quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

As Chuvas de Fim de Ano

                               
                                          

      Entram e saem prefeitos e governadores no Rio de Janeiro (cidade e estado), as suas promessas e providências serão sempre as mesmas, com as chuvas alagando grandes extensões – de preferência, a periferia da antiga capital e a Baixada. A região serrana treme no anúncio de fortes aguaceiros. Entra ano, sai ano, o cenário não costuma mudar muito. Seja na inclemência das tempestades de verão, que alagam ruas com bueiros entupidos, os muitos rios vicinais viram impetuosas torrentes, capazes de invadir pobres casas e até afogar infelizes, seja nos desastres maiores, com direito a inundar avenidas, ilhar veículos sem distinção entre calhambeques e carros de último tipo, e até flamantes ônibus e caminhões com suculentas, irresistíveis cargas para os saques do anônimo povo de comunidades e vilas sem saneamento básico, sempre candidatas às perenes águas altas, que vem para carregar camas, mobílias e eletrodomésticos, comprados a suadas, sofridas prestações ou até com programas do governo federal...
    Em meio aos mortos e desaparecidos, que variam nas cruéis tabulações, as coberturas de reportagem, com direito a interromper até novela, há sempre uma constante. A séria, confrangida fisionomia das autoridades, municipais e até estaduais, que ali estão, solícitas e disponíveis, para dizer o quanto lamentam o desastre natural, a inundação, o soterramento ou o que valha. Dos mais velhos, quem não se lembra de Ulysses Guimarães e a turba malta de acompanhantes, se esgueirando em cima de trilha precária, para expressar em Petrópolis a solidariedade da vez... E as ocasiões variam, dependendo da localização e da gravidade do sinistro ou até calamidade pública, mas o cenário básico, fundamental desse grande teatro existencial, não. A presença da autoridade, federal, estadual ou municipal se ajusta à maravilha ao impacto e às consequências do desastre. Depois da chuva e dos fenômenos decorrentes, tampouco há originalidade nas promessas e nos compromissos. Naquele momento solene - sob as câmaras e olhares circunspectos – o céu é o limite (sem trocadilhos, por favor).

    Mas, com o passar do tempo e das desgraças, a dúvida, e mesmo algum ceticismo, poderão ser imaginados no olhar do flagelado. Enfim, passa o tempo, mas não a lembrança da tragédia, incômoda e desagradável, na circunstância de arranchar-se em precários galpões e abrigos, em que a situação de propriedade desaparece e nada é de ninguém. A corrupção, mesmo não convidada, se faz presente: no furto das doações, no desvio dos fundos para grandes e definitivas obras, mas sobretudo na continuada desatenção no saneamento básico, nas tubulações de escoamento das águas pluviais, em tudo o mais o que já foi feito nos bairros nobres, e que a burocracia faz emperrar nas zonas da periferia, onde a coleta do lixo pode ser moeda de troca, e até de vingança eleitoral...

    A pobreza são os pés de barro de uma elite que pode chorar, na véspera de eleições e sob o chicote de situações de calamidade pública. Eis apelativo altissonante  que quer impressionar o grande público, mas não engana povão e as vítimas. Nesse pomposo título vêem arremedo de sentimento, que costuma evaporar-se sob o sol inclemente das tarefas e deveres de uma vida que infelizmente tem o mais que fazer do que amofinar-se com tragédias da véspera...

 

(Fontes subsidiárias: O Globo, Rede Globo, Folha de S. Paulo)

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