domingo, 4 de novembro de 2012

Colcha de Retalhos CXXVI


  O horário de Verão

           Ao contrário do Brasil, em que a sua aplicação está submetida a contingências políticas, nos Estados Unidos e na União Europeia, ele é adotado de forma automática, consoante normas estabelecidas, e que são invariáveis. Sendo medida voltada para a economia de energia, os seus prazos de vigência estão previstos nos calendários, eis que independem das idiossincrasias das populações que se achem por ele condicionadas.
           No Brasil, essa regra tem numerosas exceções. Que o horário de verão não seja aplicado à região equatorial é compreensível, pelas suas características que tendem a reduzir a eventual vantagem de sua vigência. O abuso surge a partir da área mais ao sul, a começar pelo Nordeste.
           Esse horário deveria ser implantado de forma automática. Ao invés o poder federal – que deveria ter presente a conveniência de evitar-se o inútil desperdício energético – se curva às idiossincrasias regionais, em constrangedora manifestação de fraqueza.
           Todos consomem energia e para tanto estão ligados na rede energética nacional. Evitar-se o gasto inútil por considerações de somenos deveria ser levado a sério pela autoridade federal, a exemplo do praticado em países e confederações que encaram essa questão com maior seriedade.
           Mandaria o bom senso que todo o Brasil – excetuada a área amazônica equatorial – obedecesse, sem exceções, à normativa da hora de verão.
           O absurdo de manter para um estado o suposto conforto da hora astronômica pôde ser, de resto, avaliado, quando, por causa de um candidato do PT à prefeitura de Salvador, o governador Jacques Wagner voltou atrás de sua fugaz adesão à hora de verão. De pouco serviu a Nelson Pelegrino a preocupação demagógica. Com ou sem horário de verão, ele foi derrotado por ACM Neto.
           O episódio, sem embargo, tem importância ao mostrar que a União, já às voltas com tanto apagões (o último golpeou o Nordeste) deveria abandonar essa timidez energética, e aplicar como se deve esse horário de verão. Ou queremos continuar a dar outro exemplo de subdesenvolvido desgoverno demagógico ?


O Dragão da Inflação    

           Aqueles que me honram pelo acompanhamento deste blog, não desconhecem a preocupação por mais de uma vez manifestada no que tange à inflação.
            Infelizmente, Dilma Rousseff pensa poder tratar do problema mais através de frases vazias – v.g., combate sem trégua à inflação, etc. – ao contrário de adotar o indispensável dever de casa.
            A norma principal da atuação do Banco Central deveria ser o combate à carestia. No entanto, a par de fixar as metas de inflação anuais – que, via de regra, se permite rotineiramente ultrapassar a média, e se deixa tocar os extremos superiores da alegada ´meta’ -, o B.C. ,sem qualquer autonomia, mais parece um departamento do Ministério da Fazenda.
            O Copom continua a baixar a taxa Selic de juros, a ponto de já ser considerada a mais baixa historicamente falando, uma vez deduzida a inflação. Na sua última sessão, apareceram votos contrários, preocupados com o viés para baixo, com a consequente redução extrema das defesas contra a inflação.
             Os desenvolvimentistas, que estão em alta sob D. Dilma, através de facilidades creditícias  e de derrogações de impostos sobre bens de consumo duráveis (notadamente os veículos produzidos pelas montadoras estrangeiras) julgam poder alavancar a atividade economia por via do crédito. A experiência tem demonstrado o quão ilusória pode ser esta via, inclusive com o aumento do endividamento.
            Nesse contexto, semelha assaz relevante artigo publicado na Folha, de Eduardo de Carvalho AndradeA volta do perfeito fracassado brasileiro.  A esse respeito, transcrevo a seguir trechos pertinentes da matéria em apreço: “ Voltar com essa mesma combinação de políticas fracassadas  no passado (i.e., beneficiar setores da indústria com crédito subsidiado, aumento de alíquotas de importação, redução selecionada de impostos, estabelecimento de um mínimo de conteúdo nacional na compra governamental) é esquecer as lições da história. (...) Num país com tradição de taxas de inflação elevadas, brincar com a inflação é um crime. É oferecer uma cervejinha para um ex-alcoólatra.”


    O  Caos Aéreo

              A colunista Eliane Cantanhêde tem dedicado oportuna atenção aos crescentes sinais de caos aéreo. Dentro da inquietude com a superveniência de duas grandes efemérides – as Olimpíadas no Rio (2016) e a Copa do Mundo (2014) – se acentua a necessidade de maior organização no setor.
              É comum no Brasil justificar maiores atenções com o usuário nacional de desserviços ou de vergonhas persistentes, valendo-se da presença supostamente salvadora de grandes certamens internacionais.
              Não é o caso da Cantanhêde, mas o leitor convirá que é um  vezo muito comum de parte de nossas autoridades. Como se os escândalos na área do transporte aéreo – voos cancelados e atrasados, desatenção ao público, problemas de check-in na Tam e na Gol – já não justificassem por si só uma atuação mais pró-ativa da Anac e da nova Secretaria da Aviação Civil.
              Continua a Infraero a pontificar pela ineficiência – seja no incrível caso do cargueiro em Viracopos, com o marasmo burocrático a causar um pandemônio de cancelamentos, seja na continuidade de nossos galpões aero-portuários, como no Galeão, por exemplo.
              A omissão continua a regra do Palácio do Planalto. Aeroportos mais modernos, como o Santos Dumont, já nascem antiquados. O que falar então do Galeão e de Guarulhos, que permanecem como chagas abertas da infraestrutura aero-portuária.
              É difícil acreditar o que pode conjuminar essa virtual paralisia burocrático-sindical. Onde está o país que construíu uma capital em quatro anos ?  Hoje na era Lula-Dilma só exibimos poleiros para militantes partidários, enquanto o pobre viajante nacional, depois de admirar as maravilhas dos novos terminais do Charles de Gaulle, cabe a triste sina de desembarcar em Cumbica ou no Galeão...


A Intocável Petrobrás

              Criada pelo Presidente Getúlio Vargas contra campanhas raivosas da direita, surgiu a Petrobrás com um fanal de esperança para um país condenado a ser importador de petróleo. Malgrado as calúnias e os ataques peçonhentos, a criação de Vargas, no seu último mandato, tragicamente interrompido pelo golpismo militar aliado com as conhecidas vivandeiras, iria perdurar e afirmar-se.
              Sob Lula vivemos a euforia do pré-sal e do gesto – imitado de Vargas – da mão manchada pelo ouro negro.
              No entanto, na gestão da amiga Graça Foster, Dilma Rousseff parece transformar-se em incôngrua fautora de tempos difíceis para a nossa mais importante estatal.
              Não é por acaso que cai o valor acionário da Petróleo Brasileiro S.A. Pois a nacionalista Rousseff, ao querer servir-se dessa grande empresa nacional para ajuda-la no controle dos preços, está restringindo perigosamente a sua capacidade de investir e de renovar-se.
              Forçada a preços políticos na venda do combustível, a Petrobrás tem que cancelar inversões no pré-sal e tendentes à expansão da produção. Sem os fundos necessários – por causa da aplicação de preços defasados – a empresa não pode investir para atender ao aumento do consumo. Esse incremento originário de facilidades de crédito aos adquirentes de veículos tende a incrementar o consumo de combustível.
              Por causa de uma política de abertura creditícia – a via de aumentar a produção por meio da indução ao consumo – é um caminho complicado, pontilhado de aspectos negativos. Dentre esses, para a empresa de Graça Foster coloca-se o respeitável desafio de uma necessidade de incremento da produção de petróleo. Ora, por lhe faltarem os meios por força dos preços políticos, existe a forte possibilidade de que o Brasil venha a perder de novo a decantada autonomia em matéria de petróleo. Em outras palavras, voltam os tempos em que o abastecimento dependia do combustível de origem estrangeira.
             Vejam só aonde podemos ir parar, graças (sem trocadilho) às manipulações na economia de Dilma Rousseff.  À Petrobras – que FHC queria transformar em Petrobrax, lembram-se ? – nunca terá passado pela cabeça de sua atual direção que uma tal desventura pudesse repontar justamente vindo de quem está entre os seus maiores defensores.


Marcos Valério pleiteia a delação premiada 

               Condenado a quarenta anos de prisão – o que com as maciças deduções a que têm direito os réus pela jurisprudência do Supremo pode traduzir-se em um período bastante mais curto atrás das grades – Marcos Valério é um arquivo  vivo, que, segundo consta, não quer ter a sorte do infeliz Celso Daniel.
               A revista VEJA desta semana informa que prestou depoimento não faz muito a Roberto Gurgel,  Procurador-Geral do Ministério Público. O que foi dito permanece em sigilo, mas Marcos Valerio  sente-se acuado, e deseja garantir a pele, além de conseguir, por meio da chamada delação premiada, uma redução da pena.
               Haverá, de resto, mudanças na composição do Supremo, com a aposentadoria de Ayres Britto e a próxima assunção do Ministro Teori Zavascki.
                Ecoando o semanário, Eliane Cantanhêde, neste domingo, fala do ´Homem-Bomba enjaulado´  “sem compromissos partidários com o PT e pronto a explodir as bases do governo Lula e a aura do próprio Lula”.  Com o decurso dos prazos (recesso do Judiciário, etc.), o processo do mensalão se veria empurrado para 2013, e as prisões para o segundo semestre do ano. “Depois, vem o julgamento do mensalão mineiro, que pega o PSDB. (...)  O principal ponto em comum entre os dois mensalões, aliás, é o explosivo Valério.”

 

A Saúde  de Vladimir Putin

 
              Tem provocado espécie a preferência, manifestada no passado mês, pelo Presidente Vladimir V. Putin por despachar o respectivo expediente na sua residência e não no Kremlin, como era seu costume. O presidente - cujo poder pessoal na Federação Russa tem  peso incomparavelmente maior do que o de outros líderes internacionais - com sessenta anos de idade tinha o pendor, ainda recentemente,  de alardear o vigor físico.
              Neste blog já fiz menção de sua reminiscente postura moussolineana. Putin, que tem baixa estatura, gosta de montar a cavalo, assim como de exibir o torso nu. A esse propósito, a sua imagem pode ser reminiscente a do Duce, conforme aparecera para a mídia de então, no lançamento da campanha propagandística da chamada ‘ Battaglia del grano ‘ (a batalha do trigo).
              Nesse contexto de preocupação midiática, não está esclarecido o papel que teve (ou não) na suposta presente condição do Presidente Putin a sua utilização de um ultra-leve (que chegou inclusive a acompanhar o voo de uma cegonha).
             Dada a discrição dos círculos a ele ligados, há rumores contrastantes, que falam de problemas na coluna a um estiramento muscular.  O mais usual será o desmentido que é, de resto, típico dos regimes autoritários ou pessoais. Como já referi aqui, há um expressâo romana que diz: “ O Papa goza de ótima saúde até o dia em que morre.”
            Longe de mim espalhar boatos sobre a condição de Putin. O que existe de concreto é que Sua Excelência adiou todos os compromissos do mês para o mês seguinte.  Pode ser até que todos os motivos das postergações sejam válidos, mas o que intriga é a conjunção dos fatores, e a circunstância de não ser visto em público.

 

(Fontes: Folha de S.Paulo, VEJA, O Globo, International Herald Tribune )

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