sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Será que Trump enlouqueceu ?

Se não enlouqueceu de vez, Trump deverá entrar para o folk-lore americano como a epítome do mau jogador, daquele a quem não repele recorrer aos métodos mais sórdidos e que no afã de recuperar a presidência, está disposto a afrontar todos os riscos, até mesmo aquele supremo do ridículo, em que uma lamentável figura da política mergulha em todos os truques possíveis, na sua desabalada corrida para querer transformar ressonante, para ele imsuportável tunda que recebeu do sorridente Joe Biden em uma desprezível "vitória de trapaceiro" em algum pífio saloon, em alguma parte perdida, de um Western de quinta categoria. Esse velho espectro de que a falsidade é uma característica comum, que principia na inexistente cabeleira loura, e de uma certa forma guarda o inquietante artificialismo do mau perdedor. O originalismo de Donald Trump está aí. Ele fará todo o possível para prolongar um mau filme, desde que ele continue a ser o seu protagonista. Ele não está preocupado em transmitir a imagem do bom político, a menos que tal signifique a sua eterna vitória. Que isso venha contra todas as expectativas, e contribua para alienar-lhe sempre mais o Povo americano, parece que não lhe importa. O seu ego monumental - essa laboriosa construção que lhe cobra, de forma incessante, a falta de qualquer senso crítico, de qualquer propensão eventual para o beau geste - menção que, de resto, lhe provocaria gargalhada similar à daquele personagem a quem não inibe à própria congênita insensibilidade a qualquer ato que possa revestir um resquício de nobreza de caráter. Na argila de Mr Trump, se pode ir mais longe, ainda que seja na tela, seja na vida real, pois o que se depara, quer no smirk ultrajante, quer na total falta de sentido de realidade - have you Mr Trump no sense of dignity left? - pode no próprio jogo alucinógeno em que - decerto fora do mundo e, certamente, longe de qualquer cousa que se assemelhe a um resquício de dignidade política - será o triste espetáculo do fim deplorável do projeto político, a que por uma série lamentável de circunstâncias, aparece diante desse mundo, vasto mundo, como o triste exemplo de comportamento que deixou o chão do ridículo para cair nas abomináveis profundezas de personalidade que consegue impressionar pela sua falta de qualidades mínimas em um político, como a de não perder o sentido do ridículo e por fim, como última companheira de uma viagem já sem esperança, a arisca sombra de o que resta de uma trajetoria tão deplorável quanto profunda e marcadamente preposterous. Mr Trump seria um personagem de algum filme, cujo diretor perdesse a esperança de deixar qualquer marca no público, e que sentisse ânsias do desespero pela falta desse personagem de eventual parecença com a realidade. Só mesmo um Fellini se disporia a enfrentar esse anti-desafio... Fontes: o Western americano, na paródia de Mr Donald Trump; Carlos Drummond de Andrade (Fazendeiro do Ar e Poesia até agora).

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