domingo, 20 de janeiro de 2013

Colcha de Retalhos A. 3

                                        

Problemas sucessórios ?

            A ambição humana é um fator perene para o enfraquecimento dos regimes e de seus esquemas de sustentação. O que ora sucede no arraial do PT pode não ser corroborado por desenvolvimentos futuros, mas quem, diante dos indícios, ousará negar a possível anunciada evolução ?
           A despeito da grave doença por ele afrontada, e os efeitos colaterais que lhe afetaram por um tempo o dom da oratória, o ex-presidente Lula da Silva tem dado ultimamente sinais de que não exclui o projeto de seu regresso ao palácio do Planalto.
           Não é somente a estranha sessão de diretrizes ao pupilo Fernando Haddad e altos funcionários, a metafórica libra de carne com que Lula cobrou a vitoriosa indicação para a prefeitura paulistana. A discrição do ex-ministro da Educação não terá logrado ocultar de todo o claro desconforto causado pela iniciativa do Líder máximo.
          A esse quadro se ajunta nota de Elio Gaspari, acerca de conversa entre Nosso Guia e a presidenta, em Paris. Teria ficado a impressão, segundo o jornalista, de que Lula ‘está preparando o bote para pedir a cadeira de volta. Se pedir, levará.’

 

Pra que servem as prefeituras ?

           Em blog recente ocupei-me desse assunto, tornado candente pelo inusitado comportamento de prefeitos, como se fossem redivivos donatários de capitanias.
            Recentes reportagens televisivas continuam a mostrar que há falta de controle nesse campo, com manifesto prejuízo para os municípios e, em particular, para os respectivos munícipes.
             O que notadamente assombra são os altos salários que, por cortesia das câmaras de vereadores, se atribuem os prefeitos, remunerações bastante superiores às do Rio de Janeiro para Eduardo Paes. Tem-se a impressão de que as ditas municipalidades são a terra da fartura, sem quaisquer calamidades, como as periódicas inundações, a ubíqua falta de saneamento básico, o ultra-deficiente atendimento hospitalar, etc.etc.
            Se somarmos o peso da folha de pagamentos da administração de Duque de Caxias, com absurdos vencimentos, não é só gritante o desvio de recursos para esses novos marajás, mas também o que cobram em termos de condições sub-humanas de existência da população.
            Há parcas exceções para esses aproveitadores quadrienais da coisa pública  a que se associam os respectivos apaniguados.
            Duas perguntas que não querem calar: Por que não parecem existir autênticos fiscais desse descalabro, nem leis que inviabilizem esse enxame de abusos de que padecem, com atávica paciência, comunidades inteiras ?  E se porventura existem, por que não as aplicam ?
          Acaso essa gente sofrida não dispensaria de bom grado as rituais visitas de turno, ao ensejo das calamidades, de altos e altíssimos chefes do poder estatal ? E se recebessem ao invés o benefício da atenção que a sua condição social e os impostos que pagam faz por merecer ?

 
Afinal, o déficit é real ou não ?

 
           Se atentarmos para o discurso da oposição republicana, há de parecer inegável a necessidade de cortar o déficit, que motiva a atuação da Câmara de Representantes, o atual bastião do rigorismo orçamentário.
           Dessa forma, a última concessão da maioria do GOP na câmara baixa deve ser recebida pelo que efetivamente vale. Diante de seu crescente isolamento, e não querendo pagar o ônus do gridlock (paralisia), a Câmara acena com uma elevação a termo do teto da dívida, que num esquema similar àquele do fiscal cliff tornaria tais concessões pendentes de uma negociação ulterior para a redução do demonizado déficit orçamentário.
         Há fundadas suspeitas de que essa zelosa advocacia da austeridade almeja o corte dos déficits através de reduções em programas sociais, como o Medicare, Medicaid e Social Security. São antigas bestas fera republicanas como Paul Ryan (que, enquanto perdia como vice de Mitt Romney, logrou reeleger-se como deputado e manter a presidência da comissão de Orçamento), que desejam equilibrar as contas públicas, cortando os programas de auxílio a pobres e idosos (que estão dentre os beneficiários dos 47% das ‘vítimas’ inculpadas pela fala do candidato derrotado).    
       Nesse sentido, é muito oportuna a leitura do artigo do Prêmio Nobel Paul KrugmanDéficit minguante’. Há muitas imprecisões quanto ao bicho-papão do déficit. A primeira delas é que parte do déficit resulta da recessão e consequente menor arrecadação de impostos pelo Estado. Com a reativação da economia, essa parte do déficit desaparece.
        Por outro lado, não tem cabimento preocupar-se com déficits futuros. Não é só de um ministro de general-presidente que dizia ‘ que o futuro a Deus pertence’.  Assim, os déficits da década de vinte ficarão por conta das autoridades desse tempo, ainda mais porque, como os ventos, também mudam as condições da economia e, por conseguinte, a base de eventuais predições.
       Krugman, por outro lado, redimensiona o déficit, que no seu entender não é tão grande quanto as carpideiras de plantão o asseveram.

       
Para o segundo mandato, um novo Obama ?

 
       A posse, com o juramento e o discurso correspondentes, está marcada para a segunda-feira, 21 de janeiro, nas escadarias do Capitólio. O afluxo de público se afigura imprevisível, mas semelha pouco provável que a enorme multidão de quatro anos atrás se repita.
       Nesse contexto, órgãos de imprensa apregoam que tomará posse um novo Barack H. Obama. Continuará a ser o 44º presidente dos Estados Unidos, no exercício agora do segundo e final mandato, exatamente aquele mandato que os republicanos, com o Senador Mitch McConnell à frente, se haviam proposto inviabilizar. Infelizmente para eles, Obama não será  presidente de um só mandato.
        O que cabe ora perguntar é se Obama será diferente daquele eleito em 2008. Sem dúvida, o presidente não é o mesmo que motivara tantas expectativas em 2009. Quatro anos de administração não o deixaram sem marcas, mas tampouco terá desperdiçado a experiência política acumulada nesses anos de Casa Branca.
       Não vou incomodar o leitor com citações já conhecidas, que marcam o estilo das pessoas e a sua eventual capacidade de mudar.
       Por outro lado, o segundo mandato demarca um terreno em que grandes expectativas não estão livres de tropeçarem em magros resultados, a despeito da relativa autonomia de não mais depender da própria reeleição (embora no meio do caminho lhe espere a eleição intermediária, que pode fragilizá-lo no Congresso).
       Façamos confiança na deusa Fortuna e nos seus eventuais caprichos. Quanto a metamorfoses no comportamento de um novo Obama, vamos deixa-las para os prognósticos dos jornalistas de plantão.

 

(Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo,  Rede Globo, International Herald Tribune)

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