sexta-feira, 25 de julho de 2014

Anão Díplomático ?

                                   

        Não é decerto por acaso que a declaração do porta-voz da Chancelaria israelense, Yigor Palmor, verberou de forma inusitada, sem dúvida grosseira, e, por conseguinte, nada diplomática, a iniciativa do Governo brasileiro de chamar para consultas o seu embaixador em Tel Aviv.

        Dentro do arsenal diplomático, se me permitem o oxímoro, a chamada do respectivo chefe de missão é, nas relações bilaterais, um dos recursos mais fortes da Chancelaria no que tange ao país em que está representada.

        Depois deste vem a ruptura de relações, que geralmente decorre de graves faltas do governo do país junto ao qual está credenciado o embaixador (os ministros de legação do passado já caíram em desuso).

        Como as regras da diplomacia se baseiam muito na etiqueta, a chamada para consultas é um pretexto de boa educação. Na verdade, e na mor parte dos casos, o que se quer demonstrar é o desagrado com determinada política, desagrado esse que pode ter motivação bilateral ou geral (como o é no caso em tela).

        Antes de analisar a declaração do porta-voz, cabe sublinhar que a iniciativa do governo Dilma logrou o seu objetivo, de que é prova irrefutável a exasperação do ministério do exterior e possivelmente do próprio gabinete israelense.  O senhor Palmor não teria sido tão pouco diplomático e mesmo chulo, se a iniciativa de chamar o embaixador para consultas,não pusesse um nervo israelense à mostra.

        Se se trata de anão diplomático, Israel é um deles. Apesar de ter relações com muitos países, na prática é grande o isolamento em que operam os seus agentes diplomáticos. Na praxe das visitas – que é norma consuetudinária entre as missões, embora assinale algum declínio  -  semelha penoso verificar o isolamento diplomático em que vivem os seus representantes, muitos deles com preparo e tirocínio.

        Esse isolamento não é só decorrente da circunstância de que as missões do Estado de Israel carecem de muita segurança. O fator preponderante dessa situação é a questão do povo palestino, e das notórias injustiças praticadas no que concerne a essa comunidade pelo governo de Tel Aviv.

        Uma, senão a principal chaga do mundo contemporâneo, está na desigualdade de tratamento às comunidades judaica e palestina. A despeito das tentativas de pôr cobro a tal situação, de que são prova os Acordos de Oslo, e as iteradas mediações de presidentes americanos – máxime de Jimmy Carter e de Bill Clinton – a história contemporânea é um registro desalentador de injustiça sistêmica contra o povo palestino, de que é prova a comum iniquidade nos juízos relativos à posse da terra – com a espoliação dos agricultores palestinos em favor dos ditos colonos hebreus, que se vão apossando de boa parte da margem ocidental do Jordão, com o apoio até da justiça de Israel.

          A posição diplomática do Brasil, desde o Ministro Antonio Francisco Azeredo da Silveira, assinalou importante evolução, no sentido de assegurar os direitos da comunidade palestina no contexto da questão do Oriente Médio. Se o Ocidente através da Grã-Bretanha assegurou pela  Declaração Balfour, de novembro de 1917, em mensagem à comunidade judaica o estabelecimento na Palestina, é importante que os direitos da comunidade palestina sejam respeitados em termos de igualdade, o que até o presente não tem evoluído – malgrado resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas – para acordo em que os direitos dos palestinos se tornem efetiva realidade.

           Se a história mostra alguma coisa, será que nem muros, nem bantustans dão às entidades supostamente mais poderosas a segurança e a normalidade nas relações. No caso em tela, a Justiça é a força mais relevante para estabelecer-se a real e pacífica coexistência de duas comunidades históricas da Palestina – a judaica e a árabe-palestina.

           Dessa realidade já existe em Israel uma corrente – ainda minoritária – quanto  à necessidade de repartição da terra baseada na justiça, e não na expulsão sistemática da componente palestina. Os Estados Unidos dariam um bom exemplo se se empenhassem pelo cumprimento das Resoluções nesse sentido do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

           Enfiar a cabeça na areia, e continuar a atual política, equivalerá à certeza de que novas guerras eclodirão, porque a injustiça é demasiado pesada para que possa haver convivência pacífica entre as áreas confinadas em que é tolerada a presença da comunidade palestina, e as áreas na prática desenvolvidas e de alto padrão de vida, ocupadas pelo Estado de Israel. A reconciliação será sempre possível, desde que fundada sobre a boa fé e a disposição de um entendimento paritário.

           A História está bem aí para evidenciar que os muros – limes – são de pouca valia para os Impérios. Basta ver o Romano, para dar-se conta que há outras soluções mais inteligentes e duradouras.

           Que tal experimentar a paz?

 

(Fontes subsidiárias:  O  Globo, Folha de S. Paulo)

Um comentário:

Mauro disse...

O que dizer então da total surpresa com que o governo recebeu a reação israelense? Antes mesmo da ofensa o Brasil já vestia a carapuça, ao não esperar grandes consequências de seu ato.
Infelizmente, por questões ideológicas o Brasil jogou fora o enorme capital moral que a sua diplomacia construiu, e converteu-se realmente em um anão. Falar em conselho de segurança hoje em dia beira o ridículo.