Após exame pelo Senado que durou
cinco anos, foi afinal divulgado relatório com mais de seis mil páginas. Trata
das atividades da Central Intelligence
Agency (CIA) durante o governo George Bush. Pressionada pela Casa Branca de
então, a CIA na ânsia de obter
informações recorreu a diversos tipos de tortura, muitos deles mais brutais e
com resultados muita vez menos eficazes do que o transmitido à presidência
Bush.
A presidente
do Comitê de Inteligência, a Senadora
Diane Feinstein (Dem/Calif.)
apresentou formalmente esse documento. A data da divulgação se deve sobretudo à
iminente passagem dos cargos diretivos do Senado ao Partido Republicano, por
força de sua vitória nas eleições intermediárias de novembro último.
Esse longo e
abrangente relatório (seis mil páginas!) resulta de solicitação do Presidente
Barack Obama, e se destina a avaliação
do trabalho da CIA e, em particular, do amplo emprego da tortura por intermédio
dessa agência no Governo Bush jr.
Como todo esse
esforço provavelmente iria para a gaveta, se os democratas não o publicassem
agora, em função da atitude do GOP, a
que as conclusões dessa análise não agradam pelo que implicam de condenação ao
43º Presidente dos Estados Unidos, George Walter Bush, assim como pela
divulgação do papel da CIA, notadamente no recurso a diversos métodos
particularmente cruéis de tortura aplicada nos suspeitos de terrorismo, muitos
deles em que o barbarismo dava as mãos à ineficiência em termos de confissões e
indicações de paradeiro de Osama bin
Laden. É de notar-se, aliás, que a tortura nada teve a ver com a posterior identificação
- já na administração Obama - do paradeiro do chefe da al Qaida.
Empenhados a
fundo na tortura, muitos dos chefes na Administração Bush tinham a preocupação
patética de negar a evidência. Sem embargo, a despeito de terem construído
dúbia rede de pareceres de juristas, a quem se cometera buscar e conferir bases legais para atividade profundamente contrária ao ethos da civilização ocidental e dos
valores que, batendo no peito, diziam representar, tudo não passava de uma
farsa de que o arcipreste era o próprio presidente americano em funções.
O peso da
maldição da prática sistemática da tortura a recair sobre o governo muita vez o
deixava transpirar o próprio Presidente em chefe, quando reiterava para o
público, não raro sem correlação
aparente, que não aprovava o emprego de qualquer forma de tortura. Por isso,
tampouco era pela tortura que se realizavam os interrogatórios. No processo
psicológico tangido pela obsessão de livrar-se da acusação, o presidente
pateticamente a corroborava, inferência esta que pairava no ambiente, pelo
conjunto de atitudes que para os observadores mais vincavam o que ele buscava negar.
Agora, o
relatório do Comitê de Inteligência do Senado Federal, salvo na vigésima-quinta
hora das gavetas do GOP, mostra a
indigência dos métodos interrogatórios da CIA.
A par de trazerem muita humilhação,
infelicidade, sofrimento para os suspeitos, os resultados eventuais não
correspondiam à violência dos métodos da CIA. Com efeito, se a culpa, no atos dos esbirros, carecia de
ser estabelecida de forma geral e irrestrita, malgrado as tecnologias por vezes sofisticadas, a
aplicação amiúde inepta e desordenada os fazia fracassar no seu objetivo. Tal se deveu
notadamente à circunstância de que a CIA, no seu afã de produzir resultados, não
dispunha da necessária preparação para esse tipo de atividade.
A par de
considerações éticas, imersa no desejo de mostrar serviço à Administração
George Bush, a CIA não se terá dado conta de que não estava preparada para
enfrentar tão sinistro desafio. Com efeito, por mais que se esforce, a CIA não
é o KGB.
( Fontes: The New York Times, Folha de S. Paulo
)
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