Quando os males são muito grandes, faltam as lágrimas. Submetidos à saraivada de más
notícias sobre a maior empresa nacional, a Petróleo Brasileiro S.A., pode
revelar-se uma estranha síndrome. O ruim diante do pior e mesmo do péssimo passa
a parecer, se não normal, pelo menos quase aceitável.
O cinismo da
atitude daqueles que entoavam loas à grande empresa, enquanto, à socapa, a
submetiam a toda espécie de crimes e velhacarias, foge, pela sua desproporção,
a reações cabíveis e comensuráveis com a debochada largueza da atividade
delituosa.
Nunca se terá
visto tal concentração de todo tipo de velhacaria, a ponto de tornar os
mal-feitos do artigo 171 como cousa de criança.
E será quem
sabe a desmesura da ganância criminosa, assim como a desbragada ousadia – como se
o Brasil houvesse virado imensa Nigéria, e o assalto, roubo e furto ganhassem a
insana certeza não do perdão, mas de funda e extrema ignorância que nada vê e
tudo deixa passar?
A cada jornada, os dias desfiam nas
páginas de jornais e revistas a insolente parada de todo tipo de falcatrua. A
vítima é uma só e se chama Petrobrás. Há poucos heróis e heroínas nesta
estória. Nada mais próprio do que a perseguição da funcionária honesta da
Petróleo Brasileiro S.A. Venina Fonseca. Em tal sociedade, que respostas
poderia receber, senão o especial tratamento que a consignaria aos corredores e
as salas sem espera ? Espantará acaso
que a tenham tratado como pesteada?
Em tal casa, em
que tudo virara de ponta-cabeça, como se poderia ter qualquer esperança quanto
a atitudes sobranceiras e honestas?
E haverá homenagem maior a esta grande criação da boa
política e da brava gente brasileira que a dessa choldra em que os de dentro e
os de fora semelham dar as mãos na faina indigna de despojar o carro-chefe da
missão Brasil ?
Por isso
tampouco há de surpreender a demora em reagir diante de tanta desfaçatez e
desonestidade.
Estará podre
acaso a estrutura e a tal ponto, que temerão nela mexer, com as medidas que se
impõem, pois no ar permanecem grandes dúvidas, a que se agarram, como nos
transes do afogamento, aqueles e aquelas a quem dilaceram as incertezas.
Pensam ganhar
tempo, mas se tudo vai à breca, a começar pelo valor das ações que despencam
tanto no Brasil, quanto no Norte maravilha, e nessa queda impõem cruel, imundo
e desbragado castigo àqueles cujo único erro foi confiar na promessa de uma
grande empresa, surgida da mão de talvez o nosso maior estadista, e hoje em
aparência consignada ao ferro-velho e a campo imenso de muambas e embustes.
Quem antes
muito falava, e até tingia as mãos inequívocas com o petróleo que antes diziam
cá não existir, hoje está calado em sepulcral silêncio. Chô! Eis que nada teria
a ver com esse maldito escândalo.
A começar pela
Presidenta, continuando pela boa amiga, e com elas toda a choldra reunida –
empreiteiras, a imensa e laboriosa diretoria, os representantes do partido
hegemônico, os delatores, premiados ou não, e por aí afora, na terra das
mamatas, maracutaias e boquinhas – que bom e imenso trabalho para o juiz Sérgio
Moro, o Procurador-Geral Rodrigo Janot e os que a eles se associam. Eia pois,
quem sabe, se poderá fechar esse ralo imenso da corrupção.
E antes de
tudo, procuremos, como o mendigo-filósofo, o severo, intemerato juiz que suceder
possa ao Ministro Joaquim Barbosa, que interrompeu o bom combate, tangido
sabe-se lá por que ameaças.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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