sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Na Reta Final

   Hoje,  dois de novembro - que não é feriado nos Estados Unidos -  se inicia o último fim de semana antes das eleições presidenciais de terça-feira,  seis de novembro.
   O furacão Sandy sai de cena. Em passado recente, não há memória de catástrofe natural que haja irrompido de tal modo nas derradeiras jornadas de uma campanha política das mais disputadas e acirradas da história americana.
   Não obstante a força cega do fenômeno meteorológico, com o seu lento avanço para o Canadá e o retorno, por vezes complicado, para a normalidade na região costeira nordeste, não será lícito afirmar que Sandy não tenha mudado a conformação da disputa eleitoral para a presidência da república.
   O cataclismo alterou o cenário político e não apenas no contexto material, interferindo nas votações antecipadas (uma peculiaridade dos americanos), ocupando o proscênio, tanto para as povoações diretamente atingidas, quanto para as excêntricas. No contexto geral, um valor mais alto - se bem que transitório - concentraria as atenções.
    Agora, com a sua saída de cena, Sandy não deixa decerto saudades, mas ao partir tem uma participação tão marcante, quanto totalmente fora do usual contexto de atribuição de responsabilidades humanas.
     No entanto, se as causas longe estão de uma responsabilização imediata, os efeitos políticos do furacão se afiguram inegáveis.
     Assim, a primeira observação é a de que Barack H. Obama soube ser o Presidente de todos os americanos, o último responsável no sentido de Harry S Truman (the buck stops here -  o presidente tem de assumir a respectiva responsabilidade).  Interrompeu, de imediato, a campanha eleitoral, e passou ocupar-se de forma exclusiva da coordenação federal àquelas áreas flageladas.
     Realçou-lhe dramaticamente a atuação o inevitável cotejo com um desastre natural similar (Katrina), e o desempenho inepto e negligente do então presidente George W. Bush.
     A diferença foi tão grande e tão marcada que não carecia sequer ser assinalada. Lá estava o erro passado como um trambolho para o candidato do GOP, Mitt Romney, que nada podia fazer para disfarçá-la.
     A par disso, em sendo o chefe do executivo e atendendo às próprias obrigações, duas consequências de imediato tenderiam a impor-se: o caráter um tanto patético de Romney, tentando parecer presidencial, enquanto organizava distribuição de víveres a comunidades carentes, e os cumprimentos de Chris Christie recebidos por um Obama a visitar New Jersey, o estado mais atingido pela calamidade.
     O efusivo agradecimento do governador republicano apareceria em todos as redes, inclusive a conservadora Fox, com seu jeitão direto, sem margem para dúvidas. Tratando-se do orador que fizera na Convenção da Flórida o discurso que encaminhara a nomination de Mitt Romney - sem mencionar as suas recentes observações negativas anteriores sobre o Presidente Obama -  a quantificação de seus derramados elogios acerca do aporte do candidato do Partido Democrata semelham fugir às avaliações normais.
     Embora, dadas as características de tais fatores seja difícil quantificar-lhes a influência nas urnas de seis de novembro, salta aos olhos que, em um quadro de comícios extremamente acirrados, Obama cresce e Mitt Romney diminui. Nesse contexto, a comparação com Bush júnior chega a ser tão forte que carece de ser tratada com todo o cuidado, eis que ela se impõe sozinha, dispensando qualquer apresentação.
     Isto posto, se a vitória de Barack H. Obama não for fácil, as prévias deste fim de semana todas indicam, quer nos estados pêndulo (swing), quer no cômputo total, uma diferença sem dúvida pequena e dentro da chamada margem de erro, mas quase sempre em favor da reeleição do Presidente.
      Dessarte, no Colorado, Iowa, Ohio e Virginia, Obama estaria em vantagem, e somente na Flórida, o ex-governador de Massachusetts seria o preferido.
      Em suma, se a sorte não está lançada, os adivinhos democratas sorriem mais largamente, porque os sinais propícios pendem para o lado do presidente em exercício.
     De qualquer forma, não será mais possível analisar o pleito de terça-feira próxima sem aludir à entrada em cena, tão brutal quanto inesperada, de Sandy, o furacão.

( Fontes: CNN, O Globo, International Herald Tribune )
     
  
  

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