domingo, 13 de janeiro de 2013

Colcha de Retalhos A. 2

                                                      
 Irã e tráfico de armas

               Desde 2006 começaram a aparecer cartuchos de fuzil em áreas de conflito (Quênia, Uganda, e no Sudão do Sul), de uma procedência desconhecida. A munição não tinha código de fábrica, o que indica não só a clandestinidade da origem, mas a intenção do fabricante de evitar a respectiva revelação.
                Por seis anos um grupo de pesquisadores de tráfico de armas trabalharam de forma coordenada, trocando informações para determinar a origem de uma fonte de munição direcionada para áreas de conflito tanto para fuzis, quanto para metralhadoras. Esse armamento anônimo, pelas suas características, não se assinala em quantidades similares às dos mercadores globais de armas, os pesos pesados – Estados Unidos, Rússia, China e alguns países europeus – mas fornece uma lista macabra de áreas ditas de conflitos (internos ou externos) de baixa intensidade, porém com desastrosas e letais consequências.
              Os cartuchos da morte foram encontrados em Darfur, em estádio de futebol em Conacri, na Guiné, com rebeldes na Costa do Marfim, com tropas estatais na República Democrática do Congo, com o talibã no Afeganistão, e com grupos ligados a al-Qaida do Magreb no Níger.
              A longa e paciente busca, por meios confidenciais e ostensivos, acabou por determinar a origem dos fornecimentos clandestinos. Em fins de 2011, foi obtido um conhecimento de carga para treze containers, apreendidos pelas autoridades nigerianas em Lagos, em 2010.
              Declarado como material de construção, os containers traziam uma carga de armamentos, inclusive da mesma munição já colhida em vários campos de batalha e extermínio.  Vinham dissimuladas entre lajotas e material de vedação. A companhia remetente tinha a base em Teerã.   


A  França e o Mali 

               Não é de hoje que a França mantém com governos da antiga África Equatorial francesa uma aliança informal, que tende a funcionar em momentos de crise para essas estruturas administrativas. As intervenções francesas através dos anos tendem a ser pontuais, buscando dessarte evitar o que seriam atoleiros, com perspectivas imprevisíveis.
               Nesse contexto, afigura-se inegável a crise militar enfrentada pelo governo oficial do Mali. Respondendo a um apelo de seu presidente interino,  Dioncounda Traoré,   François Hollande e o Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Laurent Fabius reportaram o início de “intervenções aéreas” contra os chamados terroristas islâmicos, no seu avanço para o sul e a capital Bamako.
              Desde abril último, o exército do Mali perdera o controle efetivo da metade norte do país. Agora com a queda de Konna, um lugarejo atualmente fronteiriço, os islamitas retomam a iniciativa. O próximo núcleo urbano ameaçado é Sévaré.
             No papel, o Conselho de Segurança se tem reunido bastante. A sua preocupação (concern) expressa nas respectivas declarações infelizmente não tem detido a progressão dos islamitas. Resta verificar se o exército legalista do Mali terá condições, agora com o auxílio aéreo das intervenções francesas, de deter as forças revolucionárias islâmicas.
             É de frisar que os movimentos islâmicos radicais tem evidenciado na África ao sul do Sahel uma presença cada vez mais atuante, em que a mistura de pobreza e ideologia pode ter resultados imprevisíveis.  Na África ocidental o Boko Haram, na Nigéria, é uma ulterior manifestação do islamismo radical, com seus ataques a templos cristãos.              
                

Aumento da Violência urbana

             A quota de homicídios – e sobretudo a percepção da violência urbana – se caracteriza não só por um aparente incremento, mas por uma ainda mais preocupante característica.
              Em vários assassínios – tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro -  os bandidos não dão mais às vítimas nas tentativas de latrocínio sequer a oportunidade de render-se ao poder do fuzil. Estejam em carros em movimento, ou detidos no sinal, ou no passeio público, os alvos do assalto já são vistos como estorvos aos fins dos marginais.
              Daí, esses assassinos potenciais não carecem de mostras de eventual resistência ou tergiversação de parte dos alvos de sua ação criminosa.
              Muito pelo contrário. Em São Paulo, andando pela rua na contramão os bandidos atiram sem qualquer aviso prévio (morte do motorista). Ou reage a um movimento da vitima, grávida de nove meses, que comete a imprudência na direção da própria barriga, com o óbvio intuito de proteger o nascituro (morte posterior da jovem mulher).
             No Rio de Janeiro, a motorista e passageiro sequer tiveram tempo de render-se. A sua sorte foi a má pontaria do bandido nervoso ou drogado.
             Entrementes, continuam as mortes de policiais, sobretudo em São Paulo.
             Os transeuntes de nossas perigosas vias – que tem a segurança entregue nas mãos ultra-ocupadas da divindade – hão de perguntar-se aonde isto tudo vai terminar.

 

( Fontes:  International Herald Tribune,  O  Globo,  Rede Globo ). 

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