sábado, 3 de novembro de 2012

Democratas X Republicanos


                                      
         As  diferenças entre os democratas e os republicanos são muitas e se refletem tanto nos seus slogans do momento, quanto em características bem mais permanentes e profundas.
         Assim, ontem, no plano da atualidade imediata, se reconheciam os partidários de Mitt Romney pela frase escandida: ´mais quatro dias !, pela qual arremedam o bordão dos democratas de ´mais quatro anos´ para Barack Obama.
         Em um pleito tão disputado, no qual a grande imprensa contrapõe, com suposto imparcial esmero, uma sucessão de prévias nos chamados estados pêndulo, que apontam, alternadamente, vantagens para o Presidente e o seu desafiante do GOP, o resultado dessa tática será exacerbar a expectativa quanto à sentença das urnas de seis de novembro corrente.
        De parte de colunistas respeitados como Albert R. Hunt, desde muito se frisa quão apertados se prenunciam os comícios deste ano, a ponto de alinhar-se com pleitos do passado, em que foi mínima a diferença entre os candidatos. Além daqueles de 1948 e de 1960, semelha impróprio incluir o de 2000 nessa categoria. Como se sabe, por primeira e esperemos última vez, a Suprema Corte interveio pela notória sentença de Bush v. Gore, pela qual determinou a suspensão da recontagem dos sufrágios na Flórida, que tinha sido ordenada pela Corte Superior daquele estado.  
       Ao endossar a ´vitória´ republicana naquele estado – se procedida a recontagem na sua totalidade a vantagem seria do democrata Albert Gore -  a maioria conservadora do Supremo daria ganho absoluto de causa ao GOP, eis que a Flórida, por ser o último estado de apuração pendente, para que lado fosse, determinaria quem seria o futuro presidente.  Não constitui, portanto, precedente válido tal ´eleição´ feita pelo tapetão judicial, mormente se tivermos presente que na totalidade do voto popular, Gore superou Bush por mais de quinhentos mil votos.
       Dessarte, pela modalidade da escolha presidencial em 2000, ela não pode ser arrolada como precedente válido, dentre outras disputas políticas em que a decisão final se arrastou noite afora, no cômputo dos votos eleitorais (concernentes aos totais de cada estado). Como é do conhecimento geral, vencerá o candidato que garantir 270 votos no colégio eleitoral.      
       Apesar de o colégio eleitoral ser atualmente de cinquenta estados, a maior parte do esforço dos dois partidos e, em especial, os gastos com a propaganda política – na presença eleição inchados ominosamente por força da sentença Citizens United da Suprema Corte, que suprimiu muitas restrições à influência do dinheiro nos diversos pleitos, com consequências preocupantes para a democracia – se destinam aos ditos swing states  (estados pêndulo). Se nos demais estados – e em especial nos maiores – Califórnia (55 - D), Texas (38 - R) e New York (29 - D),  a tendência já está marcada, em nove o resultado estaria em suspenso.  Sâo a Flórida (29 votos), Ohio (18), Wisconsin (10), Virgínia (13), New Hampshire (4), Iowa (6), Carolina do Norte (15), Colorado (9) e Nevada (6).
      Se os prognósticos das pesquisas mais recentes forem confirmados, Obama venceria em Ohio, Wisconsin, Virgínia, Iowa, Colorado e Nevada, enquanto Mitt prevaleceria na Flórida, New Hampshire e Carolina do Norte. Nesses termos, o democrata teria mais 62 votos eleitorais, e o republicano, 48. Nesses estados, contudo, há dúvidas. Assim, o Wisconsin continuaria sufragando o presidente, a despeito de ter Paul Ryan na chapa de Mitt Romney ?  Por outro lado, a votação do pequeno estado de New Hampshire (4 votos) tem relevância relativa, marcada sobretudo por ser divulgada bastante cedo na noite eleitoral, e ser associada amiúde ao candidato vencedor.
      Releva, igualmente, ter presente que, como a própria denominação o torna claro, as votações dos estados pêndulo são caprichosas, e surpresas não podem ser afastadas a priori.
      Nas eleições estadunidenses, como não existe na terra de Tio Sam uma justiça eleitoral federal, muitas das ações preventivas e acautelatórias são da alçada dos próprios partidos, com o maior número de representantes advindo das fileiras do partido Democrata. Tal se explica precipuamente porque aos democratas interessa que o maior número de eleitores vote (e entre esses avultam os menos favorecidos e, portanto, mais suscetíveis de serem impedidos de exercerem o seu direito de cidadão), enquanto o GOP, através de seus governadores e eventuais maiorias em assembleias estaduais, se esmera em  esforços de duvidosa constitucionalidade, orientados  para restringir o afluxo de sufragantes. Sendo o partido democrata associado com a defesa das minorias (v.g. negros, pobres e idosos), e se é eticamente inaceitável a criação de obstáculos para a votação das massas proletárias, será plenamente inteligível a tomada de providências por militantes do Partido Democrata para que o Grand Old Party não tenha êxito na sua tática de barrar os eleitores humildes e aqueles mais vulneráveis de seu desígnio de votarem em candidatos que assumam e defendam os interesses das massas desprotegidas. Esta obnóxia estratégia republicana – tão imoral quanto indefensável – repete, mutatis mutandis,  o que faziam as mesas eleitorais Jim Crow no velho Sul, para reduzir o registro de eleitores negros através de exames de instrução e assim manter a antiga representação política conservadora, com o desrespeito aos direitos civis da maioria negra da população.
       Hoje, o escopo dos republicanos é sem dúvida mais restrito, mas in natura não difere do desígnio sulista, que era o de impedir a formação de maiorias progressistas. Como muito depende do estado de Ohio, o partido democrata terá seiscentos advogados atuantes no Condado de Cuyahoga, na grande Cleveland (que muito favorece o partido de Obama), assim como outros 2.500 expertos legais distribuídos através do estado.
      Muitas questões se colocarão.  Assim, no Ohio, como na Florida, se persistirem as filas de eleitores em hora próxima ao fechamento das seções, a orientação da organização da campanha pró-Obama é a de solicitar que elas permaneçam abertas, para que todos possam votar.
      Existem também as chamadas cédulas provisórias de votação, quando o endereço do votante é contestado ou a sua identificação considerada insuficiente.  Tal se prende a uma estratégia de barrar votos da população mais pobre – em 2008 cerca de duzentos mil foram consideradas “provisórias” , se bem que após analisadas 80% delas foram reputadas válidas.
     Os advogados estarão nas seções para evitar que o sufrágio desta gente seja invalidado por agentes republicanos. No passado, a chicana do GOP – que se concentra na contestação dos títulos do eleitor para depositar o voto respectivo – tem sido anulada pelas cortes judiciais.
     Nessa difícil eleição, a disposição do Partido Democrata será ágil e voluntariosa, com vistas a que as maiorias não sejam defraudadas. A terça-feira promete ser uma longa jornada, na qual, esperemos, prevaleça a boa causa e a équa justiça. Não será por falta de previsão e de disposição dos diversos grupos empenhados na batalha da democracia.

 

( Fontes:  International Herald Tribune, Folha de S. Paulo, O Globo, CNN )

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

A expectativa é grande para terça-feira. O que me deixa alarmada é verificar que um candidato com as restritas condições de um Mitt Romney esteja ameaçando um Barack Obama.
O que aconteceu nesta jornada de 4 anos para que Obama tenha seu prestígio reduzido a ponto de poder perder a condição de presidente?
Parece que o cataclisma ocorrido recentemente vai pesar positivamente.