Mais uma vez o Talibã ataca no Paquistão. A região visada, desta feita,foi o Peshawar, no nordeste do país, em área
próxima à fronteira com o Afeganistão.
Embora
simplificadas pela imprensa, naquelas paragens as responsabilidades são muitas.
Em passado recente, com o intuito de dar abrigo ao talibã perseguido pelo
Ocidente no próprio país, o ISI, órgão estatal paquistanês,
responsável pela contra-informação e
espionagem (que constitui, em país militarizado, um poder virtualmente
autônomo), tratou de abrir a fronteira com o Afeganistão, havendo o previsível
influxo maciço de refugiados talibãs para o território paquistanês.
Ali os drones[1], uma espécie de justiceiro das forças militares da Superpotência, são mais temidos
pelos talibãs do que a guarnição local. Daí o enfraquecimento da presença do estado
paquistanês em Peshawar, zona em que, dentro do relativo desgoverno, o poder do
talibã é componente relevante da complicada relação.
No bárbaro
ataque à Escola Pública de Graduação do
Exército – e a sua seleção como alvo não foi decerto por acaso – o escopo
do talibã foi o da represália. Sem
alterar-se, o porta-voz do Talibã paquistanês, Muhammad Umar Khorasani,
explicou para a mídia o “porquê” da ‘operação’: ‘Escolhemos a escola do
Exército para o ataque porque o governo está alvejando nossas famílias e
mulheres. Nós queremos que eles sintam dor.’
Cerca de 145
pessoas foram abatidas pelos militantes jihadistas do Talibã
paquistanês. Depois de galgarem os muros do colégio militar, partiram para a
matança: 132 dos chacinados eram
crianças e jovens, entre dez e vinte anos, a maior parte com disparos na
cabeça. Por sua vez, escaparam feridos 121 alunos e três funcionários.
Contra o
comando suicida, o exército paquistanês levou o dia inteiro para assenhorear-se
do local e retomar-lhe o controle. Após cerca de oito horas de tiroteio
intenso, foram mortos todos os jihadistas, e as forças da lei paquistanesa
puderam afinal retirar do complexo
escolar os sobreviventes: 960 seres humanos, entre alunos e
funcionários. Encaminharam, então, os feridos
– e são muitos - aos hospitais da região.
Há
discussões sobre que tipo de talibã seja o pior. Treinados pela guerra declarada por George W. Bush, após determinada a respectiva cumplicidade[2] no ataque às
Torres Gêmeas, o talibã acabou por se tornar a principal força em terra afegã.
Hoje está presente também no Paquistão, a princípio induzido pelos potentados
locais, que pensaram fosse possível empregá-los como forças auxiliares nas suas
diversas lutas.
Todos esses
artífices – a começar pelos americanos – de certa forma prepararam o talibã
para o que ele é hoje: alguém saído da Idade Média em termos de tolerância com
o outro, armado, no entanto, com os engenhos da modernidade. Para muitos, um monstro; para outros, a
esperança de afirmação étnica e cultural (se bem que a cultura aqui entre como
composto de crenças e costumes).
Neste
sinistro ambiente, surgem tipos que pensam poder instrumentalizá-los. O
resultado de tais atividades, em geral ditas bem-intencionadas, está aí, para
gáudio de uns, e para a condenação de
muitos.
( Fontes:
O Globo, The New York Times,
Folha de S. Paulo)
[1] Aviões armados e não-tripulados.
Teleguiados, são uma espécie de xerife, à cata de terroristas. Ao contrário dos
bandidos do Velho Oeste, aqueles devem enfrentar armas muito mais potentes do
que as Winchester do Século XIX.
[2] De uma forma um tanto
indireta, pelo suposto abrigo que foi dado ao chefe da al Qaida, Osama ben Laden.
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