domingo, 27 de janeiro de 2013

Colcha de Retalhos A.4

                                              

Eleição de Renan em perigo ?
           
         O  Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel,  enviou ao Supremo Tribunal Federal denúncia contra o Senador Renan Calheiros (PMDB-AL) por haver alegadamente submetido notas fiscais frias, na tentativa de negar que as suas despesas com a jornalista Mônica Veloso – com quem teve uma filha – eram pagas por um lobista da empresa Mendes Júnior.
         Como se sabe, desde 2007 o caso tramita no STF, com relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski.  Na época, o episódio levara Renan a renunciar à presidência do Senado, com o que evitou  sua cassação. 
         Diante da reapresentação da denúncia pelo Procurador-Geral, a assessoria de imprensa do Senador, por nota, afirma que a denúncia em apreço “padece de suspeição e possui natureza nitidamente política”. E, a propósito, assinala: “Apesar de se encontrar parada (...) desde fevereiro de 2011, a denúncia foi protocolada exatamente na sexta-feira anterior à eleição para a Presidência do Senado”.
         É, por outro lado, confirmada pela procuradoria a entrega da acusação, que tramita sob segredo de Justiça. Os autos do inquérito estavam com o Procurador Gurgel desde abril de 2011. Segundo a Procuradoria, o intervalo se deve à circunstância de o processo ter milhares de páginas. Acresce o fato de que Roberto Gurgel priorizou a ação penal 470, i.e., o processo do mensalão, no ano passado.
         As aludidas notas fiscais – que seriam frias, de acordo com a imputação  – dizem respeito à venda de bois.
         Sendo relator do processo em tela no STF o Ministro Ricardo Lewandowski  que, no momento acumula a presidência interina do Supremo, a ação cai em mãos já conhecedoras da questão sob litígio. Por ora, no entanto, o segredo de justiça impede a divulgação dos eventuais crimes imputados ao Senador.
        De qualquer forma, é mais uma pedra no caminho do Senador das Alagoas.

 
Precipitada a morte política de Silvio Berlusconi?

 
       Não está esquecida a dócil saída de cena de Silvio Berlusconi, atolado em escândalos judiciais, e sob atmosfera de desmoralização política. O herói do bunga-bunga cedeu o lugar ao tecnocrata Mario Monti sem levantar muita poeira.
       Sem embargo, o político Berlusconi conhece como ninguém a ojeriza do contribuinte italiano diante dos impostos (le tasse).  Por isso, promete como primeira medida de um gabinete sob sua direção a ab-rogação da taxa sobre a propriedade, que fora restabelecida pelo ministério de Mario Monti.
         Nas pesquisas para as próximas eleições gerais, o centro-esquerda lidera, com 38% dos votos, seguido pelo partido de Berlusconi, com 27%,  e o de Monti, com 14%.
         Não é à toa que através dos anos – e mais notadamente no melancólico cerrar de cortinas da última vez – que o óbito político de Silvio Berlusconi tem sido noticiado. O problema está – para empregar uma caracterização de Mark Twain – no relativo exagero com que esse desenvolvimento é  descrito pela mídia...

 
Diderot e o Panteão


            O Presidente François Hollande indicou que pretende acolher no Panteão o filósofo Denis Diderot.  Em outubro de 2013, o autor de “Jacques o Fatalista” completaria trezentos anos.
            Se politicamente a influência do enciclopedista tenha sido menor do que a de Jean-Jacques Rousseau e Voltaire, a sua presença na última morada de La République terá sido retardada por motivos religiosos, eis que a sua negação de Deus – ao contrário do deísmo de Rousseau e Voltaire – tende a ser interpretada como a razão que lhe barrou o caminho do reconhecimento oficial.
            A presença cultural de Diderot – sobretudo pelo seu trabalho com a edição e a publicação da Enciclopédia – já constitui título bastante, dada a sua identificação com o que representou o Iluminismo, na história da progressão da Humanidade.
            Há grandes contribuintes – Voltaire, Montesquieu, Rousseau - para tal monumento da cultura que é a Enciclopédia (1751-1766), mas os fundamentos deste vetor do Iluminismo estão com os editores Diderot e D’Alembert.
           De todos os pensadores do Iluminismo francês, Jean-Jacques Rousseau foi o mais perseguido.  Cidadão de Genebra, seria por ela renegado  até a morte. A  estátua em honra do filho dileto viria depois. Por sua vez, Montesquieu ficaria nas guardadas alturas da separação dos poderes, enquanto Voltaire, com suas muitas faces, lutaria pela liberdade de expressão e a tolerância religiosa.
           Por uma série de circunstâncias, Diderot soube manter-se em outro plano. Moderno e simpático, sua discrição lhe assegurou trânsito que o aproximou de personagens difíceis e muita vez contrapostos.  

           

( Fontes:  Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )a

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