quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Dilma: perigos a meio caminho do mandato


                                     
          Quando Dilma Rousseff assumiu o poder, para lá guiada pelo empenho do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a opinião prevalente naquele momento, dada a sua inexperiência política e a ampla dependência do padrinho e criador, seria que a sua passagem pelo Planalto se restringiria a um só quadriênio.
          Como Lula, para sua honra, preferira não ouvir o canto da sereia para o terceiro mandato, Dilma foi por ele apontada como sua substituta. Dada a abissal diferença entre a potencialidade política e a abrangência da respectiva liderança, inclusive com penetração internacional muito além da Taprobana a atingir terras de gente de olho azul, se até 2014 não interviessem mudanças radicais, a eventual candidatura do presidente-operário constituiria quase uma certeza.
        Infelizmente, fatores novos bateram à porta. Além do câncer na laringe, com a provação sofrida e o inelutável desgaste físico, sobreveio o julgamento do Mensalão e a detecção pela imprensa de uma larga corrupção na Administração federal.
        Vive-se  momento penoso na sucessão de escândalos, com a ultimíssima punhalada nas costas dada por Rosemary Noronha e seu grupo. Lula não é decerto São Sebastião, mas a sua metafórica imagem sofre as flechadas cruéis de tantos malfeitos.
        Nesse contexto, como o povo não é burro, os deslizes vão deixando sua marca, assim como as discussões abertas do plenário do Supremo. Tentativas de controle da mídia morrem na praia, afortunadamente porque aqui não se fortaleceu nem chavismo, nem a cópia pirata do Kirchnerismo. Além disso o discurso dos gerarcas petistas se ressente de uma admissão decerto dolorosa, porém inevitável se se deseja abrir discussão séria com a opinião pública. Avis rara nesse processo é o governador petista Tarso Genro, que tem a coragem de reconhecer o que, em sã mente, não pode ser refutado.
          Por sua parte, a tal faxina, de que a presidente fez a base de sua condenação dos malfeitos, apresentou, depois dos episódios da manutenção do bom amigo Ministro Fernando Pimentel e da emasculação da Comissão de Ética da Presidência, preocupantes sinais de súbita falta de fôlego. Talvez esse programa mediático de D.Dilma – sempre a posteriori, a conta de denúncias da imprensa e nunca tomando o freio nos dentes, dando magnanimamente ao ministro sob suspeita a saída de uma demissão alegadamente de moto próprio.
          É bem verdade que no escândalo da mulher do Lula não houve o beau geste de dar tempo a auto-demissões. Todos foram exonerados prontamente, talvez porque não tivessem categoria ministerial. Mas a faxina, como jogada publicitária, começa a dar chabu. A sociedade se pergunta porque tanta corrupção prossegue impune, a repontar em tantos poleiros da Administração federal, alguns, de resto, bem próximos do centro do poder ? Qual a razão da persistência deste modelo ex post facto,dentro do paradigma v.g. da dileta auxiliar direta e efêmera Chefe da Casa Civil Erenice Guerra. Não será tal postura uma espécie de autismo, dentro da comodista norma de deixar estar para ver como é que fica ?
         Ao aprestar-se a ultrapassar a reta oposta e após breve curva, entrar no espaço terminal que leva às eleições, Dilma sofre com a sobrecarga de  pouco brilhante gestão na economia. Já sabemos bem que inflação não se combate com declarações bombásticas. A presidenta, com os seus pendores desenvolvimentistas, não semelha dar muita importância à alta nos preços. Para tanto, afastou do Banco Central Henrique Meirelles e lá pôs direção não-autônoma, que, obediente, tem baixado a Selic a níveis não condizentes com um mercado assediado por infernal sopa de índices,e que, há pouco atingiu, o nível de 7,5% de alça de preços.
         O controle da inflação – e a função neste sentido do Banco Central – não é vetusta mania de velhos banqueiros. Não se escorraça o dragão com frases demagógicas, e compromissos vazios. O dever de casa precisa ser atendido, para que esse flagelo – que condenou por mais de uma década ao marasmo e à falta de perspectiva a nossa economia – não volte. E, sem embargo, as metas anti-inflacionárias não são cumpridas, enquanto a infernal maquininha reaparece nos supermercados e alhures.
        Quiçá a Petrobrás constitua um bom exemplo para descrever os traços e as limitações do governo Dilma. Essa grande estatal está sendo impedida de desenvolver política própria dentro do esquema de manutenção de preços na economia em geral. Tornando-se deficitária, a Petrobrás não dispõe de recursos para a explotação do pré-sal. Os investidores acionários já não a procuram com tanta ênfase, e o seu valor de mercado cai em consequência.
           Em administração hipertrofiada, beirando os quarenta ministérios, há um considerável dispêndio na rubrica de despesas correntes, com prejuízo nas inversões em infraestrutura aeroportuária, além da ineficiência de um modelo superado como são o das autarquias – de que os dias perdidos num banal acidente de cargueiro no aeroporto de Viracopos apontam para a ineficiência dos órgãos oficiais, que mais emperram do que controlam.
           No país do impostômetro, não é por acaso que estamos na rabeira dos BRICs, em termos de nível de desenvolvimento. Nada surpreende ao Ministro da Fazenda, mas as suas respostas, ou reanimam velhos procedimentos abolidos na esteira do Plano Real, abusam na mágica fiscal das capitalizações – e se reintroduz pela porta dos fundos o anátema  desse e de outros recursos heterodoxos, que só adiam os problemas hodiernos que voltam agravados. Tampouco se alavanca o crescimento com desonerações fiscais concedidas aleatoriamente, para aumentar o consumo inclusive de automóveis. Porque se permitiu que o Brasil seja o único dos grandes a não ter indústria automobilística genuinamente nacional, estamos condenados a conviver com tais feitorias, que só servem para transferir os lucros para o caixa das matrizes europeias, coreanas, japonesas e americanas. Nesse capítulo, a benigna negligência das autoridades nacionais continua a permitir que o povo brasileiro continue a respirar os gases poluentes de tais viaturas. Seria decerto constrangedor, mas necessário e imperioso que se determinasse a diferença na proteção tecnológica concedida ao público do norte maravilha, cujos pulmões agradecem.
           O perfil da gerentona, a ralhar com ministros como se fossem maus alunos, poderia até ser admissível em contexto mais amplo. Servia à maravilha para Lula da Silva, que pouco sabia do funcionamento da máquina burocrática, pois  o presidente deve pensar grande como o faziam JK e Getúlio Vargas. Quanto aos detalhes, para isso serve o exército de secretários, rábulas, técnicos e auditores, de que dispões a  Primeira Mandatária.
            Mergulhar em demasiado na sopa das letras e outras insignificâncias será correr o risco de perder o contato com a realidade presidencial.  Nesse contexto, seria bom que a presidente Rousseff atentasse para as recentes declarações do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, formuladas em reunião com empresários. Segundo Campos, falta “rumo estratégico” às medidas do governo para combater a crise financeira internacional e levar o país a uma agenda de crescimento.
            Enquanto isso, consoante o exemplo de Minas,  o putativo candidato do PSDB, senador Aécio Neves, mineiramente se cala. Se o quadro federal continuar na atual pasmaceira, dada a capacidade oratória do ex-Governados de Minas Gerais, o silêncio decerto não será de ouro.

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )  

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