sábado, 7 de julho de 2012

Bashar al-Assad : o começo do Fim

                          
       Nem as duas alianças – a de Vladimir Putin com os seus vetos no Conselho de Segurança e a do hierarca Ali Khamenei, com os seus fundos – logram estancar a sangria do tirano Bashar.
      Se o número de mortos – que há tempos ultrapassou os dez mil – continua a empilhar-se, outra estatística vai crescendo. No entanto, ao contrário das macabras contas, com a sua carga de chacinas, atrocidades e crimes contra a Humanidade, esses números são promissores, ao acenarem para o começo do fim do regime.
      Na sua imortal oratória, quem primeiro cunhou a antinômica expressão fora o Primeiro Ministro Winston L.S.Churchill, após a longa noite do predomínio bélico nazista. Então, mudavam os ventos da guerra, e as forças do Eixo encetavam o caminho de inexorável retirada.
      As fatalidades que hão de levar Bashar al-Assad para o Tribunal da Haia não são decerto comparáveis às hecatombes da segunda guerra mundial, mas as suas muitas vítimas clamam igualmente por justiça, sob os destroços das próprias casas, nas mesas dos necrotérios, nos porões das masmorras com suas hediondas torturas e nos vastos campos do combate sem quartel pela liberdade e contra a tirania.
      Não é literária metáfora que os ratos e as ratazanas abandonam as embarcações – tanto os modestos, esquálidos pesqueiros, quanto os reluzentes navios de cruzeiro, com os seus incontáveis conveses – quando elas principiam a adernar sob o fatídico peso do naufrágio anunciado. É uma espécie de tropel de lemingues, mas às avessas, pois não buscam o penhasco da morte, correndo sob o chicote do instinto de sobrevivência.
     Assim, a figura do general de brigada Manaf Tlass, embora seja pessoa da intimidade do ditador, nos traz sinais de bom agouro, por causa de sua fuga para a França. A importância do gesto está na sinalização de que o horizonte de Bashar se enegrece mesmo para as lentes do seu círculo de amigos e apadrinhados.
     O pai de Manaf, Mustafa Tlass – a família é sunita - foi por longo tempo Ministro da Defesa do regime alauíta. O general Tlass, que pertencia à Guarda Republicana, já se afastara do serviço ativo, por discordância no que concerne às mortes de sunitas.
     A deserção de Tlass pesa mais pelo que prenuncia. Companheiro de estudos de Assad na escola militar, ele ajudara na organização da ascensão de Bashar ao poder, em 2000, quando morrera o pai, Hafez al-Assad. É a primeira personalidade a abandonar Bashar. Está na dianteira de uma tropa de anônimos soldados do exército sírio, que estão cruzando a fronteira com a Turquia.
     A fuga de Manaf Tlass foi saudada pela Secretária de Estado Hillary Clinton, na reunião em Paris do Grupo de Amigos da Síria: ‘as pessoas de dentro do regime e das Forças Armadas começam a mostrar seu desagrado’.
     Nessa oportunidade, Hillary verberou a posição de Rússia e China, pelo seu auxílio ao ditador sírio, inclusive através do bloqueio da atuação do Conselho de Segurança.
     Se são sabidas as limitações dos regimes que procuram sustentar-se pelo fuzil, também é conhecida a dinâmica da revolução.
     A observação da travessia de Bashar al-Assad desde que a primavera árabe soprou em sua terra condensa todo um manual dos fenômenos revolucionários. Das incipientes manifestações às enganosas promessas do déspota de reformas, do crescimento dos protestos, a princípio pacíficos, a irradiar-se da cidade sulina de Deraa, e a repressão cruel e covarde dos esbirros do poder, com seus atiradores ditos de elite (snipers), a gradual perda de credibilidade do palácio, com os seus acenos de paz para um povo mobilizado, a que se contrapunham ações de traição, com sevícias, torturas e os primeiros bombardeios.
     Ao seguir a senda da repressão, Bashar embarcou no carro de Muammar Kaddafi, como o cartunista  Ali Ferzat indicara no seu traço veraz,  pagando por isto com a quebra das mãos. A jornada prosseguiu, com a generalização da revolta, atingindo os espaços oficiais até então preservados, de Aleppo e Damasco. Apareceu igualmente a confraternização entre a tropa de conscritos e o povo, mais outro fenômeno característico da progressão inarrestável da revolução.
     Agora, a defecção do general Manaf Tlass nos sinaliza que o processo, malgrado a carantonha de gospodin Vladimir Putin e do solícito apoio dos gerarcas da ditadura chinesa, ganha em velocidade inercial.
     As horas do relógio de Bashar soam  mais cavas e ominosas. O cerco internacional se aperta sempre mais, e se entreolham os seus minguantes aliados quer internos, quer externos, enquanto paira sobre eles a inquietação da ruína. Há os que podem desertar, e os que se descobrem abandonados à própria sorte.    
     É momento difícil, nada invejável, quando as Erínias afinal acenam apossar-se de sua presa.




( Fontes: CNN e Folha de S. Paulo )

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