sábado, 24 de novembro de 2012

De novo a Praça Tahrir

                                                  
          É comprida também no Egito a luta pela democracia. Milhares de manifestantes voltaram à praça Tahrir, para novos protestos, ora motivados por decreto do Presidente Mohamed Morsi, em que assume plenos poderes.
          Morsi saía de exitosa mediação que levara ao cessar-fogo entre Israel e o Hamas. A despeito das diferenças ideológicas, havia mantido contatos construtivos com o Presidente Barack Obama, e nesse sentido, valendo-se de sua cercania com a liderança do Hamas, criara condições para mais uma trégua entre Gaza e Tel-Aviv.
          De certa forma, o decreto autoritário veio na contramão da evidenciada habilidade para trazer a paz, ainda que precária, para aquela região. Eleito pelo voto popular, Morsi surpreendeu a opinião pública ao recorrer a medidas que mais parecem emanar de um homem forte como o ex-ditador Hosni Mubarak.
         O decreto de Morsi utiliza linguagem que lhe outorga poderes irrestritos  de “ tomar todas as medidas e procedimentos necessários” para lidar com qualquer ameaça potencial contra a Revolução. Por outro lado, estabelece que os atos e disposições da Assembleia Constituinte não estão submetidos à revisão pela Justiça.
         Se a iniciativa presidencial se fundamenta no desígnio de evitar a paralisia legal, dando à assembleia constituinte caráter soberano em suas determinações, a declaração do chefe da Suprema Corte de que não acata o decreto presidencial já é ulterior indicação das dificuldades que Morsi terá pela frente.
         Há outras disposições questionáveis no citado decreto, como a determinação de novos julgamentos para o ex-presidente Mubarak e outros acusados da morte de manifestantes civis durante a revolução que derrubou o antigo regime.
         Nesse sentido, Yasser Ali, porta-voz do presidente Morsi tentou apresentar os novos poderes ditatoriais como temporários, a vigorar apenas até a promulgação dentro de poucos meses da nova constituição. Consoante tal enfoque, o decreto foi baixado “para possibilitar o fim do período de transição da maneira mais rápida possível.”
        Malgrado todos esses esforços, foi muito negativa a recepção da  medida presidencial. Por recordar ações similares no passado, Morsi foi considerado um novo faraó, dado o ranço absolutista do decreto. Os  escritórios em Port Said, Suez e Ismailia, do partido do presidente, a Fraternidade Muçulmana, foram incendiados pelo povo.
        A par disso, novas concentrações populares afluíram para a Praça Tahrir, não obstante a ação da polícia e das bombas de gás lacrimogêneo.
        Dadas as lembranças evocadas e as semelhanças com as reações autoritárias do passado, além da abrupta apresentação das draconianas disposições, o procedimento do presidente Mohamed Morsi – que nada fez para distinguir-se dos déspotas que o precederam – atuou como se fora uma provocação, de novo jogando para  ruas e praças as multidões que haviam enfrentado Mubarak e o exército para abrir à democracia as terras do Egito.
        O futuro dirá se Morsi, e sua Fraternidade Muçulmana – com  entrada tardia no combate pela democracia na praça Tahrir – terão ou não subestimado a capacidade de reação daquela mesma turba que em fevereiro e março de 2011 enfrentara riscos não desprezíveis no seu propósito de trazer os ventos da primavera árabe para as margens do Nilo.

 

( Fonte:  International Herald Tribune )

Nenhum comentário: