quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

De novo, o limite da Dívida

                                               

       Em sua conferência de imprensa da última segunda-feira, catorze de janeiro, o presidente Barack H. Obama empregou palavras fortes no que respeita à possível tentativa de instrumentalizar a autorização para elevar o teto da dívida fiscal de parte da oposição republicana.
       Tendo presente o que ocorreu em meados de 2011, quando a postura de brinkmanship[1] da maioria do GOP na Câmara de Representantes afetara a economia americana, induzindo até uma agência de classificação de risco a rebaixar a nota máxima até então atribuída aos EUA, o presidente advertiu os republicanos a não utilizarem a elevação do teto da dívida, como se fosse ficha de barganha.
       Obama considerou esse tipo de ameaça como ‘irresponsável’ e ‘absurdo’, dada a possibilidade de causar mais uma crise econômica.
       No que se pode descrever como o pano de fundo de um tenso embate, o presidente estadunidense assinalou que “seria uma ferida auto-infligida na economia. Retardaria o nosso crescimento e nos empurraria para a recessão.”
       Como se sabe – e foi frisado por comentaristas políticos de nomeada como Elizabeth Drew – no passado, a aprovação pelo Congresso da elevação do teto da dívida fiscal constituía uma ocasião de índole burocrática, que era tratada pelas lideranças no Capitólio de forma discreta e sem qualquer aditivo de mentalidade sectária.
       Infelizmente, o Grand Old Party, além de sofrer inflexão para a radicalização de direita (a sua antes forte ala moderada transformou-se hoje em grupelho que sofre de acelerado processo de extinção), considera o antigo espírito bipartidista (a envolver temas de interesse da União americana) como algo antiquado.
       Assim, a confrontação virou a regra, embora o Tea Party  (facção de ultra-direita) haja sofrido perdas sensíveis na última eleição, com o que ‘ajudou’ o Partido Democrata a manter com folga a maioria no Senado. Já na Câmara, em que o gerrymandering   constitui um fator substancial, mas não único, conquanto a bancada do GOP tenha encolhido um pouco, John Boehner continua a ser o Speaker.
       A posição de Boehner, contudo, é precária. Considerado um ‘moderado’ pela ala do Tea Party (que compõe o GOP na Câmara), o Speaker vê o posto ameaçado pelo líder da maioria, o deputado Eric Cantor (de quem terá partido a idéia de usar a aprovação da elevação do teto da dívida como forma de pressão sobre a Administração democrata).  
       O presidente Obama deixou claro, portanto, que responsabilizará a oposição – e notadamente a sua representação na Câmara, em que o GOP detém a maioria – não só pela crise relativa à autorização de novo teto da dívida, assim como, e a fortiori, por um eventual fechamento da máquina estatal, por falta de fundos.
       Nesse ponto, consoante frisou Barack Obama,  não há margem de manobra do Congresso para que deixe de autorizar a quota de endividamento que é necessária para pagar todas as despesas que já foram aprovadas.
       Como se verifica, de novo se repete o confronto entre Administração Obama e a representação republicana – que detém a maioria na Câmara e, por conseguinte, pode causar a paralisia (gridlock) legislativa.
       Esse encontro – que será ou não reminiscente dos enfrentamentos no velho Oeste – tem possibilidade de ser uma reprise de choques anteriores. A inexperiência – conjugada com uma suposta inclinação à transigência – marcou deveras a imagem presidencial no primeiro mandato. Conquanto o 44º Presidente se tenha recuperado com a sua vitória nos comícios de seis de novembro último, tanto a esquerda democrática quanto o GOP continuam a associá-lo a uma tendência de composição e não a uma postura enérgica – nos moldes, v.g., de Harry Truman.
       Daí, o temor de que, no aceso do confronto,o presidente Obama venha a ceder mais terreno aos republicanos de o que deveria. Já no episódio do fiscal cliff (penhasco fiscal), o chefe do governo poderia ter forçado o aumento dos impostos sobre os mais ricos muito aquém dos quatrocentos mil dólares.
      Dentro do cenário tão americano do chamado ‘game of chicken’ (quem pestaneja primeiro, em tradução livre), o quadro evolui para um novo enfrentamento. Se bem que, na linguagem de Buffon[2], o estilo é o homem, caberá sempre a esperança de que o presidente encontre afinal uma saída em que acabe por prevalecer sobre uma bancada radical, que tenta igualar nessa prorrogação um escore que lhe fora negativo na memorável derrota sofrida pela coligação dos ricos e da direita americana, quando do malogro da candidatura de Mitt Romney.
 

 
( Fonte:  International Herald Tribune )



[1] Atitude de negociação que utiliza o risco de ultrapassar-se o limite para  coagir a parte adversária.
[2] Georges-Louis Leclerc de Buffon (1707 – 1788), naturalista e escritor francês.

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