domingo, 22 de julho de 2012

Colcha de Retalhos CXVII

                                
Na  Dianteira do Atraso

       Os jornalões se preparam para as edições dominicais. Como os números já estão nas bancas na tarde de sábado – em sua primeira tiragem – será mister desencavar temas que, embora preexistentes, possam espicaçar o interesse do leitor. Nesse sentido, saem das gavetas disposições de futuras campanhas das autoridades nos seus diversos níveis, assim como estatísticas que, figurativamente, dêem um soco no estômago do leitor.
      Veja o ilustre passageiro a notícia de O Globo de que “Rio tem os maiores salários de vereador do país”. Será gratificante para o carioca saber que os respectivos edis são os mais bem pagos do Brasil ? Naquele prédio na Cinelândia que não por acaso foi denominado pelo povo  ‘Gaiola de Ouro’, será difícil determinar-lhe a serventia.
      A elevação da paga se alicerça na emenda constitucional 25/2000, que estipula para os vereadores pagamento equivalente a 75% do salário dos deputados estaduais, que, no estado do Rio, ganham R$ 20.042,00. Por conseguinte, o valor mensal dos vencimentos dos vereadores cariocas é R$ 15.032,00. A esse montante são somados vários outros auxílios, que incham ainda mais a respectiva remuneração total.
     A esse respeito, importa saber que apenas quatro parlamentares rejeitaram o reajuste e continuam a receber os vencimentos de antes: são dois do PSOL (Eliomar Coelho e Paulo Pinheiro) e duas representantes do PSDB (Teresa Berguer e Andrea Gouvea).


Eleições para Prefeito no Rio

     É lamentável que Eduardo Paes (PMDB) apareça nas prévias do Datafolha com 54% das intenções de voto. Havendo derrotado na eleição passada, no segundo turno o candidato Fernando Gabeira, por estreitíssima margem ( e graças a um questionável ponto facultativo inventado pelo aliado  Sérgio Cabral que inchou para novecentos mil as abstenções, com boa parcela de funcionários estaduais que não sóem votar na chapa preferida pelo governador ), Paes agora frui dos benefícios da exposição como prefeito.
     O segundo colocado é o candidato do PSOL, Marcelo Freixo, o deputado a quem tanto deve o Rio de Janeiro, por sua inteireza ética, e pelo seu combate à praga das milícias, combate esse que lhe tem valido não poucas ameaças.
    Freixo colheu 10% das preferências e está em segundo. Um exame do campo de adversários, convencerá de pronto o eleitor com um mínimo de informações, o quanto pode ser importante para o Rio de Janeiro carregar, pelo exemplo pregresso, e as futuras perspectivas, para o segundo turno o nome desse corajoso deputado estadual, a quem o Rio já tanto deve por seu indômito combate à corrupção, como na condução da CPI das milícias.
    Poucas vezes se tem a oportunidade sufragar  nomes com a qualidade e a promessa   de Marcelo Freixo. É de esperar-se que a campanha possa mostrar ao eleitor o quanto se deve esperar do candidato do PSOL.
   Nesse sentido, parece-me de todo interesse transcrever  a sua declaração a O Globo: “Sem dúvida, é bom resultado, principalmente se avaliarmos a exposição do prefeito e a fortuna que está sendo investida na sua campanha. Estamos no início da corrida eleitoral, mas a pesquisa revela pontos positivos, como minha baixa rejeição.”

Prévia para prefeito em São Paulo    


     A pesquisa do Datafolha – realizada na quinta e na sexta desta semana – aponta em primeiro lugar José Serra (PSDB), com 30%, e Celso Russomano (PRB), com 26%.  Malgrado toda a movimentação do estado-maior petista, Fernando Haddad (PT) continua entre os nanicos, com 7%, seguido dos conhecidos de sempre, Soninha (PP), também com 7%, Chalita (PMDB), com 6%, e Paulinho da Força Sindical (PDT) com 5%.
    Apesar de que em passadas eleições, a curva de Russomano tende a baixar, durante a exposição da propaganda política, semelha pouco provável, que o candidato de Lula possa vir a ocupar o segundo lugar para uma eventual disputa de segundo turno contra  Serra.  


O treinamento dos PMs em São Paulo

    Chocou o país a maneira pela qual foi perseguido e abatido por PMs o empresário Ricardo Prudente de Aquino. Ricardo levou dois tiros na cabeça durante uma abordagem policial no bairro de Alto de Pinheiros (zona oeste de São Paulo).
    Ao contrário da norma estabelecida pelo Método Giraldi – verbalizar a ação para tentar evitar o confronto. O disparo é a última alternativa – o que, na verdade, aconteceu foi que os policiais já chegaram atirando contra o empresário, sem verbalizar.
   Mais tarde,  PMs tentaram justificar o ocorrido dizendo que o empresário portava um celular, que os policiais confundiram com uma arma. Mais tarde, maconha terá sido encontrada no veículo da vítima. É questionável essa aparição no carro, eis que constitui um recurso utilizado amiúde pela polícia para fundamentar a sua ação contra alguém considerado suspeito.
   Cabem a respeito, duas transcrições: “essas pessoas (policiais) que fizeram isso  não podiam estar na rua. Nem nessa profissão. Não os julgo. Julgo os políticos que não colocam dinheiro na educação das crianças, na segurança, no treinamento dos policiais” (Carmen Prudente de Aquino, mãe da vítima)
   “A gente tem certeza de que (a maconha) foi plantada (inserida no carro de Aquino pelos policiais). E, mesmo que ele estivesse com a droga, nada justifica o que foi feito. Essa é a lógica da polícia: atira primeiro, pergunta depois” (Abílio Sacramento, tío da vítima).



Os  Fuzilamentos de Inocentes nos Estados Unidos  


     Essa praga dos fuzilamentos de inocentes não é, infelizmente, acontecimento sui generis, ocorrência inopinada e fora do comum.
    Desde o estúpido morticínio, a cargo de dois adolescentes, no Ginásio de Columbine, em Littleton,Colorado,  em 1999, quando caíram treze colegas, que se discute sobre o escândalo da extrema facilidade de comprar armas de fogo de todo gênero na terra de Tio Sam, fundada na autorização constitucional do porte de armas, concedida em disposição inserida na terceira emenda à Constituição americana.
     A Declaração de Direitos (Bill of Rights), de 1791, é um dos grandes monumentos da defesa da liberdade. A determinação específica quanto ao direito de porte de armas tem que ser, no entanto, analisada diante da realidade do século XXI, com todas as facilidades proporcionadas pela tecnologia, e não à luz do século XVIII. Que sentido faz hoje uma interpretação fundamentalista, arrimada  na suposta necessidade de proteção dos pioneiros americanos e dos cidadãos comuns em dispor de escopetas (ou trabucos de poder equivalente de fogo daquele tempo) para defender a respectiva propriedade ? A própria formação de milícias se fundamenta nessa norma.
     A  chacina de Columbine motivara  documentário de denúncia de Michael Moore, premiado por um Oscar em 2003.
     Quem assistiu ao filme de Moore, se recordará do seu approach irônico e até hilariante, quando de sua visita  a Charlton Heston, então  presidente da poderosa National Rifle Association (NRA).
     Tais massacres não se restringem decerto aos Estados Unidos. Até o Rio de Janeiro, na tragédia de Realengo, sofreu pela ação ensandecida e anti-social de um ex-aluno do instituto de ensino.
     A facilidade com que o fautor das mortes em Aurora, no estado do Colorado,no lançamento da película sobre BatmanThe Dark Knight Rises’ se proveu de munição por intermédio da internet deveria chamar a atenção especial a quem de direito. 
    Desde muito que a direita e, em especial,  a extrema direita, defendem com a previsível ausência de lógica, mas com grande agressividade, o seu sacro direito de portar armas. No contexto de todos os massacres a que esse anacrônico direito se relaciona, desde muito já soou a hora de rever esta absurda determinação.
    A falta de qualquer ação de parte dos partidos políticos de pôr um termo a tal festival de insânia e de instrumentalização já constitui uma realidade à parte.
    Depois de mais um morticínio – em geral decorrência de um solitário ou inadaptado, como no caso em tela o suspeito James Holms – o que estarrece é o atroante silêncio dos políticos. Ninguém ousa verbalizar o que normalmente estaria nos lábios de pessoas sensatas: que é hora de pôr um termo a esse facilitário da loucura, enquanto se permite que, com base em normas arcaicas, sem qualquer significado para o mundo atual, haja mais armas em circulação nos Estados Unidos do que a totalidade de população.


( Fontes: O Globo, Folha de S.Paulo, International Herald Tribune )

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