terça-feira, 10 de julho de 2012

Os remédios de Dilma para a Crise


       Da farmácia econômica,  há tempos sob os cuidados de Guido Mantega,  não variam as drogas para o tratamento da crise. Malgrado  sua maior participação na administração direta – e nem sempre, como no caso do Itamaraty, a micro-mexeção[1]  é a política mais aconselhável – a presidenta  Dilma parece concordar com o acerto de suas escolhas.
       Já vão longe os anos do boom econômico, em que o governo Lula preferiu adotar a filosofia da cigarra e não a da formiga. A farra do consumo e as benesses do empreguismo seriam preferidas, por serem populares e, por conseguinte, boas de voto, ao invés da via mais trabalhosa de construir o futuro com a ênfase no investimento.
      Se pelo ralo da corrupção uma escandalosa parcela da descomunal carga fiscal se esvaíu – o que se traduz no descalabro da infraestrutura viária, na acintosa negligência no saneamento básico, para citar só duas contas do rosário – essa política de inchadas, amorfas maiorias com a sua sede fisiológica pode enganar por um tempo a sociedade, ao descurar do futuro.
     Sem embargo, ao mudarem as estações e a crise bater à porta da economia brasileira, de pouco lhe servirão os analgésicos da demagogia, se nada se faz para nos libertarmos do subdesenvolvimento sistêmico.
     O lulopetismo governa o Brasil por mais de dez anos. Se algo foi feito para manter as conquistas do Plano Real, com Dilma a relativa autonomia do Banco Central desapareceu, com a consequente maior ingerência da Fazenda. Este, no entanto, por ora não é o maior problema, pela natural queda da inflação pela retração na atividade econômica.
     Se por vezes a ênfase agrária se fantasia de agro-indústria, com poucas exceções, a ênfase de nossas exportações se apega às matérias primas, com a sua carga de reduzida tecnologia agregada, e a maior fragilidade se se atravessam períodos de prolongada recessão nos mercados do Norte. Com as vestimentas das diversas épocas, dessa fantasia em verdade ainda não nos livramos.
    Não há de negar-se que o Brasil terá avançado bastante. Apesar da dívida externa, dispomos de bastas reservas que nos permitem virar credores do FMI, doce experiência para quem viveu as missões de fiscais daquele organismos, e para as quais as autoridades fazendárias responderam com o jogo bem-brasileiro das cartas de intenção de faz-de-conta.
    Se este tempo felizmente passou, a hora nunca foi de encher a boca para jactar-se da estabilidade do real, de sua apreciação perante o dólar, dos saldos na balança de contas correntes, em que os dados positivos de nossa economia atraíam as inversões do capital, tanto o que vem para ficar, quanto o especulativo.
   O lulopetismo se engalanou não só com os ganhos efetivos na economia, mas também com as miçangas das aparências. Se o dever de casa bem feito atrai investidores e especuladores, não nos interessa decerto recusar fundos. O que será mister evitar é que, como na fábula, se olvide a alternância das estações, e tampouco se pense na serventia de reforçar construção e alicerces, para estarmos protegidos dos males das intempéries.
    O lulopetismo se guia por um projeto de partido e de poder. Se será por certo humana e compreensível a ambição político-partidária, ela será inteligente e esperta se aliar o egoismo da facção aos objetivos do interesse de toda a Nação.
    Foi o que não fez Lula da Silva. Privilegiou o empreguismo, com a irresponsabilidade dos comprometimentos nos gastos correntes, sempre mais onerosos, e sem flexibilidade. O assistencialismo também ganhou um peso excessivo. Basta ver o Maranhão, o paraiso da bolsa-família. A esmola e a caridade não podem ser fórmulas para perpetuar a pobreza e a miséria. A falta de perspectiva só é solução para os coronéis e os governos fisiológicos, interessados apenas em manter situação que é inaceitável para sociedade que não compactua com o parasitismo como fim de linha.
    Em essência, as soluções de Dilma para a crise não atacam o cerne do problema. Tentemos resumir em um parágrafo esta falsa opção. Dilma e Mantega privilegiam os ‘pacotes’, medidas na verdade superficiais para um desafio bem maior. Em uma sociedade que se endivida, eles pensam resolver o problema pelo lado do crédito. A prioridade não será o investimento, mas pôr mais dinheiro na bolsa do consumidor para que ele compre mais a prazo – esvazie os pátios das montadoras estrangeiras. Aqui não se deve pensar nos perversos efeitos ambientais, com o aumento dos automóveis (cujos requisitos em matéria de emissão de poluentes são mais do que ridículos, quase criminosos, se os compararmos com os vigentes na Europa e nos Estados Unidos). O que interessa parece ser aumentar o endividamento das famílias através de um consumo induzido.
     Ainda não é tempo de reformas – são tantas, por onde começar ? – nem de investimentos em infraestrutura viária, saúde, educação, etc.  Sem falar do peso absurdo do impostômetro, que, além do contribuinte individual, sufoca a indústria e a nossa capacidade concorrencial com o dragão chinês.

                                                                                             (a continuar )



( Fontes subsidiárias: Folha de S. Paulo, O Globo )  



[1] eis minha tradução livre do inglês micro-managing.

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