segunda-feira, 16 de julho de 2012

Putin e a guerra civil na Síria

                            
       O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) por fim reconhece a existência da guerra civil na Síria. A afirmação pelo CICR, ao qualificar a situação como ‘conflito armado não internacional’ implica na definição legal utilizada pela Cruz Vermelha para se referir a um estado de guerra civil.
       Esta asserção expõe a falta de mínima proteção à população civil pelo governo de Bashar al-Assad, eis que tem como decorrência a aplicação aos locais  do direito internacional humanitário em qualquer circunstância onde se verifiquem combates na Síria.
      O reconhecimento da guerra civil implica, outrossim, na exposição da falência do regime Assad e de suas ridículas estórias de ataques por terroristas estrangeiros armados.
      A deterioração da situação naquele país – em que os massacres se banalizam no interior e os combates diários se tornam ineludível realidade na antes preservada capital Damasco – é uma consequência da inação do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
      Essa paralísia não acontece por acaso. Ela se deve à recusa sistemática por Vladimir Putin em reconhecer a emergência e as condições da população civil na Síria. Para salvaguardar o que acredita seja a sua posição junto ao desmoronante regime alauíta, o autocrata russo – com a complacente assistência da ditadura chinesa – tem de forma consistente determinado ao ministro Sergei Lavrov que inviabilize qualquer intervenção internacional para pôr termos às continuadas chacinas e aos bombardeios pela artilharia do exército sírio das inermes povoações sírias.
     Na sua ânsia de manter de pé um cambaleante regime, gospodin Putin tem exagerado. Negou qualquer armamento ao contingente do chamado Plano Annan, a ponto de que a tropa desarmada não ousa adentrar os focos da violência.
     Agora, a Federação Russa deseja reexumar o referido Plano de Paz, excogitado pelo antigo Secretário-Geral das Nações Unidas. Seria  piada de mau gosto, se não fosse um acinte ao bom senso tentar ressuscitar tal ‘plano’ cuja morte já havia sido reconhecida por Annan, o autor desse bebê de Rosemary, o que fez da própria tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas.
      É difícil entender os incoerentes esforços de Kofi Annan em ressuscitar um plano desmoralizado. Tampouco semelha sensato que ele tente trazer a teocracia iraniana para os ‘amigos da paz’ a fiel aliada do moribundo governo de al-Assad, e que tantos fundos tem despejado neste odre alauíta pouco confiável, no intento de manter os respectivos laços com as suas milícias no Oriente Próximo.
     Washington e seus aliados hão de conhecer meios e modos de fazer ver a Putin que continuar a negar ao Conselho de Segurança a sua precípua função de manter e restabelecer quando necessário a paz não constitui apenas um crime, mas é também um erro colossal.
     O Ocidente ter-se-á acomodado de forma demasiado complacente com o veto do Kremlin. Com a aceleração da crise, e o desesperado mergulho de Bashar na agônica violência que parece dirigida a todos os quadrantes, afigura-se indispensável mostrar ao antigo funcionário do bureau da KGB de Dresden, na antiga República Democrática Alemã, que é mister reconhecer a superveniência de um novo estado de coisas. O jovem Putin então deplorava o esfacelamento do império da URSS, sob as rajadas da peristroika e da glasnost. Agora carece de mais realismo para que, de repente, não se descubra a tentar em vão salvar  nave que principia a fazer água por toda a parte.



( Fonte subsidiária:  O Globo )

     

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