Se
abstrairmos os impedimentos éticos – e o quadro nos força a essa conclusão - o escândalo
da Petrobrás terá surgido por misto de húbris
e de simples obtusidade mental. A mais elementar prudência – dentro da
norma ibérica de que até por velhacaria convém a uma pessoa ser honesta – foi abandonada
pela malta dos companheiros petistas, guindados por demasiado tempo a posições
de mando a cujas tentações obviamente não estavam psicologicamente preparados.
As sereias de
Brasília não se aninham, com o seu canto enganoso nas ondas azuis do Egeu, mas
em outros rochedos que dispõem de uma tão falsa quanto atraente construção que
infunde aos que nela caem a fugidia impressão de um poder sem travas e limites,
prometendo através de seus sinuosos encantos miríficas riquezas sem os
alicerces do trabalho.
Se a esta
falsa onipotência, os caprichos das eleições agregarem as inopinadas
oportunidades que a sorte ou a incompetência do adversário carrearem para as
mãos ávidas dos companheiros, as probabilidades de que as ocasiões de ganho ilícito vão crescer não mais aritmética mas
geometricamente.
Como no jogo
da roleta, a fortuna é má conselheira tanto para o aprendiz quanto para o
mestre. Cada um no seu poleiro se deixa docemente vencer pela tentação do
acréscimo. Se por vezes negaceia, aí está a voz macia a desenhar miríficas
riquezas.
Afastadas as
barreiras éticas, a corrente dos sucessos tende a transformar o ganho ilícito
em simples acidente de percurso, daqueles que se contemplam à distância, por
trás da vidraça bem cerrada da limusine que corre não se sabe bem para onde.
E assim o
poder corrompido envolve peões, soldados rasos, mas também a chefetes e
executivos, até alcançar quem pensa desenhar as grandes linhas do Leviatã.
A corrupção,
quando o poder se torna absoluto, se deforma em um crescimento sempre mais
rápido e invasivo. A desmedida, assim como está na máxima do Lord inglês, se acha também nos seus mais modestos
operários. Do amo e senhor ao criado, a distância e a necessária culpa podem
ter dimensões diversas, mas a autoridade
que soube evitar esse sórdido amasso na obscuridade ambiente há de brilhar com
a forte luz que marcará posições e demarcará perante a opinião pública as
companhias de culpados, tanto grandes, quanto pequenos.
É a hora da
justiça, que é serva do momento. Aqui não tem valia as senhas, as palavras de
ordem, o aparelhamento do estado, as ilusões de um poder acima das
contingências. Ao mudar de vestes, trocando as rotas da oposição pelo fastuoso
veludo do mando, terão esquecido a norma simples do bom governante.
Bem administrar
é gerir a coisa pública como ela o é, sem distinções entre companheiros e
não-companheiros. Não há, nesta república, senão cidadãos, e todos eles comuns.
As crises – e as revoluções – são as fábricas
de um futuro mais justo e mais igual. Não podemos ser nem surdos aos seus
clamores de justiça, nem cegos à exigência de separar o joio do trigo.
A falha do
Mensalão foi que ficou pela metade. É hora de justiça e não de meias-medidas.
As revoluções
traídas são feridas que ficam expostas aos pósteros. E, por desdita, trazem mais sofrimento. Depois de mostrar-nos
o paraíso, ao permitirem que de novo se cerrem os portões do desengano, recriam
todo o mal que se julgara possível vencer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário