sábado, 10 de novembro de 2012

Obama e o Confronto com o GOP


                            
             Barack Obama acaba de vencer  importante batalha política. Se a pequena diferença a favor na votação popular reflete renhida disputa, já nos votos eleitorais (332 x 206) a sua substancial maioria espelha vitórias pontuais em quase todos os estados pêndulo (swing states). Em apenas um (Carolina do Norte) Romney venceu. A retardatária Flórida foi por tradição a última a definir-se, e ao final se agregaria, por cortesia do voto hispânico, ao campo democrata.
            O triunfo do partido de Obama não se restringe ao pleito presidencial. Também no Senado ocorreu um desenvolvimento assaz interessante. O G.O.P. pensara ser possível reverter o quadro, e lograr a maioria na Câmara alta. O problema é que esqueceram de combinar com a opinião pública, notadamente as mulheres e as minorias.
            A imagem do Partido Republicano ajudou... aos democratas. Posições dissociadas de um largo consenso facilitaram a vitória democrata em estados conservadores. Nesse contexto, o Tea Party também colaborou, colocando radicais na chapa do GOP, como em Indiana, e dessa maneira garantindo o aumento da bancada democrata.
            No que concerne à Casa de Representantes, o aumento da bancada democrata foi aparentemente pequeno, e a correspondente redução na representação republicana (de cerca de dez cadeiras) ainda a coloca acima do mínimo de duzentos e dezoito como maioria absoluta.
            O que terá havido com a Câmara baixa ?  O dinheiro solto e anônimo ensejado pela sentença do Supremo Citizens United (Cidadãos Unidos) só terá funcionado para a turma encabeçada pelo Speaker John Boehner ?  É verdade que os mega-doadores (em maior parte republicanos) desperdiçaram muitos dólares tentando virar o jogo em favor de seu campeão Mitt Romney (malgrado os 47% de votos cativos revelados pelo candidato do GOP aos seus ricos patrocinadores entre quatro paredes em Boca Raton) ?
            Assim, no que tange aos deputados, acaso teríamos uma municipalização das preferências ? Infelizmente, não. A maioria republicana na Casa de Representantes se deve sobretudo a uma velha e conhecida operação nos estados – o  gerrymandering. Esta criação americana, originária do estado de Massachusetts em princípios do século XIX, constitui, digamos assim, o redesenho – através de sentenças de tribunais e de assembleias estaduais - dos distritos eleitorais de forma a favorecer um dos lados, neste caso o do GOP. 
             Intui-se, por conseguinte, que o caminho para a construção de maiorias para a Câmara de Deputados fique muito mais árduo. Por outro lado, há uma lenta mas inexorável extinção nas fileiras dos chamados blue dogs (cachorros azuis). São deputados democratas conservadores (daí a referência à cor), que através de postura vizinhas a do GOP busca sobreviver eleitoralmente no Sul profundo, antes democrata, e hoje republicano de carteirinha. A cada eleição se assiste ao gradual desaparecimento do grupo, e os comícios de seis de novembro não constituíram a respeito exceção. Restam muito poucos desses democratas – que defendem a exação fiscal – nesse ambiente relativamente hostil.
            O leitor há de me perdoar o introito. Tais considerações, no entanto, são bastante úteis. Quando ouvimos o Speaker John Boehner falar que ele também – como o presidente Barack Obama – dispõe de um mandato, já há elementos para contextualizar (e redimensionar) essa assertiva.
           O Prêmio Nobel de Economia – e colunista do New York Times  - Paul Krugman procura motivar o Presidente no seu próximo embate com a delegação republicana, i.e., o citado Boehner, o Senador Mitch McConnell (líder da minoria), a par do Lider da Maioria na Câmara baixa, Eric Cantor.
           Ladeiam Obama de parte democrata Nancy Pelosi e o líder da maioria no Senado, Harry Reid.
           As preocupações com a postura presidencial são bastante compreensíveis. Obama tem um histórico  de recuos e de concessões, muitas delas desastrosas, nas duas vezes anteriores, em que através de reuniões de cúpula se procurou superar a paralisia (gridlock) institucional.
           Atualmente, o confronto – precedido pelas posturas demagógicas do GOP – se faz a pretexto do abismo fiscal (fiscal cliff), que seria a supressão automática (se não houver acordo) das reduções de imposto da era Bush e do corte de imposto na folha de pagamento de Obama, junto com cortes em dispêndio na defesa e outras áreas (com vistas a restabelecer os montantes da Administração Clinton).
           Essa camisa de força, se aplicada, acarretaria maior recessão econômica. Objetivamente o presidente, e não só segundo Krugman, estaria melhor colocado para enfrentar o desafio.
           Este duelo de vontades tem igualmente a favorece-lo a circunstância de que parte das bancadas a sufragarem um eventual acordo está em fim de mandato e, portanto, em nada lhes ameaça uma eventual (de resto, improvável) reação do eleitorado.
           Os democratas já significaram que não admitirão que o aludido acordo abranja recuos na previdência social (em outras palavras, que os pobres paguem pelos ricos).  Por outro lado, resta verificar se os republicanos se aferrarão à sua defesa dos ricos e das vantagens de que gozam desde Bush jr.
           Na verdade, o temor que sobrepaira essas negociações se relaciona com a personalidade do 44º Presidente americano. Nesse gênero de embate, Barack H. Obama já cedeu por duas vezes, sempre tornando possível que os privilégios fiscais dados pelo seu antecessor aos milionários sejam mantidos.
            Será  desta vez  diferente ?  Não há dúvida de que a maioria do povo estadunidense quer maior justiça fiscal. Se passou o tempo de alíquotas de imposto para as grandes fortunas em alturas estratosféricas, como na época do presidente Eisenhower, republicano de boa cepa, será necessário o bom senso para restabelecer a justiça fiscal. 
            A decisão recai mais uma vez sobre Obama. Será que haver superado o grande desafio de não ser presidente de um só mandato – travessia que o tornou tão emotivo quanto  suas lágrimas o tem demonstrado – lhe enrijeceu também  determinação e vontade ?
            Nos dias finais da campanha – e não só neles – Obama contou com o auxílio e a dedicação de seu predecessor democrata, o popularíssimo Bill Clinton. Selada a vitória, quero crer que o reeleito presidente terá contactado  seu generoso cabo-eleitoral. Não seria, de resto, inoportuna uma conversa com o 42º presidente, dado o exemplo deste nos seus confrontos com a hierarquia republicana.
 

 
( Fonte: International Herald Tribune )   

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