A ‘democracia’ venezuelana
O ex-caminhoneiro
Nicolás Maduro, a tarda escolha do enfermo coronel Chávez, só se mantém no
poder pela intimidação e demagogia.
A acusação contra
a deputada Maria Corina Machado só pode ser aceita pelo Ministério público
venezuelano, por motivo do aparelhamento do Estado. E não há limite para tais
imputações, se excluirmos a paranoia dos ditos homens fortes. Cassada no grito
pelo chefe da Assembleia Legislativa, Diosdado Cabello – por haver tentado
discursar na Assembleia da OEA a
convite do Panamá – a deputada Maria Corina paga o preço de sua firmeza
oposicionista, conjugada com a sua popularidade, decorrente notadamente de não
pactuar com a gangue chavista.
Acusa-se a deputada
– hoje cassada na ‘democracia’ venezuelana – agora de ‘conspiração em plano de
magnicidio contra o presidente Nicolás Maduro’, o que pode jogá-la nas
enchovias da ditadura por dezesseis anos.
Não será decerto
pela oposição bem-comportada – como havia nos tempos do PRI mexicano em que se cultivavam partidos (pra inglês ver) que existiam para
dar caução ao regime – que cairá o regime implantado por Hugo Chávez. Será
derrubado pela coragem de punhado de oposicionistas – como Maria Corina Machado – e o
crescente descontentamento, não só da classe média, mas também do povão, pela
inflação galopante, o desconforto vivencial (cortes de luz, prateleiras vazias
nos supermercados) e a crescente falta de perspectivas por obra de
autoritarismo boçal e a ajuda ancilar da crise petrolífera, que some com os
recursos advindos do petróleo, esbanjados por Chávez no seu delírio de mando,
com a subvenção à ditadura cubana e a otras más.
Ressurge a oposição em Cuba
A mais velha ditadura americana continua a cultivar
o seu punhado de admiradores que, por feliz coincidência, lá aparecem por
curtos períodos, retornando sempre aos respectivos países com as lágrimas das
comoventes atenções que o gerontocrático regime lhes sói oferecer. Outra
decerto seria a respectiva opinião se por lá se quedassem.
O problema de
Raul Castro e do esquema repressivo é que para eles o desejo de liberdade e
justiça grassa mais do que a erva no campo. Segundo o Observatório Cubano de
Direitos Humanos houve em 2014 até agora 8.525
detenções arbitrárias. Provoca espécie esse novo surto (53% maior do que o do ano passado, no mesmo período – entre janeiro
e novembro), e sobretudo pelo fato de que 67% das prisões atingirem a mulheres
críticas do governo de Raul Castro.
Como em todas
as ditaduras, há sempre lugar para os alcaguetes, os não-tão simpáticos
dedos-duro, que colaboram por
incentivos diversos (inclusive essa doença generalizada do mau-caráter,
presente tanto na Alemanha do Leste, quanto na Rússia de Putin). As prisões
ocorrem na entrada ou saída da igreja – já por si um lugar suspeito para essas
sombras das ditaduras, assim como no caminho de reuniões em casas de críticos
do regime.
Desperta
espanto também a veia inovadora dos movimentos repressivos. Talvez para frustrar
as estatísticas quanto à mão pesada do regime, essas detenções arbitrárias, ou
desaparecimentos light sóem durar de
4 a 24 horas, se bem que algumas os cumpanheiros
bem-intencionados as estendam a dias ou semanas. Geralmente, decerto para
atrapalhar as estatísticas dos direitos humanos, não superam o mês na detenção.
O progresso na arcaica ditadura coletivista também se vê na privatização da
violência, eis que ‘voluntários’ contribuem com carros particulares, e até
ônibus e ambulâncias. Nesse contexto, a celebração do Dia dos Direitos Humanos promete mais uma vez surpreender pela maneira peculiar com que o regime – e a turba dos maus-caráter e apoiadores (burros mas sinceros) - tencionam comemorá-lo.
As detenções
aumentarão no dia dez de dezembro para tentar quebrar o ímpeto da dissidência,
bagunçar e inviabilizar celebrações, seja em igrejas, seja em domicílios de
cidadãos cubanos (já marcados por ignavas
reuniões para leitura da Declaração dos Direitos Humanos).
Não creio que
apareçam para dar apoio a essa chusma os bons representantes do PT – que em
geral choram para recordar os maus velhos tempos. Não é de excluir-se, porém,
que tais eventuais comissões apareçam no porto de Mariel, no Caribe cubano, para ver como se constroem bons portos
que no Brasil não se encontram.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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