terça-feira, 17 de julho de 2012

Lições da Crise

                                       
        Há uma semana escrevia ‘Os Remédios de Dilma para a Crise’. Já é tempo de voltar ao tema, como prometera.
       A resposta de Dilma Rousseff ao desafio do PIB é consequente e lógica. Segue  estratégia de ação que não lhe pertence, sendo na verdade  decorrência natural da posição adotada por seu antecessor e exemplo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
      Ao invés de reformas que confrontem os problemas básicos do Brasil, a palavra de ordem não muda. Mostrou isso claramente em seu discurso de posse, em que apenas mencionou as reformas política e fiscal, deixando ao alvitre do Congresso a iniciativa.
     É conhecida a força da nova Administração. No passado, o Legislativo curvara-se diante dessa premissa, e infelizmente não o foi por uma boa causa. Ao deixar por conta do Congresso tais medidas, não poderia ela ignorar que uma vez mais se perderia a ocasião, pois não se pode presumir que o organismo beneficiário de determinada situação vá modificá-la, pensando no bem público, e não no próprio.
     O erro de Dilma Rousseff, na verdade, é duplo. O seu criador, se teve o mérito de não alterar, em matéria financeira, o dever de casa, soube aproveitar-se da época de bonança, cujo dobre soaria em setembro de 2008, com a bancarrota do Lehman Brothers.
    Em termos econômicos, a política de Lula da Silva foi a da cigarra. Pensou em valer-se dos bons ventos não para investimentos voltados para corrigir as lacunas de nossa economia. Cogitou antes de engordar o modelo partidário, com o incrementos dos gastos correntes e o empreguismo desvairado. Cuidou também de aumentar, ou melhor, inchar a sustentação da base aliada, regiamente cevada com os recursos da viúva. Em uma palavra, o seu norte foi o presente, na alegre presunção de que tudo continuaria na mesma, inclusive os bons ventos na economia mundial.
    A leitura pode dar azia ao grande líder, mas a discípula, inda que a princípio inexperiente na política, dispõe de estudos e conhecimento que nos fariam esperar uma diversa atitude.
    Com a sua estratosférica popularidade que lhe atribuem os institutos de pesquisa de opinião, a presidente teria cacife para tomar um caminho que a aproximasse dos grandes – e no século passado só se descortinam Getúlio e Juscelino – e não das malogradas promessas e da malta inconspícua dos medíocres.
    Na ampulheta do tempo, o que interessa para construir o futuro não é a areia depositada, mas aquela que resta cair. Se o dílmico transcurso, pelas oportunidades desperdiçadas, até agora não ajuda,  será mister reconhecer que ainda dispõe de uma janela de recuperação.
    Se irá aproveitá-la, é outra estória. Na cartilha a seguir, há mandamentos positivos e negativos. Dentre esses últimos, talvez o mais importante será não infantilizar o povo brasileiro. Dessarte, carece de respeitá-lo. Nada de dizer um dia uma coisa, e se depois os tempos mudarem, desmerecer o que elogiou na véspera, e aparecer com novo discurso.
    Não adianta tapar sol com peneira e começar a dizer que o PIB não é importante. Duas coisas que não deve esquecer: o povo não é burro. O PIB representa um retrato na parede. Reflete uma situação e se ela não nos agrada, o que temos de fazer será trabalhar para que no futuro volte a nos dar otimismo e confiança no progresso vindouro.
     Quanto ao custo-Brasil e às diretivas para virar o jogo, muitas delas exigem tempo e responsabilidade, e outras são de mais fácil implementação. Como trabalhar no entanto em um entorno onde os recursos se esvaem pelo ralo da corrupção sistêmica, os malfeitos semelham ser a regra e não a exceção, o Legislativo só pensa em demagógico aumento de despesas e salários, e o Judiciário, a par de exemplos dignificantes, prioriza a cada ano, a elevação da régua da própria remuneração ?
    Há uma farra de greves em Pindorama. Algumas justas, como a dos professores. Outras menos, trazendo a sárcina do oportunismo.
   Demagogia, é fácil. Acaba, no entanto, mal, como a situação de sua vizinha portenha tende a enfatizar. A saída será tratar primeiro das causas, e não dos sintomas. Inverter a ordem não costuma dar certo.

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