O
Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, obteve mais
uma vitória parlamentar para o seu sofrido país, com a votação da Assembleia
Geral das Nações Unidas pela promoção da
ANP ao status de Estado observador
(não membro). Teve o apoio de 138 países, dentre os quais o
Brasil, China, Rússia, Índia, França, Espanha e Itália. O isolamento de Israel
se patenteia em que a sua posição contrária foi sufragada apenas por Estados
Unidos e Canadá, num total de nove votos
contra. Na Europa, apenas a República
Tcheca apoiou Tel-Aviv. Na última hora, Alemanha e Reino Unido mudaram de posição, preferindo a
abstenção ao desgaste do voto negativo.
É lamentável que o moderado Abbas tenha de
recorrer a votações na Assembleia Geral para tentar retirar
da virtual paralisia em que ora se encontra o processo de paz no Oriente
Próximo. A capitis diminutio em que se acha a Palestina é
um dos escândalos perenes da política internacional. Após o fracasso dos Acordos de Oslo, a política israelense,
a despeito de nominal apoio ao processo de paz, na verdade tem sido
determinante pela sujeição da Autoridade Palestina e o favorecimento das
ocupações ilegais pelos chamados colonos de território palestino, para a
exacerbação da crise, o que na prática só tende a aproveitar a contestação
violenta do Hamas.Os Estados Unidos, por razões de política interna, nos momentos cruciais, tenderá a favorecer o governo israelense, por mais que Tel Aviv não haja favorecido o processo de paz. Depois das provocações de Ariel Sharon, o gabinete de Benjamin Netanyahu evidencia a tendência para a direita e o consequente alastramento dos assentamentos clandestinos dos colonos na margem ocidental do Jordão. Assim, não estranha que Netanyahu haja classificado a fala de Abbas como “ cheia de mentiras “. Mais do que surpreender, consterna que o primeiro ministro israelense tenha considerado a alocução de Abbas na Assembleia Geral como “ um discurso cheio de gotas de veneno e propaganda falsa contra Israel. Esse não é o jeito de alguém que diz querer a paz”.
Em passado recente, Barack Obama discordou da postura de Netanyahu na questão da Palestina, sublinhando as resoluções do Conselho de Segurança como normativas para a solução do dissídio. O primeiro ministro israelense,forte pelo apoio que lhe dá o Congresso americano, tem muita vez batido de frente com a Casa Branca, posto que, forçoso seja reconhecê-lo, malgrado a proclamada equidistância, na hora da decisão Washington se associa à posição israelense.
Ao entrar no seu segundo mandato, Barack Obama deverá contribuir para a solução da questão palestina. Tal só será possível se os Estados Unidos aprofundarem a orientação antes tentativamente adumbrada quando da reunião do presidente com Netanyahu.
A prevalência do estado-cliente sobre a potência tutelar – situação criada desde os anos setenta, através de Nixon e Kissinger – carece de ser superada. Obama, na sua atual situação, teria todas as condições para implementar a necessária reversão. A ninguém aproveita a persistência do tratamento colonial aplicado por Israel à Palestina. A manutenção da Autoridade Palestina como se fora um verdadeiro bantustan não é uma perspectiva inteligente, que se possa considerar como conducente ao estabelecimento da paz duradoura.
Entrementes, quase em surdina, de novo entra em cena a figura de Yasser Arafat. É importante que as causas de sua morte sejam esclarecidas de forma definitiva. Não seria de somenos a contribuição - em um sentido ou noutro – da causa mortis do velho lutador transformado em mártir da paz para a criação do balizamento indispensável para aclarar a ambiência em que dois povos históricos carecem de aprender a conviver em paz – o que pressupõe respeito mútuo em condições existenciais paritárias.
Agradeceriam não só o entorno regional, mas a própria comunidade internacional, se se lograsse resolver, através da justiça, uma questão que já se prolonga por demasiado tempo.
( Fonte: O Globo )