domingo, 7 de dezembro de 2014

Colcha de Retalhos B 45

                              

Aumenta a maioria republicana no Senado americano

 

       Mary Landrieu lutou o bom combate, mas desta feita não bastou para garantir-lhe a reeleição. Se lograra pequena vantagem, na primeira eleição, a veterana senadora democrata não conseguiu mantê-la na eleição extraordinária, perdendo para o republicano Bill Cassidy,  que em janeiro de 2015 assumirá como o novo senador por Louisiana. Na legislatura anterior, Cassidy era deputado.

       A senhora Landrieu, considerada a mais conservadora da bancada democrata, representou o estado por dezoito anos, em três mandatos. O seu conservadorismo, que lhe garantira as vitórias pregressas, desta vez não lhe serviu. Malgrado as vantagens que a sua antiguidade lhe garantia na hierarquia senatorial, os eleitores de Louisiana queriam engrossar a onda do GOP nessa eleição intermediária.

        Dessarte, o partido do presidente Obama fica sem nenhum senador oriundo do Sul profundo (deep South), e a sua bancada na Câmara Alta – que em 2015 será minoria – fica ainda mais fraca.

 

Baixa na Inflação dos serviços ?

 

           A inflação constitui um dos traços mais negativos da Administração Dilma Rousseff.

           O consumidor, pelas lambanças econômicas do Dilma I, enfrenta esse ‘imposto’, que é decerto o mais cruel, por não trazer nenhuma vantagem para economia.

          Dentre os componentes do dragão, os preços dos serviços, em que a pressão inflacionária ocorre muito pelo sintoma maria vai com as outras, dado o característico oportunismo e a pouca relação com as realidades do mercado, desta vez parece que haverá um certo refresco.

          Assim, segundo os dados do Ibre/FGV,  a alta em 2014 do ítem serviços será de 8% (contra 9% em 2013).

          A ganância oportunista que caracteriza tais elevações – feitas em geral sob atmosfera de aproveitar o embalo, qualquer que ele seja – se reflete na discrepância com o IPCA. Em novembro ele fechou a 6,56%.  Ainda obviamente se ignora o IPCA de dezembro, mas não será decerto menor do que o do último mês.

          Assim se assegura, pelo visto, para os serviços o incremento suplementar que cobram do consumidor ...

 

 

A Ficha demora a cair...

 

          Segundo as últimas pesquisas do Datafolha, sete em cada dez brasileiros pensam que Dilma Rousseff tem alguma responsabilidade no escândalo de corrupção na Petrobrás.

         Dadas as dimensões do caso, a avaliação do eleitor pode ser  considerada como ainda relativamente favorável à popularidade da Presidenta. Dada a quantidade de elementos negativos que têm vindo à tona, o PT e a Presidente podem ainda considerar-se singrando um mar navegável.

         Há certa discrepância, no entanto, entre esse dado acima e a popularidade de Dilma. Para o brasileiro, nada teria mudado desde 21 de outubro, às vésperas do segundo turno das eleições: 42% dos eleitores continua a achar que o governo da petista é ótimo ou bom, que é a cópia xerox da parcela do eleitorado   que assim se posicionou na semana decisiva para a sua reeleição.

 

Retrocesso imediato e decepcionante      

 

     Malgrado a expectativa, a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda não constitui o remédio milagroso para a nossa recuperação econômico-financeira. Se acaso se alimentavam esperanças nesse sentido, o novo aporte do Tesouro ao BNDES determinado por Guido Mantega, o ainda Ministro da Fazenda, serve para a brutal relativização do discurso otimista de  recuperação em Dilma II.

     Ficam soltas no ar as palavras de Levy em defesa do equilíbrio fiscal e na afirmação de que a prioridade agora é reduzir aportes nos bancos públicos, para baixar a dívida bruta.

     A resposta de Mantega reflete a realidade – e põe realidade nisso – econômico-financeira do Brasil sob Dilma. A MP 661 autoriza a União a conceder crédito de até R$ 30 bilhões ao BNDES, com ulterior manobra para fechar as contas de 2014. Essa infausta MP autoriza a equipe econômica a utilizar receitas do chamado superávit financeiro para o pagamento de despesas primárias obrigatórias, como pessoal e previdência, por exemplo.

     Assinale-se que na visão de técnicos do orçamento essa MP fere os princípios da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). No parágrafo único do artigo 8º , a LRF estabelece que “os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer  o ingresso.”

  

 

  Queda na cotação do petróleo

    

      A queda nas cotações do petróleo – de US$ 115.06 o barril (19.Jun) para US$ 70.15 (28.Nov.) – é acompanhada com atenção pelas principais potências. A Arábia Saudita estaria apostando na queda dos preços para inviabilizar economicamente a produção não-convencional americana que se apóia em tecnologia cara, baseada na fragmentação hidráulica de rochas subterrâneas. Por outro lado, o gás não-convencional estadunidense deixaria de ser rentável com uma cotação do petróleo em torno de US$ 40.00

     Nesse aspecto, é mister ter presente que o fato de ser gravoso não impediria prima facie a produção americana, que atende igualmente a considerações de autonomia energética.

     A queda na cotação obviamente favorece aos compradores (China, Japão e Africa do Sul). Por sua vez, para o Brasil, o menor valor do petróleo prejudica ulteriormente a Petrobrás, já fragilizada por sua instrumentação pela corrupção. Além disso, a descoberta do pré-sal encontra uma dificuldade adicional. Se os depósitos do pré-sal nos chegam em momento em que os combustíveis fósseis são menos atraentes, por considerações ambientais, a acrescida baixa na cotação – dados os custos adicionais implicados na sua explotação – torna os projetos respectivos menos atraentes economicamente.

     O despencar nas cotações do ouro negro pode ter boas consequências para o entorno da Rússia. Com o recuo nos preços – o petróleo é o principal bem da exportação russa (metade de suas receitas procedem do petróleo) e as sanções de Washington e da U.E. lhe têm afetado a economia  – acresce o temor da recessão naquele país, cuja economia já está fragilizada pelas sanções tópicas aplicadas por motivo do imperialismo de Moscou (anexação da Crimeia) e a invasão da Ucrânia oriental. Caso Putin venha a desistir de sua aventura imperialista por causa da debacle petrolífera, e se as relações com a Ucrânia se normalizarem dentro da norma de respeito às respectivas soberanias,  seria decerto um efeito virtuoso da crise no que tange às oscilações do ouro negro. Não obstante, é mister reconhecer que há demasiados se nesta equação política, mormente se tivermos presentes as atuais características desse poder regional[1]na área europeia oriental. Além disso, a dinâmica política dificilmente transformaria Vladimir Putin de lobo em cordeiro, mas não se pode dele excluir um recuo forçado pelas circunstâncias. É oportuno lembrar que a queda do petróleo há três décadas não só está na base da crise da dívida no México, mas também teria sido um dos fatores que  contribuíu para a dissolução da União Soviética, em 1992.

       Por outro lado, a baixa nas cotações tem afetado negativamente o Irã e a Venezuela.  Esses países têm projetos de atuação externa (Teerã) e interna (Caracas), que serão atingidos (e reduzidos) pelo impacto da queda nas cotações. A Venezuela de Maduro está longe da situação de gastança exterior dos tempos de Chávez.  Cuba, o regime gerontocrático do Caribe, já deve estar sofrendo as consequências, eis que o sindicalismo autoritário de Nicolás Maduro carece das minguantes rendas externas desta monocultura para alimentar as classes C e D e manter-lhes o indispensável apoio à custa de subvenções cada vez mais onerosas.

 

 Decisão Importante e Oportuna

 

         Segundo informa Monica Bergamo em sua coluna na Folha, a Comissão Nacional da Verdade, que investiga crimes cometidos durante a ditadura militar, vai recomendar que todas designações das obras públicas do país que tenham o nome de presidentes militares ou de pessoas envolvidas com torturas e desaparecimentos sejam alteradas.       

        Dentre as obras citadas, estão a rodovia Presidente Castelo Branco, o Elevado Costa e Silva (o Minhocão),  e a rua Sérgio Fleury, os três em São Paulo. E  em Brasília, a ponte Costa e Silva.

                Por esses Brasis afora, existirão muitas outras obras públicas, que devem ser testemunhos de democracia.

        Antes tarde do que nunca.

 

Onde estão os nossos craques?

 

       Renato Maurício Prado comenta em sua coluna que, no Brasil, os craques desapareceram.

       Atualmente, o único craque indiscutível é Neymar. Revendo a atuação de nossa seleção na recente Copa do Mundo no Brasil, a disparidade de Neymar para o restante do elenco é manifesta. A maior parte das jogadas seriam construídas em torno do antigo craque do Santos e hoje do Barcelona.

       Por fatos alheios à sua vontade, Neymar apareceu no início do certâmen, mas nunca mostrou o jogo do Torneio das Confederações. A grande parte das jogadas eram realizadas por seu intermédio. Quanto aos outros citados – e que estão na lista de revista inglesa – e com a possível inclusão de Oscar – incluiria apenas Paulo Henrique Ganso.

       A seleção de Felipão não tinha meio-campo, e Ganso é ótimo jogador de meio-campo. O próprio Renato alude à possibilidade  de que Ganso venha a integrar a lista. Uma contusão atrapalhara a volta de Ganso à seleção, mas dada a sua recuperação – e muitas de suas atuações no São Paulo o confirmam – ele faz por merecer  nova inclusão. Afinal, chamar um potencial grande nome para a seleção - nesse deserto de craques - deveria ser retentado.

       A propósito da falta de grandes nomes na Seleção, por vezes o fenômeno não é casual. Na Copa da África do Sul, o técnico (Dunga) parecia preferir um grupo coeso e submisso a convocar jogadores de melhor nível. Lembram-se do jogo Brasil x Holanda de então ? Depois do gol sofrido por Júlio Cesar e a expulsão (merecida) de jogador nosso, não é que Dunga olhou para o seu banco de reservas e, por força de muitas estranhas convocações, não havia literalmente ninguém no banco que servisse de solução para a situação de crise...

        Talvez essa crise de valores no Brasil da atualidade se reflita também no futebol. Só para citar, em 1950, os craques Juvenal (beque), Danilo (meio campo), Ademir e Jair da Rosa Pinto, sem esquecer o ponta direita titular Tesourinha, que não pôde então jogar, por estar contundido, e em 1958, quando conquistamos o mundo e a copa na Suécia com Gilmar, Bellini, Newton Santos, Didi, Garrincha e o garoto Pelé?

        Hoje, o Brasil virou exportador de jogadores. A quantidade é enorme, e inclusive a Fifa aceita a prática da naturalização futebolística, de que há inclusive exemplos de jogadores brasileiros na Alemanha e na Espanha, para só citar entre os grandes. Nos pequenos, comparece até a Croácia... Mas quanto à qualidade, as nossas últimas seleções não se comparam aos times do passado. Estamos acaso na entressafra?

        O vexame do 7x1 contra a Alemanha, pensando bem, não aconteceu por acaso. Sob o imenso peso da expectativa nacional colocada sobre os ombros da nossa não tão brilhante seleção, e com orientação técnica defasada (levar quatro gols em dez minutos, perdoem-me Felipão e os defensores da seleção, é inaceitável). Recordo que em Porto Alegre, com jogadores de muita vontade e baixa técnica, a Argélia foi para a prorrogação com a ‘maravilha alemã’. Se nessa última fase, levaram dois gols, ainda fizeram um, que estufou a rede. O segredo dos argelinos? Disposição, raça e boa orientação técnica, que surpreendeu a esquadra (e o técnico ) alemães.  Se os teutônicos entraram no Beira-Rio com empáfia, saboreando a goleada (que não veio), no fim os argelinos deixaram o campo com a cabeça erguida: Alemanha 2x1 Argélia. E além da determinação dos jogadores, não lhes faltou o esquema tático que o técnico do time argelino soube dar.

              Será por acaso que o Brasil não consegue vencer e levar o caneco quando joga em casa? Em 1950, prefiro dizer que lá estava o Sobrenatural de Almeida, porque o time brasileiro era de longe o melhor do torneio (2x0 sobre a Iugoslávia, 6x1 contra a Suécia, 5x1 contra a Espanha e por fim, um chute chocho do senhor Ghiggia,  aos 36 do segundo tempo decretou a tragédia nacional, vista por um Maracanã calado, com prá lá de duzentas mil pessoas. Aquele campeonato foi decidido por um tetragonal. Fomos o único time que chegou ao final invicto, enquanto a Celeste se arrastou, até empatando com um dos outros integrantes da chave (Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia).

               Não importa, estava escrito.  Que o Obdúlio Varela, o capitão, tudo fez com a costumeira catimba, para irritar os nossos jogadores. Que Friaça faria o gol aos cinco do segundo tempo, que Schiaffino empataria aos dezesseis, e lá, perto dos quarenta, o ponta Ghiggia, nos veio com chute despretensioso, que Barbosa aceitou, e lá se foi o nosso sonho...

               Era outro Brasil, bem menor do que o atual, mas, assim como na última Copa, a expectativa nacional – esperava-se a vitória da Inglaterra, que foi derrotada pela zebra Estados Unidos, se não me engano em Minas – foi crescendo até confluir em um Maraca hiper-lotado... A confiança, como de hábito, era total, irrestrita. Não se pensou sequer na tradição da Celeste e das partidas sempre duras e de resultados imprevisíveis. A instrução era jogar bonito, para fechar com chave de ouro a campanha. A concentração  arranjada em São Januário – o técnico era Flavio Costa –  como local  ultra-exposto, e, portanto, inadequado. Dentro da atmosfera de obaoba, o que dizer da preservação psicológica dos jogadores, se literalmente na véspera da partida decisiva permitiram que se mimoseasse nossos atletas com a incrível distribuição antecipada das faixas de campeão?

                 Se não há dúvida que era um outro Brasil,  já carregávamos muitos de nossos defeitos, como o hiper-otimismo... E quem diria, se visse as partidas anteriores, que o resultado podia ser diferente? Gostosamente, sonhamos com o caneco, e  esquecemos que eles nos conheciam bem, e que os jogos com a Celeste costumavam ser equilibrados,  difíceis e imprevisíveis. Tudo isso foi esquecido, levado pela corrente das apoteóticas goleadas contra os suecos e a Fúria espanhola, com o Maracanã cantando a marchinha das touradas de Madri...

               No domingo, tudo sairia diferente. E não é que os uruguaios nos castigariam com uma palavra nova, o Maracanazo?

               O tempo passou e me perdoem, mas será mesmo por acaso que as cinco estrelas na malha canarinho, nós as conquistamos em plagas estrangeiras?

 

( Fontes: New York Times, O  Globo; Folha de S. Paulo )   

 

 

 

 

 

 



1 Referido por Barack Obama, que sinaliza a condição da Rússia de potência regional e não mis mundial.
 

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