segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Georgia, China e Susan Rice

                                             
Georgia :  o exemplo ucraniano

      A vitória do partido de Bidzina Ivanishvili sobre a representação do Presidente Mikheil Saakashvili, nas eleições parlamentares do mês passado, tem sido acompanhada por medidas judiciais. Nesse sentido, o presidente Saakashvili, cujo mandato termina em 2013, deverá ter diversas autoridades de sua administração, segundo o novo Primeiro Ministro Ivanishvili, submetidas a julgamento.
      Consoante Ivanishvili, esses altos funcionários são acusados de se valer de meios ilegais de vigilância para gravar conversações com o escopo eleitoral de desacreditá-lo.
      Tal reação com vistas a judicializar a disputa – dentro de uma linha que não difere muito do approach do presidente Yanukovich na Ucrânia, que mandou prender e fez condenar a ex-Primeiro Ministro e adversária Yulia Timoshenko (além de outros próceres do partido contrário) – motivou pronta reação estadunidense no que tange a essa antiga república da defunta União Soviética.
       Tendo em vista o rumo da luta política na Georgia,  com ênfase em represálias através de suposta instrumentalização do sistema judiciário, Washington alertou a nova administração de que ações de promotores com flagrante motivação política tenderiam a pôr em risco a candidatura desse  país de tornar-se um membro da OTAN.
 

A nova liderança da República Popular da China

     Os especialistas em política chinesa – que, nas suas forçosas limitações, recordam os antigos kremlinologistas, com a suposta esotérica sapiência acerca do Politburo soviético – agora formam um comitê de sete dirigentes (ao invés dos nove anteriores).
     O novo comitê permanente se compõe de sete senhores, todos permanentemente jovens, com negros cabelos sem uma cã sequer. Tampouco sobrou lugar para uma presença feminina.
     A orientação política desses senhores pode talvez ser determinada por fatores acessórios do processo. Assim, pairou sobre a nova liderança a sombra de Jiang Zemin, o líder que se formalmente se aposentara há dez anos atrás. Consoante se assevera, pelo menos quatro dos membros indicados teriam estreitas ligações com Jiang. De resto, Hu Jintao,  que deveria ter mais voz em capítulo, terá consentido na maior influência do veterano dirigente. Dados os antecedentes – Deng Xiaoping decerto o maior – tal se insere no respeito chinês pela opinião dos mais velhos.
      O viés conservador terá sido sublinhado pela não-promoção de dois expoentes ditos reformistas: Wang Yang, secretário do PCC na província de Guangdong (a mais rica do país) e Li Yuanchao, o diretor organizacional do PCC.
      Xi Jinping – que já assumiu a secretaria geral do PC e a chefia da comissão militar -  deverá suceder a Hu como presidente no próximo ano. Por sua vez Li Keqiang será o primeiro Ministro, substituindo a Wen Jiabao.     

 
Susan Rice -  a  futura Secretário de Estado ?

      Afro-americana, próxima do Presidente Barack Obama e atual embaixadora dos Estados Unidos na ONU, o caminho de Susan Rice para suceder a Hillary Clinton como Secretária de Estado parecia já traçado.
       Com efeito, também Madeleine Albright, na Administração Clinton, passara de início pela delegação nas Nações Unidas antes de ser investida como chefe do Departamento de Estado.
       Dada a sua militância democrática e conhecimento de questões diplomáticas, a embaixadora Rice semelha a candidata natural a esse prestigioso encargo.
       Se acaso não o conseguir, tal peripécia nada terá a ver com o seu estilo, que pode lembrar pelas suas feições para alguns demasiado afirmativas.
       Na verdade, por comparecer a cinco entrevistas televisivas dominicais, Susan Rice corre o risco de estar entrando em uma situação que não lhe concernia diretamente. Rice tomou o lugar a pedido de Hillary. Assim, a 16 de setembro, fundando-se em informações (talking points) que recebera dos serviços de segurança da Administração, ela descrevera o assédio ao consulado em Benghazi como se fosse manifestação espontânea de protesto, posteriormente instrumentalizada (hijacked) por extremistas e não um ataque terrorista premeditado.  Depois de uns dias, os republicanos no Congresso passaram a pedir-lhe a demissão.
      Este ataque à missão de Benghazi – de que resultou a morte do embaixador americano na Líbia – iria ser inserido na campanha presidencial, com o intento do GOP de prejudicar o presidente Obama. Malgrado os ataques – inclusive em dois debates televisivos – eles não surtiram efeito junto à opinião pública, não afetando a imagem do candidato à reeleição.
      Responsabilizar-se agora a Susan Rice por ter apresentado, com base em dados oficiais, uma versão supostamente insatisfatória do episódio, dá a impressão de querer utilizar o ocorrido como um pretexto para criticar a competência diplomática de Rice.
       Dado o caráter pugnaz de Susan Rice, não será muito provavelmente esse tipo de argumento que a afastará da liça pelo Departamento de Estado, se realmente ela  for indicada para o posto.

 

( Fonte: International Herald Tribune )  

Nenhum comentário: