quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Balaio das quintas-feiras

                          

*       A notícia  no site de O Globo de que 7 milhões de pessoas ainda passam fome no Brasil surpreende sobretudo pela sua discrepância com os comunicados grandiloquentes do governo e da própria Dilma Rousseff, ao congratular-se com o eleitorado pelo avanço da política social do Partido dos Trabalhadores.  A acreditar na propaganda, a Presidenta estaria ganhando a guerra contra a miséria.

        É o caso de  perguntar:  se a campanha vai tão bem, por que um número tão alto de brasileiros vai tão mal, continuando  sem ter o que comer ?

 

*      A situação financeira da Federação Russa permanece preocupante, mas o ex-KGB Vladimir Vladimirovich Putin, Presidente da Rússia, continua a impressionar pela sua cara dura. Não chega a dizer que tudo vai bem, senhora marquesa quando questionado nas entrevistas de fim de ano, mas continua o Putin de sempre, com o inescrutável semblante do jogador de pôquer, que jamais revelará as péssimas cartas que ora tem em mãos.

        O rublo despencara 45% este ano – há estatísticas ainda piores – mas o bom Putin cuida de tocar a tecla estrangeira para explicar a barafunda em que se meteu. Para ele, os problemas financeiros da Rússia se devem às sanções (ditas injustas) sobre a economia. Ainda no campo de caçar bodes-expiatórios, o presidente resmunga que o Banco Central  deveria estar mais atento e agir um pouco mais.

        Responsabilidade, terá acaso alguma?  Tudo somado, ele acha que não, embora fique difícil de explicar o surgimento das sanções de Estados Unidos e da U.E., senão por causa de política imperialista, de que sofre agora notadamente a Ucrânia.

        Sem embargo, por dispor de grandes reservas, o rublo registrou ontem sua maior alta desde 1998: 11% frente ao dólar, que fechou cotado a 60.74 rublos. A que se deve esta súbita recuperação?  Tal se deveu às ainda fartas reservas de dólares americanos de parte do Banco Central. Além da venda dos dólares, funcionou a promessa do banco de ajudar as empresas, em especial as exportadoras, a honrarem suas obrigações em moeda estrangeira. Consoante o britânico Financial Times, o ministro de Finanças russo disse que o governo está pronto para vender US$ 7 bilhões no mercado de câmbio.

       De qualquer forma, se terá presente que a Rússia tem uma gordura finita de reservas em moeda forte, para a qual existe obviamente um término. Uma política desse gênero só é pensável para o curto prazo. Esse tipo de solução, portanto, não satisfará ao mercado, pela simples razão – segundo o diretor do Instituto de Rússia no King’s College, Sam Greene -  que “as reservas do país não vão durar para sempre”.  Por isso, a equipe econômica do Presidente Putin teria de agir depressa.

        Segundo Greene, o maior problema da economia russa é a falta de quaisquer fontes de crescimento. Assim, sem os preços altos do petróleo (com a atual queda sistêmica no preço do barril) e sem acesso ao mercado de capitais (por causa das sanções do Ocidente), a economia russa “está sem combustível”.

        Dado seu tamanho, a crise na Rússia incomoda o Ocidente,  notadamente a países como a Alemanha, que tem relações econômicas e comerciais bastante amplas com  o  Kremlin. Uma situação do gigante dos Urais vizinha de concordata não interessa a ninguém, muito menos aos maiores parceiros comerciais de Moscou.

        Por isso, soa a hora da negociação. É importante que a oportunidade seja bem aproveitada. Se não interessa à Europa e Estados Unidos uma Rússia em crise, a disposição de um eventual auxílio e de um conjunto de medidas que tornem a situação menos perigosa – tanto para a Rússia, quanto para os seus grandes parceiros – deveria ser sopesada com atenção e visão política. A costura dessas intervenções conjuntas deveria, contudo, ter um pressuposto:  a cessação de parte do Kremlin de sua postura imperialista e de fomento de guerra civil na vizinha Ucrânia. A situação da Crimeia será talvez difícil de remediar, não obstante a ilegalidade da ação militar e o fajuto referendo, que não suportaria qualquer exame sério por tribunal internacional.

       A sugestão da composição para Vladimir Putin é pensada pelo mercado financeiro de Londres, como transpira na sugestão abaixo do diretor do King’s College, relativa a um eventual pacote de medidas pontuais para criar condições de solução da sua crise: “O presidente Putin e seus ministros não têm como trazer os preços do petróleo para os altos patamares em que se achavam, mas podem fazer outras coisas. Podem buscar uma acomodação na relação entre o Ocidente e a Ucrânia, de modo a conseguir que as sanções aplicadas sejam suspensas.”

         De alguma forma, Vladimir Putin deve ser confrontado com a dura verdade de que uma política imperialista, no que tange a seus vizinhos e notadamente a Ucrânia, não é compatível com acerto duradouro que inclua vantagens econômico-financeiras que respaldem a frágil economia russa.

 

(Fontes:  CNN, O Globo)

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