O anterior
tratamento dispensado ao Vasco da Gama, na calamitosa presidência do Senhor
Roberto Dinamite, deverá mudar radicalmente, se se pode julgar pela cobertura
da posse de Eurico Miranda pelo Globo.
A despeito das
restrições que se fazem a Eurico, e algumas dessas transpiram na reportagem de O Globo, não há negar pela sua folha de serviços ao clube, e aos
campeonatos conquistados, que estava na hora de virar a página da triste gestão
do senhor Dinamite, que, entre
outros, assistiu impávido – e com pífios, inúteis reclamos – à manobra paulista
de gatunar o CRVG em campeonato
nacional. Ao invés de tomar a seu devido tempo as indispensáveis providências,
o Senhor Roberto Dinamite nada fez, deixando que as diversas obscuras jogadas
tivessem êxito pontual, para ao fim do certame viesse pateticamente a público
declarar que o Vasco era o vencedor moral
do certâmen (quem ganhou, à custa desse suposto favorecimento, foi o
Corinthians). Como tal não existe – a lista inclui os reais vencedores, e não
os supostos ganhadores morais – os louros foram para o Corinthians, graças aos
tópicos (e muitos) gols anulados contra o CRVG em diversas partidas, além de pênaltis
não vistos por peculiares árbitros, etc. Tudo isso correspondeu a cerca de 7 a
8 pontos perdidos, e sobre esse leite derramado o caberia a reivindicação pontual e enérgica, para matar
no nascedouro a estranha manobra oriunda ao que tudo indica de São Paulo.
O senhor
Dinamite reservou, outrossim, ulterior surpresa ao Vasco. No penúltimo dia da gestão
desse senhor, foi assinado entre o clube e advogado acordo judicial, com
confissão de dívida, e tal apressada assinatura precedeu mesmo a própria
citação do CRVG pela Justiça. E – ainda segundo o artigo – Eurico, ao
convocar a entrevista e ao reportar-se ao que denominou de ‘denúncia de conluio’, foi tornado transparente uma questão pelo
menos dúbia, eis que toda a pressa que cercou o reconhecimento da dívida –
prescindindo até da citação judicial – forma atmosfera para esse conciliábulo de ultra fim de reino que se torna, no
mínimo, dúbia, pela pressa demonstrada para a firma desse ato, literalmente ao
cerrar das cortinas da sua inglória gestão.
A cerimônia da posse
demonstra, por outro lado, que a presidência do Vasco volta a ser ocupada por
alguém que, a despeito das reservas que provoca, merece respeito, como o
evidenciam as presenças do vascaíno Prefeito Eduardo Paes e do Ministro dos Esportes
Aldo Rebelo, palmeirense, mas dito simpático ao CRVG no Rio de Janeiro.
Há a notar, a
propósito, reportagem publicada em ácida
linguagem, como se de correspondente de presença forçada em solenidade de clube adverso. Ao contrário do
sabujismo com que a Rede Globo e afiliados
tratam o Flamengo, a parcialidade evidenciada reponta em muitos parágrafos, que
se assinalam por má-vontade e tendência de ressaltar os supostos aspectos
negativos da cerimônia. Tal se deveria à
citada atitude pregressa, que desfaz do Vasco em qualquer conexão. O Globo parece esquecer que uma organização
como a sua não deveria agir e manifestar-se de forma tão acintosamente
favorável a um clube, que por acaso é tido como o de maior torcida. Como veículo
público que são, as Organizações Globo não seriam a sucursal do Flamengo, nem a
parcial observadora do esporte no estado do Rio de Janeiro. Quem sabe, a agressiva atitude da reportagem se
deva a uma subjetiva reação contra o novo Vasco, que voltará para ocupar o seu
lugar no esporte (e futebol) carioca, e não o posto lamentável em que a
desastrosa gestão do Senhor Dinamite o colocou nesses últimos anos. Será que
isso incomoda aos coleguinhas de O Globo
?
A intensificação da repressão política na China
O livro de Evan
Osnos, recentemente resenhado neste blog,
já demonstrara que a chegada ao poder de Xi
Jinping – a despeito das esperanças de turno – não se traduzira em qualquer
mudança para melhor na política repressiva e no férreo controle da censura sobre
os meios de informação.
Verifica-se, de resto, pela análise do jornalista americano – que esteve
por cinco anos, de 2008 a 2013 na China – onde aperfeiçoou o seu conhecimento
do mandarim, além de viajar para todas as áreas que possam ser visitadas pelos
correspondentes estrangeiros, da importância desse momento na trajetória da
atual segunda potência mundial econômica.
Não sei se o
livro de Osnos será traduzido para o
português, mas a amplitude de sua cobertura da realidade chinesa – e em
especial as expressões do dissenso – estaria por merecer tal atenção.
De certa
forma, malgrado as expectativas e o esforço hercúleo (e corajoso) de chineses que
lutam para trazer uma parecença de democracia para o chamado Império do Meio, essa porfia será
necessariamente longa e cheia de percalços para os que nela se empenhem. Liu Xiaobo, a quem coube o dúbio
galardão de ser metido em masmorra por propor reformas democráticas
bem-comportadas (no que sucede ao seu longínquo predecessor Carl von Ossietski, a quem Hitler e os
nazistas jogaram em campo de concentração, além de não permitirem que o
dissidente ou representante seu fosse a Oslo). Como se vê os extremos, tanto o
de direita, quanto o de esquerda têm atitudes parecidas. O fundamento delas é o
medo.
A ritual
esperança que cerca os novos governantes não constituíu exceção para Xi Jinping, no tocante ao antecessor Hu Jintao. Na verdade, ambos são
expressão de uma direção burocrática, imposta por um partido, cuja ideologia se
restringe – depois do desastre de Mao Zedong – ao poder repressivo e no
consequente autoritarismo.
Osnos mostra
que existe uma vivaz presença na internet – onde se expressa com mais
desenvoltura o dissenso, malgrado as muralhas de fogo e os vetos do PCC a tudo
que possa revelar oposição à direção verticalista dessa ditadura cuja ideologia
se cinge à repressão. Como Zhao Ziyang – o alto dirigente
partidário mandado prender pelo então líder supremo Deng Xiaoping - havia intuído a grande reforma na China
deve passar pelo PCC, que na sua presente versão funciona como virtual
preservante da corrupção.
Desde o começo
de sua gestão, Xi Jinping incentivara ‘confissões’ em encontros com populares chineses,
escolhidos a dedo para estranhas
reuniões. Se a prática – que se inspira em Mao – não progrediu com Xi,
bastaria o seu aparecimento fortuito para afastar quaisquer ilusões
liberais de possíveis mudanças na direção política.
Na internet, se expressam, com precauções
variáveis, os potenciais dissidentes. Dado o temor pânico manifestado pelo PCC
quando da primavera árabe – e de outros fenômenos correlatos – se tem idéia da
inconfessa fraqueza do regime, que tem o medo paranoico do novo e sobretudo da democracia,
que seria a antítese da ordem atual, que pode evidenciar em diversos planos com
os dissidentes – como Ai Weiwei, artista respeitado e de alta linhagem na ordem
comunista, e Chen Guangcheng, o advogado cego, que por orientar os camponeses
de sua vila padeceu cruel repressão, e foi salvo pela própria coragem e
artifício, na sua fuga rocambolesca que o levou, sob as bênçãos da então
Secretária de Estado Hillary Clinton para o exílio em New York – que fora do
Partido não há salvação (excluídas pouquíssimas exceções... devidas sobretudo à
intervenção da potência americana).
Agora, Xi
Jinping mostra como o ‘liberalismo’ (que lhe fora esperançosa e ritualmente
pespegado em início de mandato) não passa de uma ilusão, eis que em um
acirramento ponderável na repressão, o
governo mandará doravante profissionais de tevê, cinema e rádio para a ‘reeducação’
para a respectiva reeducação na campanha chinesa. Não se sabe se essa prática
seguirá a cartilha de Mao ou a de outros regimes comunistas, como o cambojano.
De qualquer forma, temos pela frente um cruel, bárbaro retrocesso nas poucas
liberdades permitidas na área da cultura e da comunicação, e de que o livro de
Evan Osnos um quadro veraz, ainda que esperançoso em certos aspectos.
A liderança
chinesa teme sobretudo a ameaça da democracia, em todos os seus avatares. Por
isso, é previsível que os dissidentes que atuam na internet estarão mais expostos
às bárbaras práticas repressivas dos órgãos de controle, que pelo simples fato
de não terem endereços formais pensam retrair-se para melhor invadir a
privacidade dos infelizes que acreditam no desejo irrepresso da liberdade, esse
flagelo das ditaduras, que por causa dele perdem o sono, enquanto se lançam na
busca frenética da repressão sem limites.
Sabemos
como tudo isso há de terminar. O problema está nos prazos.
( Fontes: O Globo, Evan Osnos (em Age of Ambition) )
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