terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Discurso do Segundo Mandato


         A ocasião foi saudada por muitos com regozijo e expectativa. Por isso, o comparecimento maciço – o maior público para a posse de um presidente reeleito. Se a multidão de 2009 constituíra uma ocasião única, com o simbolismo envolvido, e o anseio da prometida mudança, a relevância desta segunda posse está gravada para muito além nas fisionomias dos dignitários que são os interlocutores imediatos do  Presidente Barack H. Obama.
         De um lado, os semblantes crispados da oposição republicana, que vê com desconforto a permanência de um presidente democrata, a quem o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell rogara confinar ao limbo dos malogrados mandatários de um só mandato. Mais do que a sombra da derrota de seis de novembro p.p., se desenha nos rostos das autoridades do GOP, com o Speaker John Boehner à frente, a certeza de ter pela frente um contendor fortalecido, que tem contas a prestar mais à posteridade do que ao eleitorado estadunidense.
         Que a festa era de Obama e do Partido Democrata, tal podia verificar-se não só pela efusão de seus correligionários, grandes e pequenos, senão por contraídas presenças e talvez não menos reveladoras ausências, como a do ex-presidente George W.Bush.
        Nesse contexto, o discurso do presidente Obama será visto como a teia em que se articulam os grandes propósitos e os pequenos, porém reveladores gestos, que estão na base de uma grande aliança, fundada em liberalismo generoso e progressista.
        De início, a grandeza de uma pequena mas significativa promessa. Não mais permitir que o direito de voto seja cobrado em longas esperas.
        Também a expressão de compromissos maiores – que já tardaram demasiado – no campo do meio ambiente, em que não mais cabem dúvidas da ciência, com o empenho de uma luta contra tal desafio: ‘vamos responder à ameaça das mudanças climáticas, cientes de que deixar de fazê-lo seria trair nossos filhos e as gerações futuras’.
        A visão liberal como condicionante da realidade americana: ‘nós o povo declaramos hoje que a mais evidente das verdades – que somos todos criados iguais – é a estrela que ainda nos guia; assim como guiou nossos antepassados em Seneca Falls (direitos das mulheres), Selma (direitos civis) e Stonewall (direitos dos gays)’.
        Acenou também para atitude mais humana no que tange à imigração: ‘nossa jornada não estará completa enquanto não encontrarmos uma maneira melhor de receber os imigrantes jovens e esforçados que ainda enxergam a América como terra de oportunidades’.  Aludiu também às providências necessárias no campo da segurança e das armas: ‘nossa jornada só estará completa quando todos nossos filhos, desde as ruas de Detroit até as montanhas da Apalachia e as ruelas silenciosas de Newtown (cidadezinha de Connecticut, em que atirador solitário matou 26 pessoas, inclusive 20 crianças), souberem que são cuidados, amados e que serão sempre protegidos contra perigos’.
       Obama contestou a visão simplista de que os ‘ compromissos assumidos (...) através do Medicare, do Medicaid e da Previdência Social, não enfraquecem nossa iniciativa: eles nos fortalecem, e não nos convertem em nação de tomadores’.  O Presidente, cuja principal realização do primeiro mandato foi a Lei da Assistência Sanitária Custeável, que teve a constitucionalidade confirmada pela Suprema Corte, contradita  aqui a interpretação referida pelo candidato republicano  em Boca Ratón dos famosos 47% dependentes  do governo.
          Por fim, se ainda é cedo para desenhar os contornos do segundo mandato de Obama, não resta dúvida de que Washington terá um presidente mais experiente e mais independente das condicionalidades políticas.  Os republicanos não podem mais contar com as visões otimistas do presidente quanto ao espírito bipartidista. Têm pela frente um mandatário com menos ilusões, de certa forma endurecido pelos embates com o sectarismo do GOP. Nesse sentido, Barack Obama criticou de forma expressiva a hierarquia ideológica do Partido Republicano: “Não podemos confundir absolutismo como princípio, ou substituir espetáculo por política, ou ainda aceitar xingamentos como um debate fundamentado.”
          Nesse quadro, armados do conhecimento presente que subjaz nas motivações das corporações políticas, a visão da assistência das principais autoridades nos há de desvelar restrições e condicionamentos, a par de disposições presentes, na luta entre situação e oposição, que decerto não se restringe aos limites do anel rodoviário em que costuma mais forte assinalar-se.
          Que a leitura da posteridade nos dê uma visão positiva de realização dos propósitos da segunda Administração Obama.

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, CNN )

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