segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Será tão difícil assim ?

    A mídia se esmera em desenhar  quadro de dramático final, com o cenário da recontagem em diversos estados, e a indefinição como característica na   série de pleitos estaduais que, por diferenças mínimas, clamam pelo recurso ao photochart.
     Nesse contexto, recorda-se amiúde a recontagem na Flórida, no pleito de 2000. Em tal contexto, por umas poucas centenas de votos todo o país pendia da decisão daquele estado para saber quem seria o seu futuro presidente.
     O quadro, no entanto, com o transcorrer dos anos se vai desgastando, e certos aspectos relevantes vão desaparecendo do visor. A recontagem na Flórida, posto que lenta e desgastante, se impunha pela leitura defeituosa de um sistema que parecia montado para induzir em erro eleitores mais vulneráveis, seja pela idade, seja pelo conhecimento.
     Havia sido com base na pressuposição de evitar um erro e, por conseguinte, uma injustiça histórica, que o tribunal superior da Flórida determinara a recontagem. Dentro desse quadro, se o avanço se afigurava lento, poucas eram as dúvidas de qual seria o resultado conclusivo, se se desse curso ao encetado procedimento.
     Eis que tem, através da ação Bush vs. Gore, capitaneada pelo lugar-tenente de Bush sênior, James Baker III, a Suprema Corte, de forma inédita, entra em cena. Acolhendo os argumentos defendidos pelo GOP, a maioria conservadora determina a suspensão da recontagem na Flórida,dando como definitivo um resultado incompleto. Através de um corte jurídico, se congela o cômputo de votos, e se dá a palma da vitória a George W. Bush.
     Por primeira vez, o Supremo se transforma no grande eleitor. A impressão e o desgaste causados não são dos menores, e repercutem até hoje nos artigos dos especialistas. De qualquer forma, Bush jr. apesar de minoritário na votação popular e tendo a eleição determinada pelo Supremo, seria o 43o presidente, cumprindo não só aquele contestado mandato, mas havendo sido reeleito em 2004.   
     Nos comícios de terça-feira, seis de novembro, diversos complicadores são mencionados. A sequela do furacão Sandy, sobretudo nos estados de New Jersey e Nova York, com postos de votação desarrumados e/ou danificados pela passagem daquele cataclisma.
     Há temores, máxime em Ohio, de afluxo incomum de eleitores, com a formação de longas filas, e possíveis solicitações de extensão do horário da votação. Tenha-se presente que neste estado, como alhures, os democratas põem fé no aumento do número dos sufragantes, enquanto os republicanos preferem a versão reduzida.
     Nesta vigésima-quinta hora do pleito de 2012, segundo as ultimíssimas prévias, o presidente Obama teria, na maior parte dos estados pêndulo (swing states), uma vantagem mínima, que talvez lhe seja determinante para alcançar os míticos 270 votos eleitorais (a maioria absoluta no colégio eleioral).
     Assim, os dois candidatos se lançam em frenética corrida pelos últimos estados indecisos em seu último dia antes da abertura das urnas a seis de novembro.  Depois do hercúleo esforço, passando pelo ir e vir das pesquisas, da Convenção, dos três debates, das semanas conclusivas, brutalmente interrompidas por Mãe-Natureza, evidenciando na incongruência de sua intromissão o protesto pelo demasiado menosprezo das respectivas exigências, e agora na ultimíssima reta, paira, ominosa e sempre enigmática, a última dúvida que há de desfazer-se ao cabo de mais uma jornada, com o júbilo e a tristeza que cerca todos os vereditos terminais.
       Mais umas poucas horas e o riso franco da vitória e da colimada realização se confundirã com o ranger de dentes e o sopitado choro da derrota, e da negação de um continuado empenho que, não obstante, parecia bafejado pela deusa Fortuna.

( Fontes: International Herald Tribune, O Globo, Folha de S. Paulo, CNN )  

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