domingo, 22 de novembro de 2020

Alemão: Década Perdida ?

Já atuando com o blog, a Operação Complexo do Alemão foi objeto de parte desse modesto blog de uma entusiasta acolhida, em que saudava a reimplantação da sociedade como um ganho de relevo na Operação levada a cabo pela governança Cabral como um esplêndido show off, em que se buscava dar um sentido mais do que simbólico ao avanço da Cidade - e por conseguinte, da metrópole - sobre o Complexo do Alemão, a que o público via com entusiasmo e, por que não dizer, orgulho de que o Rio oficial recuperasse o controle daquele enorme espaço, que se chama o Complexo do Alemão. A Operação incluíu tudo a que tinha direito o Povo do Rio de Janeiro, que deparava com orgulho - que hoje provoca risotas e escárnio - o avanço tanta da metrópole, quanto da própria cultura carioca sobre o enorme espaço montanhoso em que está o dito Complexo do Alemão. Estávamos no fastígio da governança Cabral e com o apoio de tudo o que imaginar-se possa (inclusive de tanques e veículos pesados das Forças Armadas) o velho Rio de Janeiro, com direito a hino e o escambau asseverava a sua (re)tomada de posse de que então se referia como o Complexo do Alemão, uma zona montanhosa, assinalada por Igreja ao cabo de enorme escadaria - que é ascendida, por vezes de joelhos, para cumprir promessas. Naquela cerimônia, com IBOPE altíssimo, as flâmulas, bandeiras e toda a parafernália festiva se mesclava a um dia de azul brilhante, em que os flocos de algodão que o céu por vezes recobriam se integravam na paisagem de uma jornada triunfal, para ninguém botar defeito. Os povos carioca e brasileiro formavam um cenário triunfalista, com agregações de bondinhos aéreos dentro de um espoucar tonitruante de um otimismo de gente sofrida, que vibrava com o manto de luzes em céu de brigadeiro. Naquele tempo, a crença era inabalável no avanço da Civilização e da Cidade Legal sobre os meandros e as montanhas antes ocupadas pela favela e tudo o mais que os casebres recobriam. Completava a atmosfera de oba-oba essa patética confiança de que desta vez será diferente. A Rede Globo colocou o Alemão como cenário de novela, tanto de longe, quanto de perto. Dessa forma, se implementava o que já se insinuara nos reclames e nos próprios enredos de novelas futuras, em que se inseria o Alemão como um espaço burguês a que também se aferravam. Esse velho-novo bairro virava espaço para os enredos de séries da Globo destinados a tempos mais nobres, no horário noturno. Dentro do oba-oba a que a programação noturna buscava levar à programação, o público era convidado para trazer às suas salas de estar retalhos daquele Alemão que se buscava inserir no espaço lúdico carioca. Sem embargo, houve uma cena que colhida pelas câmeras da TV acabaram por trazer para os espaços da Zona Sul, a presença de um Alemão inserido no dia-a-dia das novelas, que não parecia mandar uma imagem que não se enquadrava dentro do oba-oba que cercara domingo. Com efeito, já terminava o festão, quando as câmeras focaram em uma malta de bandidos que fugia das alturas da encosta do Alemão, correndo seja com as próprias pernas, seja na caçamba de camionetes, seja até em bicicletas e um enxame de lambretas, em grupelhos que chegavam a umas trezentas pessoas, e que desciam a encosta e os barrancos, lépidos e ligeiros, a correrem todos, pernas pra quê te quero, rumo à cidade grande que surgia mais abaixo. A impressão se chocava com o obaoba de antes, em uma autêntica desabalada fuga sabia-se lá muito bem de quê... A todos pareceu que se contemplava a carreira da mala-vita, que pespegava em um público até aquela hora um trecho de filme que de fato não se enquadrava naquele que ora se seguia, e aonde aparecia toda s escumalha de que o programa conjunto fora a própria antítese. Dessarte, na estrada de terra surge gente que não se enquadra no enredo anterior... No seu contraditório, tinha um pouco do grande Fellini aquela cena, eis que ela vinha a contrariar tudo aquilo que a Rede Globo anunciava, e a que os figurantes usuais trombeteavam, com o seu uníssono entusiasmo unânime de tantas matérias que nos contam estórias de que dona Realidade cuidará breve de apagar e de ridiculizar. E hoje, quem por acaso volte ao Alemão, vai ver de novo a favela com o tráfico e o escambau, apagadas depressa tanto as carreiras desabaladas, quanto o cortejo de bandidos, que faz muito já voltou a infestar as áreas do Alemão. Como dizia o outro: é preciso que tudo mude, para que tudo na verdade continue o mesmo... (Fontes: Rede Globo e festanças de um passado que acabou não sendo.)

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