domingo, 23 de dezembro de 2012

É a economia, estúpido !

                                                  
         Antes que alguém se ofenda sem razão, apresso-me em recordar aos porventura distraídos que a epígrafe é tão somente a tradução do famoso slogan da campanha pela presidência de Bill Clinton, em 1992, contra George Herbert Walker Bush, o 41º presidente estadunidense.
         Os Estados Unidos viviam então uma recessão e a palavra de ordem do democrata de Arkansas apontava para a questão essencial a ser enfrentada. Bill Clinton, por estar fora do establishment arrostaria muitas questões e escândalos – alguns forjados, outras não – mas por se ater aos problemas essenciais do povo americano venceria em duas eleições, e superaria tentativa de deposição capitaneada por faccioso e implacável promotor especial (Ken Starr) escolhido a dedo por um grupelho de dirigentes republicanos (dentre eles, o senador Robert (Bob) Helms, que Deus o tenha) depois que o primeiro (Robert Finch) se mostrara demasiado correto para o gosto do GOP que desejava derrubar o homo novus Clinton – o que não conseguiu, apesar de milhões de dólares dispendidos na investigação da questão Whitewater, e de outras ulteriormente agregadas. ´
          Por ater-se ao essencial, Clinton terminaria o governo com uma série de superávits no orçamento, e com popularidade que o faria enfrentar com êxito o domínio no Congresso pelo Partido Republicano. Sabemos como o desgoverno de George Bush Jr. levaria à breca este superávit, com concessões demagógicas para os mais ricos e sobretudo com as ruinosas guerras a que lançaria os Estados Unidos depois da tragédia do mega-atentado de onze de setembro de 2001 contra as torres-gêmeas do World Trade Center. O acerto da gestão macroeconômica do Bill Clinton, o 42º presidente, semelha o ponto relevante a ser aqui lembrado.
         Pois com toda a instrumentália de que dispõe o governo de Dilma Rousseff até o momento, com a devida vênia, cabe perguntar a que veio a tão festejada criação do presidente Lula da Silva. Em matéria econômica, fez questão de livrar-se do dirigente do Banco Central, porque este ousara pedir autonomia na condução da matéria financeira. Como se sabe, no Norte maravilha, é um princípio axilar essa autonomia do Banco Central. Para quê? Para afastá-lo da política com letra minúscula, e para velar sobre a sua missão básica que é de uma economia saneada, com a inflação sobre controle.
        D. Dilma tinha outras ideias, tanto que o aceno de Henrique  Meirelles foi suficiente para que o afastasse da equipe econômica. Preferiu chamar o Sr. Alexandre Tombini para a presidência do BC.  Mas na verdade não escapou ao mercado quem realmente tinha as rédeas do órgão monetário.
       Desde o início de seu mandato, de conformidade com o próprio desenvolvimentismo, a presidenta tinha muitas certezas e poucas dúvidas quanto à economia. Malgrado as suas retóricas advertências no que tange à inflação,  ela terá cometido o erro de pensar que o dragão fosse encolher-se ou tremer diante de suas ocas palavras, se não seguidas por uma política efetiva de contenção. Por vezes, se tem a impressão que para Dilma Rousseff o Plano Real e a nova mentalidade que introduziu constitui apenas mais um programa governamental, desses em que se pode mexer à vontade.
       Recebendo um estado inchado pelo assistencialismo e o empreguismo – e tal perniciosa inutilidade desse estranho modelo foi ressaltada recentemente com mais um ministério (o 39º ) – com 40 só faltaria chamar expressamente Ali Baba para completar essa perigosa fábula e – pasmem ! – a anacrônica criação de um ulterior cabide de empregos, com uma nova (!) Infraero  no terreiro.  Enquanto em outros países alcançáveis através do Atlântico o formato é o estímulo à iniciativa privada, aqui se segue o modelo das estatais.
        E infelizmente não se fica por aí. Não se combate o inferno astral da burocracia, com a contínua criação de impostos e tributos, e tudo que onere a produção. Combateu-se muito FHC pelo seu famoso apagão. E agora D. Dilma, em que esse sintoma agudo do subdesenvolvimento que é a falta de luz prolongada e insistentemente presente – como se observa em várias regiões, nas quais o apagão só passa discretamente por que afeta caprichosamente na sua roleta a um grupo serial de consumidores.
       Como não se tem cuidado do investimento – ou melhor da reposição do equipamento já precário na resistência – temos de recorrer mais às potências espirituais do que as materiais se a atual “política” a cargo de Edison Lobão continuar ‘prestigiada’.
           O descalabro econômico continua a ponto de uma revista estrangeira – um tal Economist – ter ousado aventar a possibilidade de substituição do Ministro da Fazenda, Guido Mantega.
           Seria um dos mistérios da república, que essa banal intromissão jornalística tenha sido tratado quase a nível de ofensa à dignidade do Estado. Não terá  acaso parado um instante a Presidenta para refletir que,como em embarcação que faz água por muitas partes, a tal humilde ponderação do semanário não mereceria acaso um instante de reflexão ?
           Ou será que no seu modelo de gerentona, para D. Dilma ter um ministro fraco – já se percataram  quantas predições de crescimento do PIB ele teve de discretamente engolir como se nada fora ? – pode parecer para ela – que, pessoalmente aterroriza os ministros, mas que não semelha ter diálogo com a famosa base de apoio ?
           Tentemos resumir as falsas opções do governo do PT, empreguista e assistencialista. Ao invés do investimento se pensa em alavancar o consumo, através de seguidas concessões às montadoras e ao comércio de eletro-domésticos. Esse caminho é cheio de armadilhas, eis que incrementa a dívida e não a poupança. 
            Estamos inaugurando uma bela série de estádios para a Copa do Mundo e a Olimpíada, e talvez surgirão outras mega-obras de maior perenidade na respectiva utilidade futura para a cidadania. Sem embargo, esquecido o capricho do trem-bala, e a perplexidade da redescoberta da privatização para os aeroportos (esperemos que a tempo de servirem à acrescida demanda),  seria o caso de perguntar o quando da melhora do metrô (o do Rio de Janeiro é um agravo ao público, pela baixa qualidade do serviço e o incrível atraso na substituição das composições, sempre por chegar, desde aquela festosa inauguração da estação General Osório (em 2009 se não me engano) – as atuais cáem aos pedaços, tendo mais de 30 anos de uso).
           A par disso, há outras urgências no caderno de queixas do povo: o descalabro da assistência médica hospitalar, a condição da infraestrutura rodo-ferro-aeroviária,  o senhor saneamento básico (que tem o hábito de tornar-se mais inconveniente com o passar do tempo).
           Enquanto as preferências do governo de D. Dilma deixam a nossa economia em situação pouco brilhante face aos demais Brics – isto para não mencionar o México – a pergunta que perdura é a seguinte :
Será para acelerar a inflação e uma produção de carros por montadoras estrangeiras (sem qualquer atenção aos efeitos deletérios da falta de um sistema mínimo de proteção contra as descargas automobilísticas, eis que, pelo visto nunca é a hora de aplicar ao povo brasileiro o mesmo padrão europeu de proteção contra as emissões dos veículos ) que se faz tanto estardalhaço ?            


                                                                                                                                                         ( a continuar )

          

Nenhum comentário: