quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Novo Perfil na Revolução Síria

                                      
          A queda de base aérea no norte da Síria terá fornecido ao exército rebelde o que tanto os Estados Unidos, quanto os árabes do Golfo lhe haviam negado até agora. Para essa atitude terão contribuído não só temores com a infiltração por jihadis (guerrilhas islâmicas radicais) do movimento e lembranças da difusão dos stinger na guerrilha afegã nos anos oitenta, senão a prudencial paralisia da Casa Branca, nas últimas semanas da campanha de Barack Obama pela reeleição.
          Dadas as notícias que provêm do móvel front sírio, a coligação rebelde se apossou de cerca de trezentos mísseis terra-ar, dos quais cerca de cento e cinquenta estão operacionais (é prática usual dos responsáveis por tal armamento retirar-lhes o gatilho, por precauções de segurança).
          Depois do cerco de dois meses, a base caíu em posse do exército livre da Síria. Este evento assinala duas modificações importantes no quadro da guerra civil: (a) as forças governamentais em situações isoladas – como a desta base – não semelham ter condições de levantar cercos por ações terrestres, dependendo de forma crescente de ataques e provisões por via aérea.
         Dessarte, os rebeldes tiveram acesso afinal àquilo que o Ocidente e seus aliados árabes optaram por não conceder-lhes. Posto que obsoletos, os mísseis soviéticos de que se apossaram as forças rebeldes já provocaram imediata mudança nas condições do enfrentamento.
         Assim, (b) os aviões da Força Aérea governamental – sobre que o relativo enfraquecimento da infantaria de Assad se tem apoiado de forma progressiva – não mais gozam da imunidade anterior, como bem o demonstra a imediata derrubada de duas aeronaves (e mais dois helicópteros) pelas forças revolucionárias.
         Essa mudança qualitativa ocorrida na Síria em favor do Exército Livre decerto nâo surpreende. A recusa tática do Ocidente em disponibilizar as forças rebeldes de armamento terra-ar só poderia funcionar enquanto as condições no terreno impossibilitassem o exército livre de toma-los do inimigo, no caso dos depósitos das forças oficialistas. A queda da base nortista torna írrito tal condicionamento. Se as armas podem não ser state of the art  (do último tipo), não diferem muito nos efeitos práticos, eis que vulnerabilizam a principal arma de ataque das forças oficiais.
         Pela extensão do conflito e a amplitude da coalizão popular contra o detestado regime de Bashar al-Assad, não é necessária muita imaginação para conscientizar-se de mais uma derrota estratégica do atribulado governo de Damasco.
         Como a segurança contra os chamados terroristas estrangeiros armados não está mais garantida nem na capital, como a ulterior e recentíssima explosão de carro bomba o indica, e as defecções dos quadros do regime – tanto nos altos quanto médios escalões – se alastram naquela fuga de magotes de ratos e ratazanas reminiscente dos naufrágios de grandes transatlânticos, as  bombásticas declarações do déspota de resistência até o último soldado podem ser comparadas com as fulgurantes salvas que precedem a súbita precipitação de um abandono cada vez mais provável.
         Na macabra contabilidade do conflito, os seus quarenta mil mortos representam respeitável, posto que inamovível, testemunho de acusação nas aras do Tribunal Penal Internacional da Haia pelo altíssimo preço colocado ao povo sírio para livrar-se afinal do oftalmólogo Bashar, filho do general e ditador a partir de 1971, Hafez al-Assad (1930 – 2000).
         Nesta hora, em que vaca desconhece bezerro, os eventuais protetores estarão pensando em preservar os dedos, eis que os anéis, em termos de sólidas alianças e de base em águas quentes, podem ser coisa do passado.    

 
( Fonte subsidiária:  CNN )      

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