terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O Presidente Ioiô

                                              

        Nunca presidente de uma nação mostrou mais flagrante desrespeito pela vontade da maioria de seu povo.  Depois de longa negociação com a União Européia, subitamente Viktor Yanukovych encontra-se com seu vizinho, o Presidente Vladimir Putin, da Federação Russa, e, sem mais, sinaliza para os ucranianos que se apresta a entrar para a União Aduaneira organizada por Moscou, a que se associam a Bielorrússia, o Kazakstão e outras ex-repúblicas da esfera soviética.
       Quanto ao longamente negociado Acordo com a União Europeia, que a população ucraniana vê com favor, ao firmar laços com o Ocidente, Yanukovych, sem pestanejar, o joga às urtigas. Assim, a longamente planejada reunião em Vilnius, na Lituânia, dela não mais participará o governo de Kiev.

      A maneira abrupta e desdenhosa com que desfaz da vontade do povo ucraniano não poderia ter sido expressa de forma mais brutal por alguém que, ao invés, deve ter sempre presentes as prioridades da nação.
     Sem mais a quem recorrer do que a si próprio, e a manifestar nas ruas e na praça da Independência o que, nem o Gabinete, nem o Parlamento, se acha em condições de fazê-lo, o povo acorre ao centro de Kiev, vindo de todas as partes do país, para manifestar sua indignação e restabelecer a vontade soberana da sociedade, no sentido de que Yanukovych não mais olhe para o passado e a antiga metrópole, mas encare a opção do Ocidente e da democracia.

     A coragem e a fortaleza da multidão por duas vezes prevalece, arrostando rigor e  inclemência do tempo, assim como os embates com a polícia de choque, desmoralizando a cada vez os intentos de sufocar seja pela força, seja pelo cansaço o propósito de uma gente que prefere a liberdade aos acenos de gospodin Putin, sucessor dos tzares e secretários-gerais da União Soviética.
     Nem a lição da mesa redonda de 2004 que, com a revolução laranja, anulara a eleição fraudulenta de Yanukovych, e no reconvocado pleito, escolhera Viktor Yushchenko, parece capaz de mostrar ao presidente atual a importância de respeitar a vontade do Povo.

      Mais uma vez, o presidente enjeita a preferência do povo, e se reúne com Vladimir Putin. Sob as muralhas do Kremlin, Yanukovych se reúne com Putin. Surdo aos protestos, e agindo como se fora um autista, o presidente ucraniano  revela que o novo-velho acordo abrange indústria, agricultura, defesa, construção e transporte.  Na conformidade do cenário imperial, os dois presidentes proclamam que a planejada cooperação será benéfica para os dois países.
       Ainda mais, acrescenta Putin, ‘Estamos prontos a examinar a possibilidade de maior aproximação nas esferas econômica e política’.

       Diante de presidente que diz uma coisa na véspera – sob a pressão de seus predecessores e dos líderes parlamentares, que buscam expressar o sentir da maioria – mas logo atende aos chamados de gospodin Putin, para dar o dito por não-dito, só resta ao Povo da Ucrânia voltar às gélidas praças e aos palácios sem calefação, para impor a própria vontade.
       Como para eles a liberdade e o direito de decidir do respectivo destino são conquistas recentes, preferem defendê-las como se fossem antigos e preciosos bens, a exigir todo tipo de sacrifício.

       De longe, a tudo assiste do catre de Kharkov vítima ilustre de Viktor Yanukovych. Mas não há opróbrio que sempre dure, nem fasto que nunca se acabe.
       Pois a paciência da multidão revolucionária, sobretudo se à frente desfraldam os estandartes da democracia, pode ter limites, para que uma vez mais se repitam os trágicos choques entre o déspota de turno e a anônima, mas luzente infantaria da liberdade.    

       

(Fonte: CNN)    

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