sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nelson Mandela (1918 - 2013)

                                          
         Todos os prêmios com que foi galardoado Nelson Mandela como que se apequenam diante da grandeza do personagem.

          Não nascido em berço de ouro, Mandela pela trajetória de vida e a capacidade de assimilar lições mostra que um ser humano feito com o barro que moldou Madiba pode surpreender não só correligionários, mas também os adversários e até mesmo seus algozes.
         A história da vida de Mandela é relevante menos pelos anos de sofrimento e de forçada reclusão, do que pela resposta que soube encontrar, em vários momentos determinantes de sua existência.

         Arnold Toynbee em sua obra[1], hoje esquecida (quem sabe temporariamente), nos mostra a importância nas civilizações não só do desafio (challenge), senão e sobretudo da resposta (response). Dessarte, a História nos ensina que o êxito reside na qualidade e na inventiva da resposta.
         Na vida de Mandela se patenteia com demasiada força que os desafios – e que desafios! prisão perpétua, depois comutada - não foram obstáculos, mas na verdade degraus para que surgisse o político Nelson Mandela.

         Sempre com generosidade e firmeza, venceu a todos os óbices (sem falar do regime do apartheid, os abusos da segunda esposa[2] e parentes, a resistências de antigos co-militantes) e caminhou para lograr o que muitos reputavam impossível, a união de negros e brancos.
         Após derrotar a Frederik de Klerk, no pleito de 1994, não fundou a própria ação na vingança, mas sim na reconciliação. Teve a força necessária de controlar pelo exemplo e a autoridade  franjas provocadoras na comunidade negra, que buscavam, na suposta justiça retributiva, enveredar pela senda sem retorno do ódio, da contraposição e da desagregação social.

          Ao enjeitar a caça às feiticeiras, teve a indispensável firmeza  de dar o exemplo, confirmando as autoridades constituídas no seu respeito às instituições. Para tanto, não lhe faltou carisma, nem coragem, e tampouco inventiva, como demonstraria na utilização do campeonato mundial de rugby, antes esporte da minoria branca, como forma de soldar a união de todas as camadas populares – negros e brancos. Com  empenho, denodo  e a personalidade do líder, pelo exemplo e a equanimidade, soube conduzir e possibilitar, diante do público multirracial nos estádios, a difícil, quase impossivel vitória-símbolo da União Sul Africana sobre a equipe adversária, a temível Nova Zelândia.
            Os presidentes sul-africanos que o sucederam – Thabo Mbecki que enxergou a Aids através do prisma racial, uma desculpa no seu entender, para reforçar estereótipos de africanos como primitivos e incapazes de controlar a libido. Ao combater a suposta centralidade dessa visão estereotipada, caíu presa de charlatães, acreditando até em que o flagelo da Aids pudesse ser vencido através de remédios tribais;  e Jacob Zuma, com as façanhas conjugais e a maneira constrangedora de instrumentalizar diante da mídia as aparições do nonagenário Mandela combalido e contrafeito – nos mostram que são feitos de outra matéria que Nelson Mandela.

            A dizer verdade, Mandela não carece deles para nada. O que dói é que com a partida de Madiba, a mediocridade ora se afirma como a prevalente  realidade  na União Sul-Africana.
            Pois os grandes homens, quando caídos parecem ainda maiores.

 

(Fonte subsidiária: Folha de S. Paulo)



[1] A Study of History (Um Estudo da História)
[2] Winnie Madikizela.

Nenhum comentário: