol do Povo brasileiro. Como Sobral Pinto não está mais entre nós, é importante que os aludidos parlamentares se empenhem na defesa de cidadãos brasileiros.

                          Ontem, a menos de duas horas depois de o Desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara Criminal, ter determinado a soltura dos últimos cinco presos, o juiz Flavio Itabaiana, da  27 ª Vara Criminal, decretou a prisão preventiva de 23 pessoas do grupo investigado – prisão essa que pode perdurar até o julgamento.

                          Na sua decisão, como reporta O Globo, o juiz Flávio Itabaiana disse que decretou a prisão preventiva para a garantia da ordem pública e qualificou o grupo como perigoso. Segundo o magistrado essa periculosidade se evidencia por “terem forte atuação na organização e prática de atos de violência nas manifestações populares, o que se pode verificar pela prova produzida em sede policial”.                 

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, The New York Times; Christopher Clark (The Sleepwalkers)

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