quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A Vitória da Esperança


          De acordo com as projeções da CNN, Obama teve 303 votos eleitorais (precisava de 270 para vencer) e Romney colheu 206 votos. A princípio em minoria no voto popular, o presidente já passou à frente, e, portanto, não deverá imitar George W. Bush em 2000, quando este se tornou presidente a despeito de receber menos quinhentos mil votos do que o rival Al Gore.
          Consoante o noticiário, Barack Obama ganhou nos seguintes estados que não fazem parte das colunas normalmente azul (democrata) e vermelha (republicana) : Ohio, Virgínia, Wisconsin, New Hampshire, Iowa, Nevada, Colorado e Pennsylvania. Além de preponderar, com facilidade, nos estados de New York, California e Michigan, o presidente também arrebanhou o Oregon, Washington, Novo Mexico, Minnesota, Nova Jersey, Vermont, Massachusetts, Connecticut, Delaware, Maryland, Maine, Rhode Island, Hawai e o distrito de Columbia. Vê-se, por conseguinte, que Obama ganhou em toda a Nova Inglaterra.
         Por sua vez, Romney venceu em todo o deep South (sul profundo), Alabama, Arkansas, Tennessee, Mississipi, Lousiana, Carolina do Sul e também em Kentucky, West Virginia, Carolina do Norte, Georgia, Oklahoma, Utah, Wyoming, Missouri. Ganhou igualmente no Texas,em Indiana (levada por Obama em 2008), Idaho, Nebraska, Kansas, Dakotas do Norte e do Sul.
         Entrementes, ainda não é possível atribuir o estado da Flórida a Romney ou Obama. Nos primeiros cômputos, os dois contendores se têm alternado na liderança.  
         Contra as maiorias estabelecidas, prevaleceu o candidato da esperança das minorias. A mídia que, em geral, está com a direita, quis acreditar em Mitt Romney. Apesar de seu oportunismo, das gafes, e de constante mudança de posições, a coalizão contrária a Barack Obama pensara ter encontrado o campeão de suas causas, por mais volúvel no seu flip-flop (que é o abandono serial dos compromissos assumidos). Em um campo pobre de representantes, o G.O.P. não tinha essencialmente escolha melhor.
        Dentre as ditas minorias, Barack Obama teve apoio maciço dos afro-americanos, dos latinos e também das mulheres brancas. Se a maior parte da votação dos homens brancos tenha sido republicana, em estados disputados (battleground states), essa preponderância tendia a adelgaçar-se.
         Romney empenhou-se o mais possível, batendo incessante na tecla da economia e dos empregos. Por força da grande recessão, que o povo americano deve às loucuras de Wall Street, com a farra dos derivativos, o encilhamento dos CDOs e das hipotecas subprime, e a consequente ur-falência do banco Lehman Brothers, tarda a recuperação do pleno emprego e da prosperidade.
       Nesse sentido, fracassaram dois intentos da direita e dos republicanos. Empurrar a responsabilidade da situação econômica ao presidente em exercício, e apresentar Mitt como o salvador da pátria. Este, como empresário de sucesso, construíu a sua plataforma com o mantra dos jobs  (empregos). Para aumentar-lhe a estatura, se buscou fazer passar o presidente como um inepto, que seria incapaz de dar um jeito na economia.
       A cantilena republicana se chocou com o incremento nos últimos meses das contratações, assim como da lenta mas segura redução da taxa de desemprego. Se Obama, por inexperiência, não aproveitara plenamente o primeiro biênio, com o consequente castigo da perda da maioria na Casa de Representantes, o povo americano não é burro, e, por mais encarniçada que seja a oposição dos reacionários do Tea Party, não se logra escamotear certas realizações.
       Assim, o 44º presidente aprovou, sem nenhum voto republicano, a Lei da Assistência Médica Custeável (Affordable Health Care Act), que agora entrará em pleno vigor, após passar pelo temíveis obstáculos da Corte Suprema e da sua prometida anulação pelo presidente Romney. Quem lucrará é o povo estadunidense, com a extensão da proteção médica a dezenas de milhões que hoje não a possui, além de outras garantias. Outra lei que ficará de pé é a Dodd-Frank, que procura regular as estripulias de Wall Street.
       Sem revanchismo, mas com um certo sorriso, Barack H. Obama terá o juramento do segundo mandato tomado pelo Chief Justice John Roberts Jr, nas escadarias do Capitólio. No público presente,  estará  o Senador Mitch McConnell (Rep-Ky), que continuará líder da minoria no Senado, e deverá engulir o seu notório lema de que Obama ficasse confinado à grei dos presidentes de um só mandato.
       Apesar de impopular, a chamada lei dos estímulos, aprovada nos pródromos da Administração Obama já surte inúmeros efeitos positivos, como já assinalado no blog a propósito do livro de Michael Grunwald O novo New Deal: a história oculta da Mudança (Change) na era Obama.
         A eleição  de 2012 confirmou, outrossim, a confiabilidade de um novo pesquisador de opinião, que já mostrara o respectivo valor em 2008.  Nate Silver não se escondeu em um emaranhado de imponderáveis, quando afirmou, sem meias palavras, que o Presidente Barack Obama seria o vencedor do embate. Malgrado as assertivas gerais de uma contenda acirrada e apertada, Silver disse que não tinha dúvidas sobre o triunfo de Obama, e determinou-lhe as probabilidades matemáticas em cerca de 85% contra 15% para Romney.
          Pelo que tem demonstrado, Silver avança contra veteranas presenças nesse campo (como a Gallup), e as duas outras, ligados aos principais partidos, a exemplo da Rasmussen Reports (GOP) e a Public Policy Polling (democrata).        
          Conforme a crônica política, a história não costuma ser generosa com os segundos mandatos presidenciais. De qualquer forma, Obama aprendeu duramente no seu primeiro mandato do peso que possa dar a possibilidades de espírito bipartidista de parte dos republicanos.
          O Partido Democrata logrou conservar a maioria no Senado com uma bancada de 51 senadores. Há dois independentes, cujos votos em geral se associam aos liderados do Senador Harry Reid (Nev.). O grupo republicano conta 45.  Um resultado extremamente positivo foi o triunfo da combativa estreante Elizabeth Warren, que mandou para casa o Senador republicano Scott Brown (o qual sucedera ao falecido Ted Kennedy).
          Por sua vez, a Casa de Representantes continua sob o guante do Grand Old Party.  Malgrado a baixa popularidade dessa Câmara, o GOP manteve maioria de 231, contra a bancada de 186 sob Nancy Pelosi.  Resta verificar se Eric Cantor, atual líder da maioria, não tentará derrubar o Speaker John Boehner.
          Nas relações institucionais, não é necessário ser adivinho para ver mais confrontação e gridlock entre a Casa Branca e os republicanos, notadamente por força de seu controle de um dos ramos do Poder Legislativo.
           A  legislação aprovada prevê cortes drásticos e profundos nas despesas públicas, com o escopo de diminuir o déficit do Erário. Nesse sentido, não se pode descontar que os radicais do GOP – que apesar da má avaliação do público conseguiram manter o controle da Câmara – tudo façam para aproveitar-se da vindoura necessidade de aprovação de um novo teto para a dívida pública.
          É de esperar-se que encontrem um Barack Hussein Obama menos disposto a concessões centristas no altar do inexistente espírito bipartidário. Chega a hora da onça beber água, com a anulação enfim das bondades de George W. Bush para os milionários. Despojados do santo protetor Mitt, deverão eles, em fim de contas, como prescreve o megainvestidor Warren Buffet, voltar a pagar os impostos, com alíquotas estabelecidas de  forma équa e adequada.


( Fontes: CNN,  O Globo, International Herald Tribune ) 

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