sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Ucrânia na encruzilhada

                                  

         Segundo os especialistas em Ucrânia, esta antiga república soviética acha-se dividida demograficamente em componentes bastante equilibrados. Se na área oeste do país, a preferência é pelo Ocidente, já na área oriental o é pela Rússia. Nesse contexto, em todo o país, perguntados acerca da questão central da presente crise em que se debatem Presidente, partidos políticos, manifestantes e a própria população em geral, a consulta sinalizou que 37%  são  a favor da União Europeia e 33%, da União Aduaneira com a Rússia.
         Por força dos problemas fiscais ucranianos, se julga que o presidente Vladimir Putin, na sua disputa com Bruxelas, estaria assumindo consideravel risco  ao subscrever o equivalente a quinze bilhões de dólares de títulos da dívida  de Kiev, além de oferecer o substancial desconto no preço do gás natural (exportado pela Rússia para a Ucrânia) de 25%, a par de outras vantagens oferecidas a Kiev. Todo este pacote implicaria na adesão pela Ucrânia da União Aduaneira com a Rússia (de que participam a Bielorrússia e o Kazakstão). A pergunta que fica no ar é se Yanukovych poderá resistir à reação das multidões que na Praça da Independência de Kiev contestam justamente a sua liderança, por preferir Moscou a Bruxelas.

         Se Viktor Yanukovych é refutado pela maioria em Kiev, os especialistas em Ucrânia recordam que este presidente fora eleito por doze milhões e quinhentos mil votos em 2010, com a proposta de restaurar os laços com a Federação Russa.
         A sua principal adversária naquele pleito foi Iulia Tymoshenko, tendo sido a contagem dos sufrágios contestada em certas áreas. Verifica-se, outrossim, pelo cômputo geral, que o pleito foi assaz renhido, eis que a Tymoshenko obteve um total de 45,47% (apenas três pontos percentuais a menos do que o rival eleito).

         Aí está a verdadeira razão de todas as indignidades judiciárias que o regime de Yanukovych tem manipulado para agrilhoar a candidata com as tranças camponesas. No próximo pleito presidencial, marcado para 2015, Yanukovych quer ver o diabo, mas não Yulia Timoshenko, pela real ameaça que ela representa para a sua candidatura à reeleição.   
         Da judicialização das disputas políticas nos países da antiga órbita soviética, a Tymoshenko constitui o exemplo mais escandaloso. O recém-eleito Yanukovych obteve de um dócil juiz pesada pena para a sua mais séria (e, portanto, mais temível) rival. Todas as tentativas – inclusive da União Europeia – de pôr um termo a tal escândalo judiciário – a ex-primeira ministra continua encarcerada no lazareto de Kharkov – tem sido contornadas pelo presidente. Para os dirigentes oposicionistas, Yanukovych pode até mostrar seletiva clemência, mas tais anistias mais servem para falsear o problema maior – a injusta prisão da Tymoshenko – e assim mostrar um suposto mas espúrio espírito de conciliação. Como o óbvio escopo é mantê-la presa, tudo não passa de um cínico espetáculo em que tudo é válido para Viktor Yanukovych, desde que sua adversária-mor continue presa.  

          

(Fontes:  The New York Times;  Folha de S. Paulo )

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