segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Rescaldo de Fim de Semana

                               

A ‘democracia’ venezuelana

 
     Dois fatores deverão livrar o povo venezuelano da herança maldita do caudilho Hugo Chávez: a funda incompetência do sucessor Maduro e a crescente deterioração da segunda geração do regime chavista.

    O ex-caminhoneiro Nicolás Maduro, a tarda escolha do enfermo coronel Chávez, só se mantém no poder pela intimidação e demagogia.
    A acusação contra a deputada Maria Corina Machado só pode ser aceita pelo Ministério público venezuelano, por motivo do aparelhamento do Estado. E não há limite para tais imputações, se excluirmos a paranoia dos ditos homens fortes. Cassada no grito pelo chefe da Assembleia Legislativa, Diosdado Cabello – por haver tentado discursar na Assembleia da OEA a convite do Panamá – a deputada Maria Corina paga o preço de sua firmeza oposicionista, conjugada com a sua popularidade, decorrente notadamente de não pactuar com a gangue chavista.

      Acusa-se a deputada – hoje cassada na ‘democracia’ venezuelana – agora de ‘conspiração em plano de magnicidio contra o presidente Nicolás Maduro’, o que pode jogá-la nas enchovias da ditadura por dezesseis anos.

      Não será decerto pela oposição bem-comportada – como havia nos tempos do PRI mexicano em que se cultivavam  partidos (pra inglês ver) que existiam para dar caução ao regime – que cairá o regime implantado por Hugo Chávez. Será derrubado pela coragem de punhado de oposicionistas – como Maria Corina Machado – e o crescente descontentamento, não só da classe média, mas também do povão, pela inflação galopante, o desconforto vivencial (cortes de luz, prateleiras vazias nos supermercados) e a crescente falta de perspectivas por obra de autoritarismo boçal e a ajuda ancilar da crise petrolífera, que some com os recursos advindos do petróleo, esbanjados por Chávez no seu delírio de mando, com a subvenção à ditadura cubana e a otras más.

 

Ressurge a oposição em Cuba

 

       A mais velha ditadura americana continua a cultivar o seu punhado de admiradores que, por feliz coincidência, lá aparecem por curtos períodos, retornando sempre aos respectivos países com as lágrimas das comoventes atenções que o gerontocrático regime lhes sói oferecer. Outra decerto seria a respectiva opinião se por lá se quedassem.
       O problema de Raul Castro e do esquema repressivo é que para eles o desejo de liberdade e justiça grassa mais do que a erva no campo. Segundo o Observatório Cubano de Direitos Humanos houve em 2014 até agora 8.525 detenções arbitrárias. Provoca espécie esse novo surto (53% maior do que o do ano passado, no mesmo período – entre janeiro e novembro), e sobretudo pelo fato de que 67% das prisões atingirem a mulheres críticas do governo de Raul Castro.

        Como em todas as ditaduras, há sempre lugar para os alcaguetes, os não-tão simpáticos dedos-duro, que colaboram por incentivos diversos (inclusive essa doença generalizada do mau-caráter, presente tanto na Alemanha do Leste, quanto na Rússia de Putin). As prisões ocorrem na entrada ou saída da igreja – já por si um lugar suspeito para essas sombras das ditaduras, assim como no caminho de reuniões em casas de críticos do regime.
       Desperta espanto também a veia inovadora dos movimentos repressivos. Talvez para frustrar as estatísticas quanto à mão pesada do regime, essas detenções arbitrárias, ou desaparecimentos light sóem durar de 4 a 24 horas, se bem que algumas os cumpanheiros bem-intencionados as estendam a dias ou semanas. Geralmente, decerto para atrapalhar as estatísticas dos direitos humanos, não superam o mês na detenção. O progresso na arcaica ditadura coletivista também se vê na privatização da violência, eis que ‘voluntários’ contribuem com carros particulares, e até ônibus e ambulâncias.

        Nesse contexto, a celebração do Dia dos Direitos Humanos promete mais uma vez surpreender pela maneira peculiar com que o regime – e a turba dos maus-caráter e apoiadores (burros mas sinceros)  - tencionam comemorá-lo.

        As detenções aumentarão no dia dez de dezembro para tentar quebrar o ímpeto da dissidência, bagunçar e inviabilizar celebrações, seja em igrejas, seja em domicílios de cidadãos cubanos (já marcados por ignavas reuniões para leitura da Declaração dos Direitos Humanos).
         Não creio que apareçam para dar apoio a essa chusma os bons representantes do PT – que em geral choram para recordar os maus velhos tempos. Não é de excluir-se, porém, que tais eventuais comissões apareçam no porto de Mariel, no Caribe cubano, para ver como se constroem bons portos que no Brasil não se encontram.

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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