segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Posse de Hugo Chávez


                                                        
           Enfermo, fora do país, e com a sua real situação sob o controle de uns poucos, entre herdeiros políticos e familiares, pode-se afirmar que não se configura a necessária transparência para a realização (ou nâo) de sua posse, de acordo com a Constituição do regime.
           A verdadeira condição clínica do hospitalizado presidente Hugo Chávez Frias não só parece, mas é tratada como segredo de Estado. O pouco que se julga saber a respeito de sua saúde – e de suas eventuais perspectivas de tomar posse na próxima quinta-feira, dia dez de janeiro, é transmitido por crípticas indicações do vice-presidente Nicolas Maduro e do ministro da Informação, Ernesto Villegas.
           Ora, a posse do mais alto cargo na hierarquia nacional não é cerimonia que se deva realizar em segredo de justiça. Correspondendo ao ápice do processo democrático, ela deve ser do conhecimento geral, por representar a implementação da vontade popular livremente expressa nas urnas.
           Se o beneficiário desse ato soberano tem de ser mantido em local privado, a que o Povo não tem acesso – e nem dispõe de meios visuais que lhe assegurem alguma participação autônoma em modalidade que preserve um mínimo de transparência, forçoso será reconhecer há impedimentos maiores a inviabilizar qualquer tipo de posse em que a capacidade do eleito apareça de forma irretorquível ao Povo Soberano.
          Diante da escassez de informações – e a falta de qualquer testemunho pessoal do principal interessado -, a conclusão que se impõe é o interesse dos círculos ligados ao poder simbolizado pelo Presidente Hugo Chávez em ocultar maiores dados sobre a sua condição clínica, assim como a respectiva habilitação a cumprir com as implicações do juramento presidencial.
          Falar de formalismos – como se eles fossem dispensáveis – parece  tentativa desesperada de dispensar uma cerimônia que está na raiz do processo democrático.
          Chávez, com a sua obsessão de sigilo, preferiu desde o começo da enfermidade a conveniente distância do hospital cubano, à livre informação sobre o respectivo estado sanitário que era a condição imposta pelos nosocômios mais adiantados no tratamento oncológico. Neste instante, o mais provável é que não esteja em condições de manifestar a própria vontade, posto que a sua anterior conduta pressupunha que, de algum modo,  tivesse presente a atual situação.
          De uma maneira ou de outra, a posse presidencial é uma cerimônia que não pode ser escamoteada. Se aqueles que dependem do caudilho para manter a respectiva posição de poder se esmeram em malabarismos verbais, é mais do que tempo de afastar as sibilas e as suas propositais névoas.
          Esse comportamento é uma triste e ritual encenação pela qual o círculo de familiares e chegados do soberano enfermo se agarra ao exercício de um poder que semelha esvair-se em inexorável agonia.

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