quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O Relatório do Comitê de Inteligência

                       

         Após exame pelo Senado que durou cinco anos, foi afinal divulgado relatório com mais de seis mil páginas. Trata das atividades da Central Intelligence Agency (CIA) durante o governo George Bush. Pressionada pela Casa Branca de então, a CIA na ânsia  de obter informações recorreu a diversos tipos de tortura, muitos deles mais brutais e com resultados muita vez menos eficazes do que o transmitido à presidência Bush.

        A presidente do Comitê de Inteligência, a Senadora Diane Feinstein (Dem/Calif.) apresentou formalmente esse documento. A data da divulgação se deve sobretudo à iminente passagem dos cargos diretivos do Senado ao Partido Republicano, por força de sua vitória nas eleições intermediárias de novembro último.

        Esse longo e abrangente relatório (seis mil páginas!) resulta de solicitação do Presidente Barack Obama, e se destina a  avaliação do trabalho da CIA e, em particular, do amplo emprego da tortura por intermédio dessa agência no Governo Bush jr.

        Como todo esse esforço provavelmente iria para a gaveta, se os democratas não o publicassem agora, em função da atitude do GOP, a que as conclusões dessa análise não agradam pelo que implicam de condenação ao 43º Presidente dos Estados Unidos, George Walter Bush, assim como pela divulgação do papel da CIA, notadamente no recurso a diversos métodos particularmente cruéis de tortura aplicada nos suspeitos de terrorismo, muitos deles em que o barbarismo dava as mãos à ineficiência em termos de confissões e indicações de paradeiro de Osama bin Laden. É de notar-se, aliás, que a tortura nada teve a ver com a posterior identificação - já na administração Obama - do paradeiro do chefe da al Qaida.

        Empenhados a fundo na tortura, muitos dos chefes na Administração Bush tinham a preocupação patética de negar a evidência. Sem embargo, a despeito de terem construído dúbia rede de pareceres de juristas, a quem se cometera buscar e conferir  bases legais para  atividade profundamente contrária ao ethos da civilização ocidental e dos valores que, batendo no peito, diziam representar, tudo não passava de uma farsa de que o arcipreste era o próprio presidente americano em funções.

        O peso da maldição da prática sistemática da tortura a recair sobre o governo muita vez o deixava transpirar o próprio Presidente em chefe, quando reiterava para o público,  não raro sem correlação aparente, que não aprovava o emprego de qualquer forma de tortura. Por isso, tampouco era pela tortura que se realizavam os interrogatórios. No processo psicológico tangido pela obsessão de livrar-se da acusação, o presidente pateticamente a corroborava, inferência esta que pairava no ambiente, pelo conjunto de atitudes que para os observadores mais vincavam o que ele buscava negar.

         Agora, o relatório do Comitê de Inteligência do Senado Federal, salvo na vigésima-quinta hora das gavetas do GOP, mostra a indigência dos métodos interrogatórios da CIA. A par de trazerem  muita humilhação, infelicidade, sofrimento para  os  suspeitos, os resultados eventuais não correspondiam à violência dos métodos da CIA. Com efeito,   se a culpa, no atos dos esbirros, carecia de ser estabelecida de forma geral e irrestrita, malgrado  as tecnologias por vezes sofisticadas, a aplicação amiúde inepta e desordenada os fazia  fracassar no seu objetivo. Tal se deveu notadamente à circunstância de que a CIA, no seu afã de produzir resultados, não dispunha da necessária preparação para esse tipo de atividade.

          A par de considerações éticas, imersa no desejo de mostrar serviço à Administração George Bush, a CIA não se terá dado conta de que não estava preparada para enfrentar tão sinistro desafio. Com efeito, por mais que se esforce, a CIA não é o KGB.

 

( Fontes: The New York Times, Folha de S. Paulo )    

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