terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O Claro Enigma de Hugo Chávez


            Como conhecimento é poder – um velho preceito eclesial – é inteligível  que o presidente Hugo Chávez Frias (e agora seus potenciais sucessores) tenham dado prioridade ao que estimam necessário controle da informação sobre procedimentos terapêuticos.
            Quando não é factível subtrair um fato da informação disponibilizada para a comunidade nacional, essa postura – em que a ideologia se cinge à manutenção do poder e, portanto, inexistirá diferença de atitude entre regimes de direita ou de esquerda – se aterá à estrita limitação desta informação a elementos básicos que não possam ser subtraídos da população interessada.
            Como se fosse rígida dieta, o projeto permanente de poder de um regime autoritário cuidará de limitar a informação àquilo que não lhe seria possível ocultar. Por outro lado, se restringe a dose, para evitar eventuais indigestões ou alegada má-utilização dos dados revelados.
            As precedências são estabelecidas no interesse do regime, e não  de seu atual representante máximo. Nesse sentido, a prioridade será sempre epistêmica (conhecimento), e não a do interesse clínico do líder (e paciente).
            Assim, Hugo Chávez, inteirado da ameaça do câncer pélvico, optou pela escolha ideológica de tratamento em Havana, ao invés de submeter-se a um centro médico mais adiantado, como o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. A preferência se deve não à excelência do tratamento (e à maior possibilidade de controle da enfermidade). Como aqui não se admitem restrições à informação, o projeto autoritário não hesitará em optar por Havana, malgrado os menores recursos disponibilizados por tal centro. A seleção do sítio de tratamento se afigura, sem embargo, lógica, por uma singela razão: para o poder autoritário o que sobretudo importa é o controle da informação. Nessa negociação com o diabo, a precedência estará na manutenção do poder, na medida em que o líder (e o seu círculo) tenha mais condições de controlar o acesso da sociedade sobre a sua real situação clínica.
             Como se vê, aqui existe um paradoxo. Em condições normais, quem não optaria por u’a maior possibilidade de cura? No entanto, a lógica autoritária – máxime se colocada diante de uma crise no que tange à respectiva manutenção no poder – há de pender sempre para o que lhe assegure maior controle da situação, especialmente na fase aguda de uma eventual sucessão. Nisso, os regimes fortes tendem a ser autofágicos, porque para subsistirem farão não o que normalmente seria o procedimento mais apropriado no interesse da sobrevivência do líder máximo, mas o que lhe promete melhores condições para superar a fase delicada, em que o chefe carismático sai de cena, e carece, no interesse da elite dominante, de ser prontamente substituído por alguém que logre preservar o poder grupal.
            Até o presente, o chavismo tem lidado nessa forma auto-preservativa com a grave enfermidade do Líder.  Revelada a doença em junho de 2011, a descoberta apenas pôs a nu o caráter improvisacional do governo do coronel Hugo Chávez.  Ao contrário dos procedimentos usuais, em que o check-up médico é uma passagem obrigatória para os mortais, em especial depois dos cinquenta anos, Chávez só se percatou de ter uma neoplasia (do tamanho de pelota de baseball) na região pélvica por um marcado incômodo físico.
            As próprias dimensões de o que lhe foi retirado em Havana evidenciam-lhe a negligência com a respectiva saúde.  De lá para cá, a consciência do câncer se tornou uma intrusa presença na antecâmara presidencial.
             No ordálio sofrido pelo Presidente da Venezuela, o último avatar foi representada pela indiscreta e inoportuna intromissão da enfermidade após a sua última reeleição. Ao partir para Havana, com pressagas suspeitas, Chávez ungiu como seu sucessor, diante de um presumível impedimento, o Vice-presidente Nicolas Maduro (nos países de hispano-américa, a vice-presidência não tem o peso atribuído pelos brasileiros. Por conseguinte, um fenômeno José Sarney, após a partida de Tancredo Neves, é impensável entre os nossos hermanos).
             Desde então, Maduro – e o ministro da Informação, Villegas – vem administrando a evolução da enfermidade de Chávez. Apesar das intencionais neblinas para o conhecimento, com as doses homeopáticas sobre o estado de saúde do Presidente, as indicações sobre os familiares a seu redor, a infecção respiratória (que semelha ser pneumonia), e todo o entorno leva a induzir – a despeito da restrição na informação – que o pobre Hugo Chávez enfrenta séria crise que bem pode se estar encaminhando para a situação extrema, a um tempo trágica e prosaica. Triste característica da condição humana.

 

( Fonte subsidiária :  CNN )

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